IMBRÓGLIO
“Em fase de competição”, diz Carlos Prazeres sobre gestão da Osba
Recurso apresentado por concorrente pode dificultar o resultado para o lado da ATCA
Por Edvaldo Sales e Lula Bonfim
A Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) pode seguir como gestora da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) pelos próximos dois anos com o maestro Carlos Prazeres como regente. Conforme publicado no Diário Oficial no último dia 7, a entidade obteve, na primeira etapa do edital, a nota técnica 96,26 contra 90,43 do único concorrente, o Instituto Arte Plena.
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A vitória, no entanto, ainda não é totalmente certa. Isso porque houve recurso por parte do outro concorrente, segundo Prazeres. “Nós ainda estamos na fase de competição, a gente foi vencedor deste primeiro pleito, mas ainda cabe recurso, me parece que esse recurso foi colocado, nós vamos agora interpor esse recurso. Eu não posso falar na condição de vencedor do pleito, eu tenho que ser muito cuidadoso nessa hora, mas se caso a gente continuar na gestão, vai ser um grande desafio povoar essa Bahia sem a presença do Teatro Castro Alves nesse primeiro momento. Mas é algo que nós já estamos acostumados”, disse, em entrevista ao Portal A TARDE.
É importante pontuar que a terceira etapa da reforma do Teatro Castro Alves (TCA) foi autorizada em março deste ano pelo governador do estado, Jerônimo Rodrigues. Ao todo serão investidos R$162 milhões. A sala principal está fechada desde janeiro de 2023, após incêndio atingir o local. O projeto contempla a Sala Principal, Foyer, Bilheteria, restaurante e o Jardim Suspenso, além de intervenções no Centro Técnico do TCA, salas administrativas e melhora nas dependências dos corpos artísticos – Balé Teatro Castro Alves (BTCA) e Orquestra Sinfônica Da Bahia (Osba).
O maestro pontuou que, hoje, a Osba ocupa museus, igrejas e espaços públicos muito importantes. Prazeres afirmou que tem ideias e planos “para cada vez mais conseguir revolucionar” Salvador, que, segundo ele, “já é uma cidade revolucionária, porque é apaixonada por uma orquestra". "Isso não é uma coisa comum de se ver tanto no Brasil quanto no mundo”, afirmou.
Críticas
Na oportunidade, Carlos Prazeres falou sobre as críticas que maestros como ele recebem quando se propõem a modernizar a música de concerto, a qual ele afirma que “ocupa um lugar muito conservador”.
É normal que a gente, quando propõe uma revolução, ou quando propõe atos que são um pouco mais fora da caixa, receba essas críticas. Mas a gente tem que imaginar que a música clássica pouco mudou da época de Beethoven para cá. Ela pouco mudou do período romântico da história da música para cá, nem o nosso figurino mudou. Os rituais continuam os mesmos.
“Se por um lado é bonito a preservação desses rituais, por outro, a música clássica tem perdido no mundo inteiro seus ouvintes. Então, a gente é obrigado a buscar, assim como a Igreja Católica buscou, por exemplo, novas tendências e novas maneiras de como as pessoas gostariam de observar e de interagir com esse tipo de música. A Igreja Católica, por exemplo, tinha padre rezando de costas para o público em latim. E isso vinha fazendo com que os fiéis deixassem de aproveitar, uma vez que o latim já não era mais ensinado nos colégios. Se a própria Igreja Católica, que é uma instituição absolutamente conservadora, se reinventou, porque a música de concerto não pode se reinventar?”, indagou.
Prazeres também abordou a interseção da música clássica com a música popular. “Ela se faz mister no Brasil muito porque o país tem uma das mais incríveis músicas populares do planeta. Talvez não fosse a mesma coisa se fosse na Alemanha ou na Áustria, mas o Brasil tem uma música popular, fruto da mistura do seu povo, que faz com que a gente se orgulhe muito dela. E a gente dedicar 5% a 10% da temporada para essa interseção é algo que aproxima o público inclusive da música clássica. Ao interagir com o São João Sinfônico, que por exemplo gera na sociedade uma sensação de pertencimento, o público acaba também indo para os concertos mais tradicionais”, afirmou.
“Nos deixa muito felizes ver que, por exemplo, a gente abriu a temporada deste ano com uma sinfonia de Anton Bruckner, que está fazendo 200 anos em 2024, em um dia de Ba-Vi, em um dia de chuva torrencial em Salvador. Eram quatro dias de chuva sem fim, e a igreja de São Francisco abarrotada, ouvindo a Osba tocar, sem qualquer música popular, sem nada, simplesmente para ver a Orquestra Sinfônica da Bahia”, concluiu.
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