Ter um jabuti exige autorização legal dos órgãos ambientais

Espécies silvestres estão presentes em muitas casas brasileiras como animais de estimação

Publicado domingo, 31 de julho de 2022 às 06:00 h | Atualizado em 30/07/2022, 19:17 | Autor: HIlcélia Falcão
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Compra em feiras é ilegal, intensifica o tráfico e é passível de multa e prisão
Compra em feiras é ilegal, intensifica o tráfico e é passível de multa e prisão -

Sabe aquela “tartaruguinha” bonitinha que você ganhou quando era criança e achou que ia ser seu bichinho de estimação? Sinto informar, mas não é tartaruga nem pet. É um jabuti, animal silvestre que pode viver até 80 anos. E mais: a compra em feiras é ilegal e estimula o tráfico de animais silvestres. Então, a dica é nunca adquiri-los desta forma.  Mas se por acaso ele chegou até você (sem origem conhecida) e já vive na sua casa, o recomendado é buscar a legalização e um médico veterinário especialista para cuidar dele da melhor forma.

O problema é que se o bichinho foi retirado do meio ambiente de maneira ilícita, não há como legalizá-lo e ele pode ser apreendido. O recomendado então é, antes de adquiri-lo, buscar os órgãos ambientais. A criação do réptil não é proibida desde que obtido em um criadouro legalizado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “De acordo com o Ibama, nenhum réptil se enquadra na lista de animais de estimação”, explica a médica veterinária Renata del Bianco, especialista em animais silvestres.

Responsabilidade

Existem muitas casas brasileiras que possuem jabutis adultos, que se reproduzem e os responsáveis doam para adoção. Neste caso, ao acolhê-los, o cuidado e a responsabilidade devem ser os mesmos que qualquer pessoa precisa ter  ao decidir fazer parte de uma família multiespécie. “Tenho um jabuti, o Michelangelo, ele é o filho que restou da minha antiga relação; ele reconhece minha voz e adora carinho na cabeça”, conta o pesquisador em cultura de tecidos Wellington Soares, 32 anos, que ganhou Michelangelo de uma amiga. 

Para cuidar melhor, ele recorreu a um veterinário e recebeu orientações sobre o manejo. A alimentação e o local de habitação são aspectos com os quais ele tem atenção. “A alimentação vario entre folhas, frutas e ração rica em proteína”, explica Soares, que montou um terrário para o jabuti. Para o tutor, o tráfico de animais é uma triste realidade que deve ser combatida com a aquisição dos bichinhos só por meios legais. 

 Segundo a veterinária Renata del Bianco, o animal pode ser criado solto no jardim ou num terrário. Como é ectotérmico,  precisa do sol para regularizar a temperatura. Eles não necessitam de vacina, mas podem transmitir zoonoses se não forem bem cuidados. “O tutor deve estar ciente que ele precisa ter tempo, conhecer a espécie e condições financeiras de dar assistência ao animal”, explica a veterinária.

Na Bahia, existe pelo menos um criadouro autorizado pelo Ibama para criar e comercializar a espécie, o Jabuticon, na cidade de Manoel Vitorino. No momento,  a empresa informa, no site, que não há animais disponíveis para comercialização. Todos os animais a  serem comercializados  vivos devem ter sistema de marcação  aprovado pelo  Ibama e a  venda deverá  ser acompanhada  da nota fiscal fornecida pelo  comerciante.

Os comerciantes poderão  fornecer ao comprador um Certificado  de Origem do Animal. Segundo a Jabuticon, a pessoa física ou jurídica que intencione comprar animais da fauna silvestre brasileira, em lojas ou criadouros comerciais, com o objetivo de manter os animais como bichos de estimação, não necessitará de registro junto ao Ibama.

A Rede de Mobilização pela Causa Animal (Remca) não vê com bons olhos a domestição pois avalia que ela favorece o tráfico de animais. É que, até mesmo empresas com autorização, nem sempre seguem as regras previstas pelo Ibama. Em junho do ano passado, o órgão apreendeu, em são Paulo, mil jabutis que tiveram origem em Salvador e seriam enviados à China, onde cada um vale até US$ 100. As cargas estavam em desacordo com a autorização emitida pelo Ibama.

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