CULTURA
Concurso de cosplay pode levar dupla baiana para mundial no Japão
Presente na competição desde 2006, o Brasil é um nome forte na disputa com três títulos mundiais
Por Bianca Carneiro
Imagine estar andando e se deparar com o Naruto na sua frente? Ou comer um lanche na companhia do Super Mario? Quem passou pelo Shopping Paralela, em Salvador, na tarde deste domingo, 16, viu estes e outros personagens queridos da cultura pop saírem das páginas dos quadrinhos e de dentro das telonas do cinema ganharem vida, graças a seletiva baiana da 20ª edição do World Cosplay Summit (WCS), concurso mundial de cosplay.
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Para os menos familiarizados com o termo cosplay, é preciso esclarecer: trata-se de uma arte performática, na qual os adeptos, chamados cosplayers, usam fantasias e acessórios para representar um personagem específico. Mas o ofício vai além da mera vestimenta, é preciso interpretar o homenageado e fazê-lo realmente dar as caras no mundo real.
A final do World Cosplay Summit em Salvador sagrou a dupla de cosplayers Giovana Augusta, 29, e Gabriela da Silva, 26, por sua performance como Aijou Karen e Kagura Hikaru, do anime Shoujo Kageji Revue Starlight. Agora, elas terão a oportunidade de concorrer com participantes das seletivas que vão ocorrer em outros estados brasileiros, e quem sabe, ganhar a etapa final que acontecerá no Japão, um dos berços da arte cosplay.
A disputa é acirrada: são mais de 50 nações, que participam anualmente e disputam o título de melhores do mundo. Após a vitória em Salvador, Giovana e Gabriela vão em busca da vaga na grande final brasileira, que acontecerá em São Paulo, em maio.
A partir daí, os campeões nacionais terão sua ida com tudo pago à sede do WCS, na cidade japonesa de Nagoya.
Apesar do desafio, Gabriela e Giovana se disseram confiantes. Elas já têm, inclusive, o próximo cosplay, que será baseado no mesmo anime que garantiu a vitória para a dupla.
“A gente já está planejando o que levar pra São Paulo, o material já estava pronto na esperança de que a gente passasse”, confidenciou Giovana, que chorou ao vencer a seletiva.
Muito mais do que hobbie, o cosplay, para a dupla de amigas que se conhece há mais de 10 anos, é uma forma de sobrevivência, já que as duas juntas possuem uma empresa de personagens vivos - cosplayers que trabalham em eventos com animação - com foco em mídia japonesa.
Para o concurso, as baianas escolheram personagens que, segundo elas, tem tudo a ver com o que gostam.
“A gente gosta de se desafiar então, escolhemos um anime com tudo o que a gente gosta: roupas e meninas bonitas, lutas coreografadas e muita música”, brincou Giovana.
Mas além de amor, a participação na seletiva também exigiu um pouco do bolso. O custo da caracterização, segunda elas, chegou a quase R$ 2 mil. O detalhe é que tudo foi produzido por ambas, da bota até a peruca.
“Respiramos o cosplay em nosso dia a dia. A gente quer contribuir para o crescimento da comunidade, então o esforço vale a pena”, diz Giovana.
“Era nosso sonho participar e ganhar, agora vamos lutar para ir pro Japão”, completa Gabriela.
Presente na competição desde 2006, o Brasil é um nome forte na disputa com três títulos mundiais, sendo um na estreia, e outros dois em 2008 e 2011. A torcida é grande para que os baianos quebrem esse jejum de mais de 10 anos e tragam o tetra.
Entrega
O WCS ressalta a máxima da arte cosplay que é não se resumir a apenas trajar-se como personagens, e sim interpretá-los. O regulamento do concurso prevê que os competidores façam uma cena de até dois minutos com o uso de coreografias, efeitos especiais, música, jogo de luz e o uso de um telão no qual um vídeo de apoio pode ser exibido.
Tudo é construído pela dupla, com o intuito de recriar a atmosfera de seus personagens favoritos e envolver o espectador no show.
Dona de canal no YouTube sobre o assunto, a cosplayer Marcela Benedicts, 25, explica que a maioria dos cosplayers se vestem como hobbie, mas que existem os chamados “personagens vivos” que interpretam mais fielmente os trejeitos de cada figura.
“O importante é conhecer os personagens, normalmente as pessoas fazem do que elas gostam e se identificam”, afirma ela, que estava caracterizada como Albedo, do anime Overlord.
Mas mesmo Salvador tendo sido escolhida para receber a seletiva, parte dos cosplayers ainda se dizem insatisfeitos com a quantidade de eventos voltados a esta arte na capital baiana.
Presente no evento, mas não para competir, o animador e dançarino Duffy Ventura ressalta que o cosplay não deve ser visto como coisa de criança e serve para mobilizar as pessoas em prol do social.
“Salvador não é tão voltada para o público nerd como São Paulo, mas a gente está tentando fazer aos poucos os eventos crescerem e acontecerem”, diz ele que revelou ter planos para o crescimento da cultura nerd, incluindo uma ação com encontro de “homens-aranhas” para a doação de sangue. “Quero que vejam a gente olhe com olhos mais adultos”.
O mesmo é sentido pelo videomaker Victor Karl, 28. Ele, que faz cosplay há 11 anos, é fundador do grupo Cosplay BA, que reúne os apaixonados pela arte no estado.
“Faltam eventos. Tentamos fazer encontros mensais, para suprir essa falta de eventos grandes. Depois da pandemia, muita gente começou a fazer cosplay por causa do TikTok”, explica ele, que escolheu ser um “estalador”, personagem do jogo e série “The Last of Us”, na disputa.
Considerada uma das maiores referências em cosplay, a baiana Kiki Bélico foi uma das juradas da competição. Ela, que é jornalista e artista plástica, faz cosplay há 15 anos. Apaixonada pelo mundo nerd, Kiki mantém ainda um canal voltado a falar sobre Power Rangers.
A jornalista, que começou no mundo do cosplay com a ajuda da avó, responsável por costurar a roupa dos personagens, conta que também aprendeu a costurar para fazer seus próprios cosplays.
Caracterizada como personagem do anime InuYasha, ela comemora o crescimento da arte em Salvador - a capital baiana foi a que teve mais competidores (oito duplas), até agora, nas seletivas.
“O cosplay está crescendo muito. Todo mundo já sabe o que é, já viu na TV, na internet […] Salvador precisa de mais eventos representativos nacionalmente, a gente fica muito ligado em São Paulo, mas quem vier investir aqui em Salvador, tem retorno porque tem muita procura”, diz.
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