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Por Vilson Caetano

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 16 de julho de 2015 às 8:00 h | Autor: Vilson Caetano

Das sementes, o xin xin, do jerimum, o quibebe

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Vilson Caetano - Antropólogo
Vilson Caetano - Antropólogo -

Mesmo não havendo consenso na historiografia sobre a sua origem, que ora aponta-se para a Ásia, depois para o continente africano, passando pela América e por fim para a Europa, a abóbora desde cedo destacou-se na cultura alimentar brasileira, dando origem a alguns pratos que hoje são característicos de algumas regiões.

Com o brasileiríssimo nome tupi de jerimum, é tabu alimentar de alguns iniciados nas religiões afro-brasileiras, que nem sequer pronunciam o seu nome, restringindo-se à expressão "inhame vermelho".

Não obstante este fato, ela aparece em alguns mitos de origem africana como um fruto cheio de riquezas que teria sido presenteado a um humilde adivinho, o transformando num homem afortunado. Todavia, é no culto aos ancestrais brasileiros que a abóbora ganha destaque.

Crua, assada ou cozida e regada com mel de abelhas, ela torna-se comida votiva e um dos principais veículos de comunicação com os caboclos brasileiros. Pelas cozinhas do Brasil afora é comum a combinação de abóbora e carne de sertão e abóbora e camarão, talvez motivada pela sábia tentativa de nossas cozinheiras equilibrar ou simplesmente combinar o sal com o seu gostinho adocicado.

E abóbora cozida no feijão? Esta é uma preparação que sobrevive em alguns lugares. Abóbora com leite durante algum tempo esteve entre as chamadas "coisas que faziam mal". Todavia, o doce de abóbora sempre teve lugar privilegiado entre as sobremesas.

Inegavelmente, o camarão na moranga continua sendo prato de apresentação considerada requintada, restringindo-se às mesas grã-finas. Fato curioso reserva-se à utilização das sementes de abóboras, ao lado das de outras cucurbitáceas (melancias, melão) como condimentos.

Segundo Câmara Cascudo, a utilização destas sementes torradas teria feito o caminho China, Índia, África Oriental e África Ocidental. No Brasil, o hábito se disseminou pelas mãos dos africanos nagôs que chamavam estas sementes de abóbora de egúsi, que segundo Manoel Querino era utilizadas como condimento. Depois da galinha pronta, segundo Querino, com azeite de dendê, cebola e camarão, eram adicionadas sementes de abóbora ou melancia torradas.

De acordo com Vivaldo da Costa Lima, a utilização dessas sementes teria dado o nome à comida em iorubá de oxinxin ou xinxin, que na atualidade restringiu-se a um modo de fazer. É todavia africana o quibebe, brilhante combinação de abóbora, leite de coco, carne de sertão e camarões seco, cuja apresentação em nada deve ao camarão na moranga.

O prato tem nome quimbundo e pode ser encontrado pelo Brasil afora com muitas variações.

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