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Por Vilson Caetano | Antropólogo | [email protected]

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 03 de dezembro de 2015 às 7:43 h | Autor: Vilson Caetano | Antropólogo | [email protected]

Batuque nas panelas

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gastronomia, vilson caetano
gastronomia, vilson caetano -

Desde cedo, utensílios de cozinha foram utilizados como instrumentos para produzir um dos ritmos brasileiros que mais nos representa, o samba. Que diga Dona Edith do prato, Edith Olivera Nogueira, santamarense que se apresentava sempre com uma faca e um prato, de onde retirava som.

Sem falar nos "decomer" afro-brasileiros que circulavam na casa de Hilária Batista de Almeida, a legendária Tia Ciata, chamada de mãe do samba, tida também como exímia cozinheira. No dia 2 de dezembro comemoramos o dia do samba e este ritmo, ao longo de nossa história, muito tem falado sobre as comidas.

Alguns deles se tornaram imortais ou verdadeiros hinos que exaltam a nossa identidade negra africana. Lembro da saudosa Gaiaku Luíza falando com orgulho da música gravada em 1939 por Dorival Caymmi, O Que é Que a Baiana Tem? e da composição de Ary Barroso No Tabuleiro da Bahiana Tem.. Ela sabia, como comerciante de comida num tabuleiro situado na Cidade Baixa, que teria sido a inspiração destes compositores.

Dorival Caymmi, no samba Vatapá, nos fornece uma verdadeira receita de um dos pratos nacionais que no século 19 já havia sido aclamado nas mesas de Paris. Na receita cantada por ele, a castanha de caju, o amendoim, a pimenta malagueta, o gengibre e a cebola, são machucados e misturados ao fubá de milho acrescido de azeite de dendê. O vatapá feito com fubá ainda hoje pode ser encontrado em alguns lugares.

Outro samba que merece destaque é Feijoada Completa, de Chico Buarque, mas antes tivemos de Carlinhos Vergueiro Torresmo à Milanesa, samba que retratava o cotidiano de trabalhadores da construção civil nos anos 60, falando assim do ovo frito, do arroz, do feijão ao lado do famoso torresmo na marmita. Brasil Pandeiro, imortalizado na voz dos Novos Baianos, é uma espécie de hino que fala de comidas ainda hoje encontradas nos centenários tabuleiros, como o acarajé, o cuscuz, o abará e o famoso molho da baiana.

E o fubá, base de preparações da culinária regional, cantada por Carmem Miranda no samba O Tico Tico no Fubá?

O samba tem ainda se prestado a fazer críticas sociais como Caviar, de Zeca Pagodinho, mas são sem dúvida os sambas enredos que mais têm se mostrado nos últimos anos como amantes das panelas. Em 1986, por exemplo, ao falar de Dorival Caymmi, a Estação Primeira de Mangueira entrou na Avenida gritando: "tem xinxim e acarajé, tamborim e samba no pé", mostrando a estreita relação entre samba e comida estabelecida ao longo do tempo.

No ano 2000, a X 9 Paulistana cantou a história do café e, em 2005, a Tradição falou sobre a soja. Também neste ano, a Grande Rio entrou na Sapucaí falando que "Alimentar o corpo e a alma faz bem", chamando a atenção para o cenário gastronômico brasileiro. Cantava-se: "Comer se torna um ritual.. Prepare a mesa nesse carnaval".

Em 2007 foi a vez do bacalhau, base de tantas preparações, ser cantado pela Imperatriz Leopoldinense. A história do leite foi cantada pela Porto da Pedra em 2012, mas foi em 2013 que tivemos um dos sambas mais emocionantes, falando sobre a nossa comida, cantado pela Vila Isabel que venceu o carnaval clamando: "Água no feijão que chegou mais um."

Não podemos, por fim, deixar de rememorar um dos sambas mais entoados, presente no samba de viola, no samba de roda e no samba dedicado a santos católicos que também sambam, comem e bebem nos altares domésticos juntamente com outros encantados que uma vez por ano, ou uma vez ou outra, vêm comer, beber e sambar ou simplesmente, como se diz, brincar; uma das brincadeiras mais sérias em que o humano se enche de divino através do samba e porque é humano come e bebe, pois nada no mundo mantém-se vivo sem comida e bebida: "Oh dona da casa, por Nossa Senhora! Me dá o que beber se não eu vou embora." E viva as panelas no samba e o samba nas panelas.

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