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Olhar Econômico
Um trabalho à luz do sol
O Livro do Caminho e da Virtude (Tao Te Ching), escrito em 300 a.C. declara que a natureza se manifesta espontaneamente, sem uma intenção superior, cabendo ao ser humano integrar-se ao seu fluxo e ritmos, para alcançar a felicidade e uma vida longa. A interação do homem com a natureza, apropriando-se dos seus recursos para transformá-las em algo útil à vida humana é o fundamento do trabalho. Quando o homem saiu do campo e começou a se aglomerar nos grandes centros urbanos, pós-revolução industrial, o trabalho evoluiu, se dividiu e estabeleceu os relacionamentos sociais. A relação do homem coma natureza e seu convívio em sociedade, de forma harmônica, ainda é um grande desafio para a humanidade.
Atuando de forma transversal e surpreendente, a pandemia da Covid-19 colocou de cabeça para baixo os conceitos de vida social reinantes e com isso o homem e a economia estão se readaptando a um novo modelo, ainda indefinido ou em definição. Esse “choque” de realidade aproximou o homem da natureza aumentando suas preocupações com o meio ambiente. Buscar o atendimento às necessidades sem prejuízo à preservação da vida futura. Não por acaso, os governos estão definindo metas climáticas ambiciosas e pacotes de estímulos para evitar uma crise climática global.
Nesse cenário o ecossistema de energia está num ponto de inflexão, na transição para um mundo descarbonizado com forças poderosas conduzindo essa mudança.
Segundo o Relatório “Renewable Energy and Jobs” – Revisão anual 2021 emitido pela Irena (Agência Internacional de Energias Renováveis – www.irena.org) em conjunto a OIT (Organização Internacional do Trabalho – www.ilo.org), no último mês de outubro, o setor de energias renováveis gerou 12 milhões de novos empregos em 2020. No Brasil, segundo dados do relatório foram criados 1,2 milhões de novos empregos. Em paralelo, numa pesquisa realizada pelo Portal Solar (www.portalsolar.com.br), apenas no setor de energia solar até o final de 2021 mais de 5,4 mil novas empresas vão estrear no mercado aumentando em 27% as cerca de 20 mil empresas existentes. Um grande contraste quando vemos o IBGE declarar 14,4 milhões de desempregados, (14,1% de taxa de desemprego) no 2º trimestre/21.
O consumidor de energia também está em evolução: a pesquisa do Grupo Accenture “o novo consumidor de energia” (new energyconsumer: delivering new energyexperiences for future growth) de out/20 mostra que 60% deles estão mais cientes das mudanças climáticas e do impacto ambiental desde o início da pandemia. Mais da metade propensos a investir mais em ações de eficiência energética.
Esses novos personagens do setor de energia, por sua vez, postulam uma evolução nos modelos regulatórios, novas políticas setoriais específicas, abrindo espaço para o mercado financeiro participar diretamente nos negócios, através de investidores interessados em unir rentabilidade com um futuro verde. A energia renovável aplica a teoria da “abundância contra a escassez”, o positivismo de Augusto Compte. Ajuda a diminuir a concentração econômica nos grupos dominantes do setor energético, abre o mercado para múltiplas empresas pequenas e para tecnologia em favor dos clientes. Além de gerar empregos, promove crescimento profissional e o empreendedorismo com negócios coerentes aos princípios de sustentabilidade e respeito ambiental. Reflete uma maior consciência social, demonstrando na prática a união da natureza com o homem, este capaz de redesenhar a realidade que vive, através de sua capacidade criativa e da força do seu trabalho.
Enfim, a Covid-19 ainda não ficou para trás, porém acelerou movimentos de mudanças relevantes nas relações natureza - homem – trabalho – sociedade. O setor de energia participa intensamente desse momento. Numa visão holística, é o princípio do TAO em ação: “... a natureza se manifestando espontaneamente, fazendo o homem integrar-se aos seus fluxos e ritmos”.
Luiz Carlos Lima é engenheiro eletricista, especialista em Gestão e Comercialização de Energia Elétrica
