O melhor dos últimos talentos
Coluna de Angelo Paz relembra a trajetória de Leandro Domingues e questiona as incoerêcias de Fábio Mota

Um misto de lembranças borbulhou na minha mente na manhã da última terça-feira quando, ao pegar o celular, me deparei com a notícia de falecimento de Leandro Domingues, o mais talentoso jogador revelado neste século na Fábrica de Talentos, hoje longe dos seus tempos áureos. Camisa 10 clássico, Leandro ganhou protagonismo no profissional em um dos piores momentos da história do clube: a Série C de 2006. Sem a enxurrada de transmissões dos jogos via TV ou Internet como temos hoje, passei a me encantar pelos seus lances através das ondas do rádio.
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O ponto de partida deste encantamento lembro-me bem. Numa noite de meio de semana, o Vitória contou com três golaços do meia para vencer o Treze-PB, em Campina Grande. Pela então Rádio Sociedade, o narrador Silvio Mendes enaltecia a classe de Leandro no Planalto da Borborema, como é conhecida a cidade paraibana. Nesta saborosa noite, dormi imaginando os gols, que ganhou contorno realístico ao assistir, logo no amanhecer, os melhores momentos da partida no Jornal da Manhã, da Tv Bahia. Um deles, de cobertura.
No mesmo campeonato, vi com meus próprios olhos, ao lado da minha melhor dupla de Barradão (meu pai), o talento do meia num Barradão que brindou, lotado, a saída da Série C. No derradeiro jogo do campeonato, 4x0 sobre o Ferroviário com mais três gols de Leandro.
Por lembrar de dupla e de Leandro, me veio à cabeça Apodi. Era Leandro, com seu refinado toque de bola, que esticava as bolas para Apodi, ainda antes da alcunha de Alonso (em alusão ao piloto espanhol de Fórmula-1), ganhar velocidade e chegar na bola um milésimo de segundo antes de receber um encontrão do zagueiro, mergulhar no gramado e levantar a torcida no Barradas. Como era divertido… Tive que guardar a alegria de ver esses lances em decorrência da venda de Leandro ao Cruzeiro ao fim daquela difícil, mas memorável Série C. Apodi ficou para me impedir de esquecer do seu parceiro ideal. Apodi ficou para brilhar na Série B do ano seguinte e também acabou vendido ao Cruzeiro. O reencontro da da dupla, entratanto, ocorreu na Toca.
Ambos voltaram em 2009 para reeditar a dupla de maior divertimento futebolístico nas bandas de Canabrava. E pela Série A, foram felizes novamente no futebol e, também, no Vitória. Naquele ano eu já era repórter e tive o doce sabor de acompanhar as peripécias da dupla do gramado. Um outro ângulo, o mesmo encantamento. Essas são as maiores lembranças que guardarei de Leandro Domingues, que se despediu da camisa do Vitória em 2016, quando alcançou o sexto título baiano em sete temporadas vestido de vermelho e preto. Ainda faturou a última Copa do Nordeste do clube, em 2003. Ao todo, foram 30 gols no Barradão, que para sempre sentirá saudade da sua classe. Mesmo aqueles mais raivosos rubro-negros, que por vezes o chamou de Leandro Dormindo.
Incoerência de Fábio Mota
Nestas últimas linhas, me refiro a pontual incoerência do presidente Fábio Mota, que se mostrou decepcionado com a torcida do Vitória ao ser questionado sobre o resultado da vaquinha virtual promovida este ano pelo clube, que arrecadou R$ 489,742 mil, 11% dos 4,5 milhões projetado na ação. Nesta mesma semana, a torcida vista ‘decepcionante’ alcançou a marca 43 mil sócios e colocou 23 mil pessoas às 21h30 no Barradão na estreia da Sul-americana mesmo após o time vir de uma perda do estadual e uma péssima estreia no Brasileiro, contra o Juventude. Decepcionante mesmo, a falta visão, neste caso, do presidente rubro-negro.