O universo do samba chula no Recôncavo Baiano é profundo. Tradições, memórias, identidades e expressões artísticas fazem parte desse contexto e preservam uma imensa riqueza cultural. A pesquisadora alemã Katharina Doring, professora de Arte-Educação da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), mergulhou no estudo da manifestação por meio do seu trabalho acadêmico há quinze anos.
Ela idealizou a Cartilha do Samba Chula. O projeto foi aprovado no edital da Natura Musical e inclui dois CDs, um DVD e um caderno informativo com tiragem de dois mil exemplares.
A obra será lançada sexta-feira, 14, às 19h30, no Teatro Sesc Senac, no Pelourinho, com as apresentações dos grupos Coisas do Berimbau e Filhos da Terra; e domingo em Santo Amaro, às 15h, no Teatro Dona Canô, com Raízes do Samba de Acupe e Samba Chula os Vendavais.
"Elaboramos em 2008 um grande projeto, O Cantador de Chula, voltado para dezesseis mestres do samba chula especificamente do Recôncavo. Dali nasceu a ideia da Cartilha. Cada pesquisa acrescenta alguma coisa e já traz ideias para a próxima", conta Katharina.
Segundo a pesquisadora, o novo trabalho cria um diálogo entre os saberes dos mestres através de um material didático. "Dentro do Recôncavo existem várias modalidades do samba de roda. Eu trabalho na antiga região da cana. Nessa parte se criou uma forma do samba de roda que a gente chama de samba chula, samba de viola ou samba amarrado", explica.
A região compreende os municípios de São Sebastião do Passé, São Francisco do Conde, Santo Amaro, Terra Nova, Teodoro Sampaio, Saubara e Amélia Rodrigues. A principal característica da manifestação cultural é a conexão da chula cantada, da viola machete e do jeito de dançar no miudinho. "Esse material se dedica a dar continuidade a essa forma de sambar e fazer o samba de roda", afirma.
Foco nos mestres
O processo de elaboração da cartilha teve como foco os mestres e as mestras, cerca de vinte. A publicação apresenta um pequeno perfil de cada um, além das tradições, técnicas e ensinamentos. "Trabalhamos o canto da chula e o relativo, o seu contracanto, a viola machete, um pouco de percussão no pandeiro, no prato e faca, e o estilo de sambar", diz.
"Espero que com a cartilha as pessoas comecem a investigar mais, a procurar mais e, de fato, conhecer os mestres. A gente dedica três ou quatro páginas para cada um. Eles precisam se tornar referências, porque têm muita coisa ensinar. Muitas vezes sinto que em Salvador ainda reina uma ideia de que aquilo é folclórico", completa.