Balé do TCA apresenta três coreografias inéditas
O Balé Teatro Castro Alves (BTCA) está investindo no repertório de coreografias de tamanho médio, com um menor número de dançarinos (de 25 profissionais em geral, para 10) e com redução do tempo das apresentações (de 1h10 para 30 minutos).
O objetivo é driblar a crise de recursos que inviabiliza a criação e apresentação de grandes coreografias, com número elevado de bailarinos, em eventos como festivais, por exemplo (está cada vez mais difícil, por parte dos organizadores e de companhias, bancar, entre outras grandes despesas, custos de viagem).
A opção por coreografias médias, entretanto, não significa que o apuro técnico não seja preservado. O público pode tirar a prova dos nove conferindo o novo projeto do Balé Teatro Castro Alves, Endogenias, que estreia nesta terça, 27, às 20 horas, como parte das comemorações dos 35 anos da companhia.
Prata da casa
Serão apresentadas três coreografias inéditas, concebidas por bailarinos da própria companhia baiana de dança: Generxs, de Leandro de Oliveira, Youkali, de Konstanze Mello, e Dê Lírios, de Tutto Gomes. As coreografias também serão apresentadas amanhã e quinta e voltam em outubro.
O diretor artístico do BTCA, o bailarino, coreógrafo e professor Antrifo Sanches, lembra que a crise de recursos que atinge o BTCA também alcança outras companhias de dança do país.
"Embora o BTCA não tenha recebido o orçamento de 2015, como outros órgãos do Estado, para cada projeto, recebemos uma pequena verba para as apresentações. A sorte é que temos um bom acervo de cenário e um centro técnico bem estruturado", frisa.
Temas contemporâneos
Antrifo Sanches afirma que a seleção de três das dez propostas que se inscreveram no Projeto Endogenia (o título do projeto tem a ver com a qualidade daquilo que se origina no interior de um organismo, de um sistema) seguiu, entre outros critérios, "o rigor estético, a saída da zona de conforto e abordagens de temas atuais".
Em Generxs, o coreógrafo Leandro de Oliveira, 34 , dois anos de BTCA, diz que discute o gênero, a identidade de gênero e a sexualidade, além das relações de poder. Ele entrega que o figurino dos bailarinos transita entre os gêneros feminino e masculino e que músicas como Maria Sapatão ou Olha a Cabeleira do Zezé integram a trilha sonora.
Konstanze Mello, 55, há 27 anos diretamente ligada ao BTCA, diz que seu trabalho é inspirado na obra Cabaré Youkali, do dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956) e do compositor Kurt Weill (1900-1950), ambos alemães
"Só que esta versão é transposta para um bar. Trata-se de um lugar utópico, espaço de liberdade onde se pode viver sem censura e/ou julgamentos", afirma Konstanze.
Ela conta que trabalhou com figurino preto e branco para remeter a filmes antigos e que perseguiu a estranheza na movimentação em relação às sugestões musicais. Um tango, por exemplo, pode ter movimento não convencional.
Por fim, o pernambucano Tutto Gomes, 40, dois anos de BTCA, procura encontrar um elo entre a arte popular e a dança contemporânea, mais precisamente voltada para a identidade nordestina. "Mas as referências são diluídas, não é nada muito explícito", avisa. O público atento verá a ciranda, o arrocha e, belo momento, a Ave-Maria tocada por dois acordeons.
BTCA - Projeto Endogenias com as Coreografias: Generxs, Youkali e De Lirios/ De terça a quinta, e 6 e 7 de outubro, 20h/ Sala Principal do Teatro Castro Alves (plateia no palco)/ Ingressos: R$ 10 e R$ 5/ Classificação: 18 anos