É possível criar cães de grande porte em apartamento?
Comportamento Especialistas recomendam rotina de exercícios para evitar atitudes destrutivas em casa

Ter um cão de grande porte em apartamento pode ser desafiador. Mas será que é possível criar um Golden Retriver ou um pastor alemão em um imóvel de pouco mais de 50 m²? Os especialistas em comportamento animal dizem que sim, desde que o tutor tenha a clara noção de que o bicho precisa de cuidados específicos para não viver sob estresse.
“Cães grandes precisam de rotina, enriquecimento ambiental, múltiplos passeios diários e estímulos mentais”, explica a médica veterinária Aline Quintela, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Unifacs Salvador.
Ela afirma que o tutor precisa estar disposto a suprir essa demanda. Caso contrário, aquele filhotinho fofo que toda a família sempre quis acolher vai transformar a vida dos humanos em um caos.
Destruidor
Foi o que viveu a fonaudióloga Eveline Nunes, 38 anos, pouco tempo depois de ter adquirido Apolo, um Golden Retriver que, sem o manejo adequado, passou a destruir tudo que achava pela frente. Móveis, calçados e até paredes dos cômodos do imóvel novo foram alvo do cãozinho “destruidor”.
“Ele destruiu o sofá, o colchão, braços de cadeiras, todos os rodapés e portas e partes das paredes”, conta Eveline, que chegou a pensar em colocar o cão para adoção. Hoje, com mudança de rotina e aulas de adestramento, Apolo não apresenta mais os problemas. “Hoje, quando ele pega uma sandália é para chamar atenção e brincar”, diz.
Segundo a veterinária Aline Quintela, esses comportamentos são reflexo de tédio e ansiedade, que causam estresse e excesso de energia física e mental. “Quando o cachorro tem este comportamento é porque ele não está tendo as atividades necessárias de gasto de energia”, explica o adestrador comportamental Rodrigo Dantas, 45 anos, proprietário do Hotel e creche dos Aumigos.
Ele recomenda que antes de adquirir o animal, o tutor busque informações sobre o perfil da raça e verifique se terá condições de oferecer a rotina adequada ao animal. “Pensem bem antes de escolher a raça e o porte do seu cachorro, quanto maior o porte, maior o trabalho”, diz Eveline, tutora de Apolo.
Foi o que fez a fisioterapeuta Juliana Grimaldi, 41 anos, que antes de adquirir Fubá num canil autorizado, passou seis meses estudando tudo sobre a raça. “Fubá sempre foi um cachorro equilibrado e adestramos desde o primeiro dia que o pegamos”, conta Juliana.
Além de manter uma rotina de passeios diários, nos quais ele fareja muito, Fubá frequenta a creche Club do Focinho quatro vezes por semana, quando socializa com outros cães. “Tudo isso é estímulo mental”, ensina.

Solução mágica
A creche pet é uma alternativa, mas não uma solução mágica. A fisioterapeuta Juliana buscou o espaço para Fubá por entender que apenas os passeios não seriam suficientes para assegurar a saúde mental do cão.
“O tutor precisa entender que o animal está tentando lidar com uma frustração — não se trata de "vingança" ou "birra"”, explica a veterinária Aline Quintela, referindo-se a comportamentos destrutivos.
Conforme recomenda, o ideal é buscar orientação com um médico-veterinário e, se necessário, um profissional em comportamento animal. É importante adotar uma série de mudanças na rotina do animal, com estímulos constantes. Além da creche, Juliana também investiu no adestramento desde filhote.
O enriquecimento ambiental e a estruturação da rotina são fundamentais para reduzir o estresse. Mas muita gente desconhece e faz do cão um bicho estressado, provavelmente o caso do Golden que atacou o dócil Fubá durante um passeio.
DR. PET
Veja o que você precisa saber para ter um cão calmo
Quais as recomendações a pessoas interessadas em ter animais de grande porte num espaço pequeno? Que providências elas precisam tomar?
Primeiro, é necessário avaliar com sinceridade a própria rotina. Um tutor ausente por longos períodos, com pouca disponibilidade para atividades ao ar livre, pode não conseguir atender às necessidades de um cão grande. Os cães precisam ter uma rotina de passeios, adestramento positivo, brinquedos interativos, uso de enriquecimento alimentar (como comedouros lentos ou brinquedos recheáveis), além de visitas regulares ao médico veterinário.
O que é importante avaliar antes de tomar a decisão de adotar um cão maior?
Primeiro, pesquise sobre o perfil comportamental da raça ou do animal antes da adoção. Nem sempre cães pequenos são mais calmos, e alguns grandes são surpreendentemente tranquilos. Avalie sua rotina, sua disponibilidade de tempo e seus recursos financeiros.
Que consequências o manejo inadequado pode trazer à saúde do pet?
O sedentarismo e o excesso de energia acumulada contribuem para uma série de problemas físicos e comportamentais, tais como obesidade, alterações ortopédicas, doenças cardiovasculares e ansiedade.
Fonte: médica veterinária
Aline Quintela