Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > colunistas > VILSON CAETANO
COLUNA

Vilson Caetano

Por [email protected] | Antropólogo e professor da Escola de Nutrição da Ufba

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 08 de setembro de 2016 às 10:28 h | Autor: [email protected] | Antropólogo e professor da Escola de Nutrição da Ufba

Comidas que embelezam

Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email
Vilson Caetano
Vilson Caetano -

A busca do belo e da beleza não está restrita à filosofia, mas tem acompanhado a história da humanidade. Não obstante a afirmação de que "beleza não se discute", ou ainda, que "beleza não põe mesa", o fabuloso mundo proporcionado pela gastronomia nos permite pensar relações sociais, políticas, culturais e religiosas; ao mesmo tempo, invertendo a ultima proposição, demonstrando que também é certo dizer que "à mesa se põe beleza".

Um breve passeio pela história nos permite demonstrar alguns exemplos de comidas utilizadas em busca da beleza. Das deusas da beleza que temos notícias, é difícil prever qual delas era a mais bonita; afinal, beleza é beleza, e como bem nos chamou a atenção o filósofo Platão, é preciso pensar o belo para além das qualidades sensíveis que lhes são atribuídas. Se assim agíssemos, não existiriam os chamados "padrões de beleza" que tanto têm provocado embates no campo ideológico. Fato é que todas as deusas da beleza tinham pratos prediletos e ainda hoje buscamos comidas que embelezam.

Algumas deusas da beleza nasceram de uma preparação. Ida, deusa hindu descrita como mulher de extraordinária beleza, teria nascido de um bolo preparado com coalhada, manteiga e creme de leite por Manu, deus hindu, pai de todos os homens.

A história do leite e a sua relação com a beleza é particular e antiga. Ovelhas e cabras a 8.000 AC já domesticadas no Oriente Médio, ao lado das fêmeas do camelo no Saara; da rena, no Alasca e da vaca na Ásia Central serviam como fontes de leite.

Coube, todavia, aos egípicios, reverenciar a cabra. Queijos eram consumidos diariamente pela classe alta do Antigo Egito na certeza de que eles conservavam a beleza e aumentavam a longevidade. Que o diga a rainha negra Cleópatra, que se banhava com leite e mel a fim de manter a sua beleza. Hábito repetido pela esposa do Imperador romano Nero, que costumava tomar banhos com leite de jumentas.

Outro alimento particular utilizado na busca da beleza presente em várias culturas é o mel. De acordo com os gregos, o mel teria sido um presente da deusa Mellona, protetora das abelhas para os homens. Falando nos gregos, nenhuma deusa ultrapassava a beleza de Afrodite, para quem se ofereciam rosas nos templos dedicados a ela.
Afrodite inspirou os banhos de rosas para cuidar do corpo. Essa prática vai ser também encontrada entre os assírios, babilônios e africanos. Atualmente pétalas de rosas, ao lado de outras flores, entram na composição de saladas. E como não citar aqui o famoso cosmético chamado leite de rosas, criado em 1929, prometendo manter a beleza e o rejuvenescimento? Do panteão romano, Vênus equivale a Afrodite, mas é na India que temos a união entre beleza e gastronomia através de Laksmi, a deusa da beleza e da fartura ao mesmo tempo. Laksmi alimenta o mundo.

Entre os afro-brasileiros, os orixás Oxum e Iemanjá disputam o título da mais bela. Acertadamente é a segunda. Segundo alguns mitos, Iemanjá era tão bela que um de seus filhos apaixonou-se por ela. Daí ser um tabu falar sobre a sua beleza e atribuir a uma de suas filhas esta característica. Iemanjá em todos os altares em que é adorada recebe arroz. Talvez isso tenha mantido entre os afro-brasileiros o antigo hábito de lavar o rosto com água de arroz para manter a beleza.

Outra rainha negra africana que entrou para a história pela ostentação de suas riquezas foi Sabá. Na visita ao rei Salomão, além de ouro e brilhantes, a rainha de Sabá descarregou de seus camelos "grande quantidade de especiarias". Estas plantas especiais, contemporânea às civilizações, além de realçar o sabor, cumpriam a função de "recuperar a saúde, driblar a morte, prolongar a juventude" e tornar as pessoas mais bonitas. Verdade é que desde cedo, a manjerona da deusa Afrodite, o ofere dos santos afro-brasileiros, o gergelim, o alecrim, o erva-doce, a oliveira, a erva cidreira, o louro, o cominho, a canela, a cebola, a gengibre, o cardamomo, o sândalo, a pimenta do reino, o alho, o açúcar e tantas outras plantas, transitaram dos cabelos e orelhas dos deuses para a boca dos homens. Ou alternaram-se dos dedos dos primeiros para as mãos dos segundos que prepararam banhos, pomadas, perfumes e óleos a fim de aproximar-se da beleza dos mesmos.

No Nordeste, "comer cabelouro atrás da porta" é recomendação conhecida para ficar bonito. O cabelouro é um tendão que vai da cabeça à extremidade vertebral do boi. Recentemente clínicas de estéticas fizeram ressurgir o banho de chocolate e passaram a utilizar o café como tonificador de cabelos. Não há quem dispense o chá de camomila e nem a máscara de pepinos e abacate com açúcar, ao lado de uma longa lista que inclui comer cenoura, beterraba e couve. Afinal, se não podemos ser como os deuses, ao menos podemos participar de um de seus atributos: a beleza.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Assine a newsletter e receba conteúdos da coluna O Carrasco