EM CARTA
Roteiristas do Vai Que Cola denunciam assédio e violência psicológica
"Esperamos mudanças para que o Vai que Cola se torne um lugar saudável", diz trecho do documento
Por Da Redação
Roteiristas do 'Vai Que Cola', humorístico do Multishow e atualmente também exibido na TV Globo, assinaram uma carta onde denunciam violência psicológica.
No LinkedIn, o roteirista de TV e Cinema Daniel Porto, que deixou a equipe em 2022, desabafou e acusou a equipe de assédio moral e situações que resultaram em problemas de saúde mental.
Ele iniciou a publicação afirmando que a oportunidade foi boa, mas o preço pago foi caro. "O preço que paguei foi caro: Um BURNOUT digno de uma internação psiquiátrica, depressão e crise de ansiedade como presente pelo ASSÉDIO MORAL que era feito diariamente pelos atores e equipe de criação aos roteiristas", escreveu.
Ele afirmou ainda que financeiramente, o salário é tão desrespeitoso quanto o tratamento dado aos roteiristas. "Não importa seu currículo, um roteirista recebe entre 5/6 mil reais por mês para escrever aproximadamente 10 episódios do programa, e nem um centavo a mais pelas inúmeras reexibição do programa na TV".
Já em uma carta conjunta, a equipe afirmou que Gabeh teria sido vítima de "implicância e perseguição" pelo elenco e afirmaram que o ambiente das gravações é hostil.
Confira a carta na íntegra:
"Nós, roteiristas do programa Vai Que Cola - Temporada 11, escrevemos esta carta para nos solidarizarmos com o roteirista André Gabeh, demitido arbitrariamente a pedido de parte do elenco da série. Queremos deixar claro que somos uma equipe que tem amor pelo Vai que Cola e por cada profissional que faz essa série acontecer; por isso, esta é uma carta com afeto, sem intenção de gerar conflito.
André Gabeh é um artista sério, competente, comprometido e que vinha sendo muito elogiado tecnicamente por toda a equipe, produtora Fábrica, Multishow e Globo, ao longo da temporada. São mais de 50 profissionais que acompanham o processo de criação e leitura dos textos. Os roteiros de André Gabeh sempre foram muito elogiados e aprovados com mérito, além de muitas vezes servirem como referência para nós.
André Gabeh é também um escritor preto, gay e periférico, o que é importante ressaltar dentro de um contexto em que 'a corda sempre arrebenta do lado mais frágil'. Perdemos um roteirista brilhante, um dos poucos suburbanos escrevendo para personagens suburbanos.
A implicância ou perseguição, por parte do elenco, com o autor não é de hoje. Desde o ano passado, André Gabeh vem sendo melindrado e diminuído. E mesmo assim, seguia exercendo seu trabalho com empenho e competência.
Recebemos com consternação a notícia de que ele havia sido demitido faltando menos de um mês para encerrarmos a sala de roteiro. Nosso trabalho é feito em equipe, e uma perda dessas, além de injusta, pois o mesmo nunca deixou de cumprir prazos e realizar seu trabalho com excelência, abala a todos. Somos profissionais, mas antes de tudo, seres humanos.
Como artistas, respeitamos todos os talentos que fazem do Vai que Cola o maior programa de humor do país. Infelizmente, o respeito não é recíproco. A maioria dos roteiristas deste programa trabalha há anos no mercado e já fez parte deste e de outros projetos muito bem-sucedidos e premiados. Temos certeza de que entregamos roteiros com qualidade, mesmo levando em conta as difíceis exigências impostas para a feitura das sinopses, escaletas e roteiros, tais como: prazos apertados, ausência de personagens importantes, indisponibilidade do elenco para gravação etc.
Atualmente, a atmosfera de trabalho é de apreensão e medo, pois os roteiros recebem diversas críticas infundadas e abstratas. Críticas estas que dizem respeito, na maior parte dos casos, aos gostos pessoais e não à técnica e podem ter consequências desastrosas, como a recente demissão do roteirista André Gabeh.
Gostaríamos de deixar bem claro que não somos contra as críticas construtivas, que são sempre acatadas, sem discussão, quando é o caso de enriquecimento e melhoria do resultado final do roteiro. Acreditamos também que é muito saudável ter uma troca com os atores, desde que essa troca seja respeitosa de ambos os lados. Sempre estivemos abertos a fazer adaptações de maneira que cada ator ou atriz brilhe em cena e fique feliz com seu personagem. Contudo, o que vem acontecendo é uma violência psicológica.
A falta de respeito com o programa e com os roteiristas pode ser exemplificada com o fato de que parte do elenco não lê o texto antecipadamente e não lê o roteiro em sua integridade (apenas as falas de seus próprios personagens), o que naturalmente dificulta o entendimento geral da trama de cada episódio.
Pensamos que escrever um programa de comédia deve ser prazeroso; afinal, estamos levando alegria para milhões de brasileiros. Em sua maioria, trabalhadores (como André Gabeh) que fazem este país girar, que precisam rir e se distrair de suas duras realidades. Amamos escrever para o Vai que Cola, mas prezamos muito pela nossa saúde mental, e abrir mão dela é inegociável.
Esperamos mudanças para que o Vai que Cola se torne um lugar saudável e acolhedor não apenas para nós, mas para todos os roteiristas que virão depois e para todos os profissionais envolvidos nessa engrenagem. Não queremos de forma alguma que este momento seja interpretado como uma 'guerra de bastidores entre elenco e roteiristas', mas sim como um pedido de paz e respeito.
Gostaríamos também de ressaltar que existem pessoas no elenco que nada têm a ver com isso, cumprindo suas funções com brilhantismo, profissionalismo e cordialidade. Aguardamos retorno com uma proposta de ação concreta.
Atenciosamente, equipe de roteiro do Vai que Cola."
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