BASEADA EM LIVRO
Exposição “Um Defeito de Cor” marca reabertura do Muncab, em Salvador
Mostra premiada é baseada na história de Luísa Mahin, uma das lideranças da Revolta dos Malês, na Bahia
Uma mulher que comprou sua alforria em 1812 e passou a liderar revoltas separatistas na Província da Bahia, entre elas, a Revolta dos Malês, sendo ainda mãe do poeta e abolicionista Luís Gama. Essa é a história de Luísa Mahin, que inspirou o livro “Um Defeito de Cor”, da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, considerado um clássico da literatura afrofeminista brasileira, vencedor do Prêmio Casa de Las Américas, de 2007.
Da força do enredo e das páginas da publicação, surgiu a premiada mega exposição, de mesmo nome, que estreou no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), e na próxima segunda-feira, 6, chegará a Salvador. No mês dedicado à celebração da cultura preta, a capital baiana, que é conhecida como a cidade mais negra fora da África, reabre as portas do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) com a mostra, que faz uma revisão historiográfica sobre lutas e contextos socioculturais que atravessam a escravidão no Brasil a partir do período Império (1822-1889) e seus desdobramentos contemporâneos.
Ao Portal A TARDE, a diretora do Muncab, Cintia Maria, contou que “não poderia ter pensado em outra exposição” para marcar a reabertura do espaço. Ela diz ainda que até a equipe do museu foi tocada emocionalmente pela exposição, pelo fato da incorporação dos elementos de lugares baianos, assim como no livro.
“A mensagem e qualidade artística do conjunto de artistas e obras de artes que compõem a exposição “Um Defeito de Cor” é tão impactante e necessária [...] São mais de 100 artistas, em sua grande maioria negros, expressando a subjetividade, disputando narrativa e colaborando para a superação do racismo e do apartheid racial que vivemos no Brasil e no campo das artes visuais. Esta exposição transcende a arte, inspirando reflexões profundas e provocativas no público. Toda equipe está bem emocionada. Com momentos significativos que se desenrolam em Itaparica e Salvador, a história também nos leva a uma viagem emocional”, afirma.
Um dos responsáveis pela concepção da exposição, ao lado da própria autora do livro e de Amanda Bonan, o curador-chefe do Museu de Arte do Rio de Janeiro, Marcelo Campos, diz que trazer a mostra para a capital baiana ganha um significado especial, não só pela ambientação do romance, como também, o retorno do Muncab ao circuito cultural.
“Reinaugurar o Muncab faz parte do estímulo que nos fez aceitar trazer “Um Defeito de Cor” para a Bahia. Poder incluir obras da coleção do Muncab, incluir mais artistas da cidade, estar localizado em ruas narradas no romance. Tudo isso, nos honra em levar adiante essa iniciativa”, aponta.
Riqueza de acervo
A mostra "Um Defeito de Cor" é dividida em 10 ambientes que espelham os 10 capítulos do livro. São cerca de 370 obras de artes, entre desenhos, pinturas, vídeos, esculturas e instalações de mais de 100 artistas locais, originários das cidades que abrigaram os portos brasileiros que mais receberam escravizados, entre eles Bahia, Rio de Janeiro e Maranhão, bem como do continente africano.
A exposição traz ainda trabalhos de artistas expoentes da memória afro-diaspórica: pinturas e ilustrações do argentino Carybé (1911-1997), fotografias do francês Pierre Verger (1902-1996), esculturas do baiano Mestre Didi (1917-2013), fotografias do nigeriano Iké Udé, gravuras da baiana Yedamaria (1932-2016) e gravações do linguista estadunidense Lorenzo Dow Turner (1890-1972).
O público também poderá ouvir músicas e textos que expressam os sentimentos da personagem principal do livro na exposição. A trilha sonora é assinada pelos músicos Tiganá Santana e Jaqueline Coelho, enquanto a expografia é dos artistas visuais Ayrson Heráclito e Aline Arroyo.
De acordo com Cintia, dentre os mais de 100 artistas que compõem o acervo, mais de 40 deles são baianos, sendo a maioria de Salvador. Ela aposta que o sucesso da temporada na capital carioca irá se repetir na baiana. “O retorno do público tem sido bem caloroso. Há muitas pessoas que queriam ter visto a exposição no Rio de Janeiro e não tiveram condições de viajar”.
Marcelo diz que a exposição vai atrair também quem não leu o romance, devido a abordagem familiar com fatos culturais que atravessam o cotidiano de Salvador, das festas e procissões, das lutas políticas e passeatas. O curador destaca ainda que a mostra vai ser um pouco diferente da vista no Rio, com elementos inéditos.
“Algumas obras não estavam na primeira versão, incluímos cerca de cinco artistas, além de ampliarmos alguns vídeos e instalações”, conta.
Mas as novidades não param por aí. Em tom de mistério, Cintia adiantou que o Muncab ainda prepara surpresas na programação. “Estamos preparando uma série de eventos, como 'rolezinhos' por locais que desempenham um papel significativo no livro, ciclo de vedares, cineclube, e até mesmo um clube de leitura dedicado ao livro que inspirou a exposição. A melhor parte? Estamos guardando algumas surpresas na manga. A programação completa será revelada gradualmente, para que o público possa se concentrar no que realmente importa: a exposição”, promete.
A exposição “Um Defeito de Cor” estará em cartaz a partir de 6 de novembro, podendo ser vista até 3 de março de 2024. A entrada é gratuita até o dia 13 de novembro, como parte da programação do projeto: “Novembro Salvador Capital Afro". Após essa data, os ingressos custarão R$ 20, com direito a meia entrada.
A mostra foi eleita a melhor exposição em 2002 do Rio de Janeiro na exibição do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), que assina a concepção da mostra em Salvador.
Serviços
Exposição “Um Defeito de Cor”
Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab)
Rua das Vassouras, 25 - Centro Histórico de Salvador
Inauguração: 6 de novembro de 2023, às 13h
Visitas: até 3 de março de 2024
Funcionamento: de terças-feiras aos domingos, das 10h às 17h. Acesso até às 16h30
Ingressos:
- R$ 20 (com direito a meia-entrada): a partir de 14 de novembro
- Gratuidade: Entre 6 e 13 de novembro e todas as quartas-feiras
Classificação indicativa: Livre
*Sob supervisão de Bianca Carneiro
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