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Por Pedro Menezes

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 22 de agosto de 2024 às 18:23 h | Autor: Pedro Menezes

Candidatos erram ao apostar em Lula e Bolsonaro

Prefeituráveis parecem ignorar a máxima eleitoral de que eleições municipais seguem uma lógica própria

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Lula (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL)
Lula (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL) -

Caríssimo público, a regra é clara: a eleição estadual é muito influenciada pela nacional, mas a municipal segue uma lógica própria. Não é difícil perceber o motivo. As campanhas para presidente e governador são simultâneas, enquanto a campanha para prefeito ocorre separadamente.

Os dados não mentem. Em 2022, 21 dos 27 governadores eleitos apoiavam o candidato à presidência mais votado em seu estado. As 6 exceções ocorreram no Rio Grande do Sul, Pernambuco, Tocantins, Minas Gerais, Amazonas e Espírito Santo.

Nos 2 primeiros casos, Eduardo Leite (União Brasil - RS) e Raquel Lyra (PSDB - PE) mantiveram a neutralidade porque precisavam de votos lulistas e bolsonaristas no 2º turno. Foram decisões muito ligadas ao contexto local.

Tocantins, Minas Gerais e Amazonas foram estados com disputa acirrada em que Lula venceu por muito pouco. Ou seja, a divergência entre o voto para governador e presidente só aparece claramente no Espírito Santo, onde Bolsonaro foi o mais votado e Renato Casagrande foi eleito governador pelo PSB.

Vejamos as eleições para prefeito. Em Salvador, a ascensão do novo carlismo coincidiu com o domínio petista nas eleições presidenciais. No Rio, capital do bolsonarismo no Sudeste, o prefeito é Eduardo Paes (PSD), aliado de Lula. Em Porto Alegre, Lula venceu a última eleição presidencial, mas o prefeito é próximo a Bolsonaro.

São Paulo, por sua vez, é um velho túmulo de candidatos apoiados pelo governo federal. Só Fernando Haddad, em 2012, foi eleito como candidato governista e, mesmo assim, foi eleito apesar do governo. O antipetismo estava em ascensão na maior cidade do país, mas uma questão local favoreceu Haddad no 2º turno: Serra havia sido eleito prefeito em 2004 e abandonou o cargo para se candidatar ao governo após 15 meses de mandato. O paulistano não perdoou.

Mesmo assim, políticos experientes insistem no erro de crer que o apoio de Lula ou Bolsonaro será suficiente para uma vitória na eleição municipal. Em Salvador, em uma estratégia fadada ao fracasso, Geraldo Júnior (MDB) não tira Lula da boca e Kléber Rosa (PSOL) tenta sempre argumentar que ele é o legítimo representante de Lula na disputa.

Em 2022, Lula foi muito bem votado em na capital baiana, mas ACM Neto também foi. Com mais simplicidade que precisão, dá pra dizer que a cidade se dividiu em três terços na eleição passada: um terço votou só em Neto, um terço votou só em Lula e um terço votou nos dois.

Kléber e Geraldo parecem interessados apenas em disputar o terço que votou só em Lula. Não por acaso, Bruno Reis está tranquilo. Hoje, segundo a última pesquisa Atlas/A TARDE, a gestão dele é mais aprovada e menos rejeitada do que a de Lula. Os candidatos de oposição precisam olhar para a lógica local se quiserem desarticular o carlismo.

Erro comum

ACM Neto cometeu esse erro em 2022, ainda que em sentido oposto: o líder carlista apostou que não precisava se posicionar na eleição federal, pois a eleição estadual seguiria uma lógica mais ligada aos problemas baianos. De fato, foi o que aconteceu em Salvador, onde Neto é muito aprovado e forte. No resto do estado, prevaleceu a lógica nacional e Jerônimo foi eleito.

Em São Paulo, Boulos (PSOL) e Nunes (MDB) parecem cometer o mesmo erro. Não por acaso, ambos caem nas pesquisas. Com sorte, eles podem chegar ao segundo turno com ajuda de seus padrinhos nacionais, mas precisam de mais se quiserem vencer a eleição.

Por mais habilidade que um político tenha, por mais experiência que ele acumule, o autoengano é extremamente sedutor. É muito gostoso supor que o resultado da eleição lhe agradará. Nunca faltam bajuladores dizendo aos candidatos o que eles querem ouvir. Ninguém se lembra, mas os partidos de Lula e Bolsonaro elegeram zero prefeitos nas capitais em 2020.

Por mais que isso surpreenda alguns candidatos, as eleições locais são locais. É preciso olhar para o cotidiano da cidade, passar a mensagem em linguagem local e ter um projeto adaptado à realidade da cidade. O velho ACM sabia disso e moldou o carlismo à Bahia, criando uma ideologia distintamente baiana.

A esquerda soteropolitana tomou esse drible, caiu sentada e nunca se levantou. Em pleno 2024, insistem em bajular Lula. A estratégia já deu errado e continuará fracassando. Convenhamos, quem só propõe progressismos genéricos e ignorar as especificidades de Salvador está, acima de tudo, menosprezando a cidade. Assim fica difícil vencer a eleição numa cidade tão orgulhosa de si.

Ciente de que Salvador não é qualquer coisa, o carlismo segue se adaptando e nada de braçada. Décadas se passaram, mas petistas e aliados ainda não aprenderam a marcar o drible de ACM, por isso são driblados por Neto, que aplica a mesma jogada.

Caríssimo público, não há acidente no fracasso da esquerda em Salvador: trata-se de uma obra cuidadosamente construída ao longo de muitas décadas.

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