SENSIBILIDADE
Jornalista lança livro infantil para desmistificar Alzheimer
"O Homem Sério que Lembrou de Sorrir" narra vida do pai da autora com a doença
Por Elis Freire
“A literatura que eu encontrava sobre Alzheimer era sempre tão dura, uma literatura médica fria”. Esta era a grande queixa da jornalista e recém escritora Alessandra Oliveira ao conviver com a doença de seu pai. Em seu primeiro livro, o infantil "O Homem Sério que Lembrou de Sorrir", a autora feirense narra com sensibilidade e graça as transformações na vida de um pai com a doença. Já disponível na Amazon e à venda em 13 países, a obra terá lançamento em Salvador neste sábado, 20, às 13h, na livraria da editora Caramurê, no Comércio.
Eleito na última convocatória do selo Asinhas, da editora internacional Ases da Literatura, o livro alcançou a 6ª posição de livros mais vendidos na Amazon na categoria ficção infanto-juvenil.
A história usa a dicotomia para falar dos desafios de lidar com a doença, mas principalmente, das alegrias inusitadas, olhando com uma outra perspectiva para o transtorno neurodegenerativo. No Brasil, 55% das pessoas com mais de 60 anos de idade apresentam algum tipo de demência.
“Perceber o quanto eu tinha ganhado na minha relação com meu pai me fez querer mostrar um lado mais gentil sobre o processo de adoecimento e não só necessariamente do Alzheimer. Eu acho que qualquer doença grave que transforma muito paciente e tem consequências mais severas na rotina causam muita tristeza, muita confusão. Eu queria trazer essa visão leve, que também é real. Existe a tristeza, existe a confusão, a raiva, mas também existem os momentos de risada, as intimidades e as brincadeiras; e não tem muita literatura sobre isso, do lado das relações humanas”, conta Alessandra Oliveira.
Afeto de perto
A ficção voltada para o público infantil foi pensada por Alessandra ao observar que o seu pai, antes tão sisudo e sério, havia se transformado, dando vazão ao seu lado infantil e brincalhão. Assim surgiu O Homem Sério que Lembrou de Sorrir. A ideia da obra é mostrar para os leitores que as mudanças no íntimo familiar podem ter diversas nuances e os momentos felizes podem estar presentes, mesmo ao lidar com uma doença.
“O ponto chave da minha vivência com ele que me motivou a escrever o livro foi o fato de que antes da doença o meu pai era uma pessoa super fechada, super sisudo, era aquele aquele tipo de homem que dá última palavra sabe dentro de casa, patriarcal. O meu pai tinha um perfil extremamente sério, então eu sempre me senti muito distante dele. Eu sentia amor da parte dele e o amava, mas a gente não tinha as mesmas conversas e brincadeiras nossas ", afirma a jornalista formada em Comunicação Social pela UFBA.
“Em 2020 voltei à Feira de Santana, e me tornei cuidadora dele. Então, eu trocava a fralda, dava comida. Foi quando ele estava num processo de saúde bem mais debilitado.Mas aí, cuidando dele, foi a primeira vez na minha vida que eu me senti íntima do meu pai, porque eu senti que a gente tava realmente trocando ali e a gente estava presente um para o outro”, completa.
Um homem em transformação
Num dia ele não conseguia mais dirigir para o trabalho, no outro percebia o quão era bom poder acordar tarde. Num dia ele não suportava comer batata, no outro sentia como se estivesse descobrindo um alimento novo. Os diversos episódios da vida deste sujeito muito sério são narrados até o seu sorrir - ato de alegria que ele nem se lembrava da sensação.
Conhecido pela cara fechada, o protagonista se transforma, em meio às relações com os familiares que o ajudam a lidar com a situação. Alessandra, que se viu neste lugar ao ter que cuidar de perto do seu pai em um estado já debilitado, em contrapartida, se viu mais próxima do que nunca dele.
O envelhecimento, o cuidado, as transformações e a memória são abordadas no livro de forma leve e carinhosa. O lançamento busca conectar a ficção com ainda mais leitores, pais e mães, crianças e idosos que convivem com a doença, ou de todos que querem olhar de forma mais carinhosa para as mudanças cotidianas.
“Esse livro lido por uma criança, principalmente que convive com alguém com Alzheimer pode ajudar a tornar a doença menos dolorosa. Ele pode ser uma das várias ferramentas possíveis, como é a conversa e a terapia, para a gente lidar com as nossas emoções. Meu livro pode ser uma ferramenta para que as crianças consigam temer menos o Alzheimer ou se sentir menos confusas diante do diagnóstico e aplacar as dores desse processo”, explica a autora.
“E para além do Alzheimer, ele fala sobre prestar atenção no nosso dia a dia nas coisas que a gente está perdendo, vivenciar o presente com as pessoas que a gente ama. É um livro que lembra a gente dessas coisas e que vale para todo mundo e para toda criança em qualquer situação”, ressalta.
O Homem que Lembrou de Sorrir está disponível na Amazon, Americanas, Submarino e Um Livro, com o preço de R$76,35.
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