Bando de Teatro Olodum lança nova temporada do Cabaré da Raça | A TARDE
Atarde > Cultura > Teatro

Bando de Teatro Olodum lança nova temporada do Cabaré da Raça

Após um hiato de sete anos, o espetáculo volta a cartaz a partir do dia 17 de maio

Publicado quarta-feira, 27 de março de 2024 às 17:58 h | Autor: Franciano Gomes
Peça estreou em agosto de 1997 com direção de Márcio Meirelles
Peça estreou em agosto de 1997 com direção de Márcio Meirelles -

O Bando de Teatro Olodum lançou, nesta terça-feira, 26, a nova temporada do Projeto Cabaré da Rrrrraça 25+25. A iniciativa traz a apresentação da peça, que estreou em agosto de 1997, levando para o palco temas importantes sobre a realidade do negro do Brasil, além de ações de formação e debates.

Após um hiato de sete anos, o espetáculo volta a cartaz a partir do dia 17 de maio, no Centro Cultural Barroquinha, às sextas, sábados e domingos, até o dia 9 de junho. Criada ainda na década de 90 por Márcio Meirelles e Bando de Teatro Olodum, a peça ganha nova montagem, com direção teatral de Cássia Valle, Leno Sacramento e Valdinéia Soriano, artistas que têm uma longa trajetória no Bando.

Além de atuar, Cássia Vale assume a direção da peça, junto com Leno Sacramento e Valdinéia Soriano
Além de atuar, Cássia Vale assume a direção da peça, junto com Leno Sacramento e Valdinéia Soriano |  Foto: Fernanda Maia | Divulgação

Conhecida nacionalmente como a Mãe Raimunda de “Ó Paí, Ó”, Cássia Valle, que é historiadora, museóloga e tem mestrado em educação, destaca o Bando de Teatro Olodum, como a sua maior universidade.

“Eu estou há 34 anos exercendo o papel de atriz, e desde o ano passado, passando a exercer também essa direção desse grupo que só me ensina, mesmo eu dirigindo, eu sempre estou aprendendo com eles mesmos”, afirmou ela ao Portal A TARDE.

Junto com Márcio Meirelles, ela faz parte do grupo que criou o Cabaré da Rrrraça e com a experiência de 27 anos com a montagem, contou sobre a expectativa de receber o público, de diferentes gerações.

"O Cabaré da Raça é aquele espetáculo que todo verão as pessoas queriam ver, a Bahia toda queria ver, a gente ficou ininterruptamente 15 anos sem parar. Sem parar, verão, inverno, a gente não parava, o público é querido. Então eu acho que vai ser uma emoção muito grande, porque a gente vai ver um público antigo, tem anos que a gente não faz o Cabaré”.

Espetáculo tem coreografia assinada por Zebrinha e a direção musical de Jarbas Bittencourt
Espetáculo tem coreografia assinada por Zebrinha e a direção musical de Jarbas Bittencourt |  Foto: Franciano Gomes | AG. A TARDE

O espetáculo tem coreografia assinada por Zebrinha e a direção musical de Jarbas Bittencourt. Jarbas, que atua como diretor musical do Bando desde 1996, lembrou da estreia de Cabaré da Raça, quando o grupo decretou meia entrada para negros.

“O critério a ser definido era autodeclaração, então, qualquer pessoa que chegasse na bilheteria e se dissesse negro ou negra, pagaria a meia entrada, mas isso virou um escândalo, nós fomos parar nos principais jornais da universidade, ameaçaram acionar o Ministério Público contra o grupo. E assim, num indicativo de que Salvador, naquele momento, apesar de infligir a sua população negra, o racismo diário, com todo o seu peso, com toda a sua ferocidade, desde a porta de casa de cada um de cada uma, se sentia afrontado. Fomos acusados de racismo, enfim. Essa foi a memória que me veio, mas tem outras memórias menos polêmicas e menos políticas também”.

Responsável pela coreografia do espetáculo, Zebrinha ressaltou a experiência dos 27 anos de espetáculo como elemento crucial para trazer novidades nesta temporada.

“Eu acho que existe atualização, acho que nós estamos muito melhores, tanto Jarbas como diretor musical e eu crescendo como diretor de movimento, além dos atores em si, eu acho que depois da experiência de mais de 27 anos, porque eles não foram somente forjados no bando. Acho que eles já trazem uma carga artística, uma carga de representatividade, uma carga emocional, desde a entrar no bando, então, eu acho que só amadureceu, só amadureceu. Vai ser um espetáculo, como diz minha bela véia, ‘pra não botar defeito’”.

Oficina

Além da peça, o grupo promove a Oficina de Performance Negra conduzida pela professora doutora Mabel Freitas, pesquisadora sobre Educação para as Relações Raciais e Ensino da Cultura Afro-Brasileira. O curso gratuito oferecido pelo Bando de Teatro Olodum, há mais de uma década, terá um formato especial este ano, com três núcleos de aulas, acontecendo simultaneamente no Subúrbio, na Cidade Baixa e no Centro Histórico.

O digital influencer Yan Gil, que, diariamente posta trabalhos audiovisuais na internet, é um dos alunos da oficina. Ele vê a oportunidade como a realização de um sonho.

“É uma honra participar dessa oficina, com essa galera, poder estar perto deles, aprender um pouco mais. Eu já sei um pouco, que é a parte da ‘pista, a parte rua’, e agora a gente vai saber no papel, aprender as técnicas mesmo”.

Digital influencer Yan Gil será um dos alunos das  Oficinas de Performance Negra
Digital influencer Yan Gil será um dos alunos das Oficinas de Performance Negra |  Foto: Franciano Gomes | Ag. A TARDE

Quem também esteve presente no evento foi o ator Evaldo Macarrão, que interpretou Jupará na atual versão da novela “Renascer" da Rede Globo. Na ocasião, o ator revelou a sua relação com o Bando.

“Eu busco na minha arte, reparação social, para que eu possa ser respeitado como qualquer outra pessoa. O Bando vem nos dar essa luz com a sua arte, para que a gente possa compreender mais senhor de si. O Bando coloca a gente em cena para que a gente possa protagonizar e ser dono da nossa história, falar da nossa própria história e ser protagonista dela“.

Evaldo Macarrão contou sobre sua relação com o Bando do Teatro Olodum
Evaldo Macarrão contou sobre sua relação com o Bando do Teatro Olodum |  Foto: Franciano Gomes | Ag. A TARDE

Publicações relacionadas