CULTURA NEGRA
“Estaremos no Liberatum por uma causa e para defendê-la”, diz Lazzo
Cantor e compositor fará um show aberto ao público no Festival internacional
Por Renato Alban
Há algumas semanas, o Festival Liberatum, que será realizado nesta semana, tem provocado um burburinho em Salvador. O encontro de grandes atores americanos, como Viola Davis, Julius Tennon e Angela Bassett, com artistas brasileiros, como Alcione, Margareth Menezes e Lazzo Matumbi, despertou o interesse dos baianos.
Leia mais: Confira a programação do Liberatum em Salvador
Os ingressos para o Liberatum foram disponibilizados gratuitamente na última sexta-feira, 27, mas toda a programação será exibida online pelo perfil do TikTok @liberatum, para quem não conseguiu garantir a entrada. Os painéis, premiações e shows serão entre esta sexta-feira, 3, e a segunda-feira seguinte, 6. É a primeira edição do evento no Brasil.
Criado em 2001, o festival já foi realizado em mais de 10 países e cinco continentes, com participação de personalidades como os americanos Will Smith e Cher, a britânica Zaha Hadid e os brasileiros Pelé e Pabllo Vittar.
De acordo com a organização, o evento tem como objetivo promover a igualdade, a diversidade e a inclusão. Na Bahia, o festival será centrado na cultura negra.
“É sempre importante receber eventos com foco na cultura afrodiaspórica e negra na Bahia”, afirma o cantor e compositor Lazzo Matumbi, que fará um show aberto ao público, no domingo, 5, com músicos do bar americano Ground Zero Blues Club na Praça Visconde de Cairu, no Comércio. “Todos nós estaremos no evento por uma causa e para defendê-la”, diz Lazzo.
O festival também terá painéis no Centro de Convenções de Salvador, na Boca do Rio; no Candyal Ghetto Square, no Candeal; e no Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira, no Centro Histórico. Além dos painéis, a cantora maranhense Alcione e a atriz americana Angela Bassett serão homenageadas no evento com prêmios.
A programação, divulgada na última quinta-feira, 26, está repleta de encontros, como um painel do casal de atores Viola Davis e Julius Tennon com a atriz carioca Taís Araújo e a empresária americana do entretenimento Melanie Clark sobre cultura afrodiaspórica. A expressão se refere aos povos africanos obrigados a migrar para outros continentes e seus descendentes.
Intercâmbio
Diretor artístico do Festival Liberatum na Bahia, o produtor audiovisual Gil Alves afirma que a ideia dos painéis e shows é a promoção do intercâmbio cultural. “Todos os artistas que vão se apresentar terão uma troca. A ideia não é separar os convidados”, explica. Para ele, o festival vai demonstrar, inclusive, que o Brasil e a Bahia são fontes de inspiração mundo afora.
Criador do Liberatum, o empresário e artista indiano Pablo Ganguli ressalta que o evento também pode ajudar artistas da Bahia a criar conexões e a construir novos caminhos e oportunidades. “Esse festival não é sobre fama, é sobre diversidade, e sobre os artistas baianos”, disse Pablo, durante a divulgação da programação na última quinta-feira.
É com essa ideia, por exemplo, que o festival vai reunir os estilistas baianos Pedro Guerra e Hisan Silva, da grife Dendezeiro, com a cantora carioca Iza e o americano Alton Mason, o primeiro modelo negro a desfilar pela Chanel. A modelo britânica Naomi Campbell também tinha a participação anunciada, mas, segundo a organização, ela cancelou por conflito de agenda.
O ator americano Morgan Freeman, que também estava na programação, precisou cancelar, de acordo com a organização do evento, por conta da greve dos roteiristas de Hollywood. Apesar disso, os músicos do bar Ground Zero Blues Club, do qual Freeman é dono, estão confirmados para a apresentação com Lazzo.
Para o cantor baiano, há uma “sinergia” com os músicos. “Ela se dá através da música de labor, onde nasce o Blues cantado pelos negros norte-americanos nas fazendas de plantações de algodão, assim como a nossa música deriva do canto de labor nascido nas plantações de cana de açúcar”, explica o artista.
Identidade ancestral
Para Lazzo, no entanto, a valorização da cultura afrodiaspórica não pode se encerrar no festival. “É preciso que nossa gente tenha eventos não só para se entreter, mas para entender a nossa identidade ancestral”. Segundo o artista, faltam investimentos público e privado na área. “Tenho visto algumas ações no entretenimento, mas não estamos aqui só para a alegria da cidade”.
Titulares da Secretaria de Turismo da Bahia (Setur) e da Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), Marcelo Bacellar e Pedro Tourinho, respectivamente, prometeram durante coletiva na última quinta-feira programações voltadas à cultura negra durante todo o ano e, em especial, em novembro, quando é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra. As duas secretarias patrocinam o Liberatum.
O titular da Secult afirmou que o evento abre a programação de novembro, que também terá o festival Afropunk, o festival internacional de cinema negro Candyall e Tal, o festival Salvador Capital Afro e um desfile de blocos afro na Praça Castro Alves no final do mês.
Bacellar cita o projeto Agô Bahia, de qualificação e estruturação de roteiros turísticos e melhorias de infraestrutura de terreiros de religiões de matriz africana. Sobre o Liberatum, o secretário estadual afirma que o festival deixará um “legado grande para a Bahia”.
Tourinho complementou: “O legado é o da conexão. É o novo momento da cidade conectado com a cultura afro do mundo”. O secretário municipal afirmou que tem expectativa de que outras edições sejam realizadas na cidade. “Se essa relação for perene, como vamos trabalhar para que seja, esse legado vai ser renovado todo ano”.
Pablo Ganguli, criador do evento, tem a mesma intenção: “Nossa meta é colocar a Bahia e Salvador no mapa mundial da cultura. Todos os anos, se Deus e Oxalá quiserem”.
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