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Gerônimo inspira-se nas águas em novo DVD

Publicado domingo, 11 de dezembro de 2011 às 10:14 h | Atualizado em 11/12/2011, 10:15 | Autor: Luciano Aguiar

O movimento natural das águas inspirou Gerônimo ao titular o novo DVD, Maré de Lançamento, que ele apresenta à Bahia no próximo dia 19 (segunda-feira), a partir das 18 horas, no Museu de Arte Moderna da Bahia. Trata-se de um registro do show que o cantor apresentou com a banda Mont‘Serrat, este ano, no Teatro Castro Alves, pelo projeto Domingo no TCA e com a participação especial de Bira Marques com a Orquestra Afro Sinfônica.

Entre as cheias e vazantes da própria vida, o compositor reconhece o momento presente como de espraiar artístico. O convite para se apresentar pelo projeto Domingo no TCA, com ingressos a R$ 1, o público que encheu a sala e a gravação pela TVE demonstram mesmo que a maré está para peixe, e dos grandes. Gerônimo não perde a oportunidade e lança esse registro em vídeo com o que vem apresentando nos oito anos de projeto na Escadaria do Paço, no Centro Histórico.

De acordo com o artista, este é o seu segundo registro documental em DVD, que traz 22 faixas selecionadas entre um vasto repertório. Não poderiam faltar clássicos como É D’Oxum, Jubiabá e Eu Sou Negão.

“Mas eu coloquei também algumas músicas inéditas (na voz dele)”, diz Gerônimo. Entre elas, Vida Feliz, parceria com Saul Barbosa; Acaba Quando Começa, já gravada por Jorge Aragão, Netinho e Elba Ramalho; Fumo e Mel e Alvorada Alerta Mocidade.

Boca no trombone - Nome expressivo da música produzida na Boa Terra, Gerônimo, autor de canções que remetem a uma Bahia amadiana, como É d´Oxum, faz críticas ao atual momento da música no Estado. “O axé virou elite, só quem está no camarote ou entre as cordas se delicia. E aí veio esse movimento do gueto, de pagode, que ao mesmo tempo é um protesto social, mesmo colocando a mulher – fonte de inspiração – como elemento de terceira classe, e elas até curtem fazer os movimentos eróticos”, argumenta o artista.

“O axé podia ter uma letra pueril, infantil, romântica, mas as melodias eram diferentes. Mas hoje, quando você escuta as músicas de pagode, percebe-se que os caras não têm a mínima noção do que é plágio. É tudo igual. A única coisa que fica diferente é o tema”, lamenta.

Gerônimo ressalta o ritmo sedutor do pagode: “É o lundu projetado com mais eficiência de ritmos, com mais instrumentos. São músicas curtinhas e com repetições intensas do tema das ações. E no Brasil, principalmente no Nordeste, poucos se importam com o que a letra diz. Mas quando a música começa a colocar situações que antigamente seriam proibidas de falar, isso se torna uma proposta de contestação e crítica social”, reflete o artista, que brinca:

“Essa música invade todas as casas. Você vai ver que uma hora dessas vai ter inaugurações oficiais, municipais e governamentais com o pagode tocando. E vêm o prefeito e o governador da época quebrando até o chão, a mulherada toda, todo mundo fazendo aquela dança sensual. Tudo isso pode acontecer, porque a música é capaz de unir exércitos, povos, como também pode fazer o contrário. Ela pode colocar na cabeça das pessoas que elas são o que são porque devem ser assim. Ela pode incentivar o uso de drogas, o estupro, podem dizer à mulher que ela pode perder o pudor e soltar mais a libido”, explica.

“Por ser a música uma atividade, temos que ter muito cuidado com aquilo que a gente faz”, sentencia o artista, que ainda completa: “E quem sou eu para poder consertar isso. Existe também aí um grande interesse capitalista”.

LANÇAMENTO DO DVD MARÉ DE LANÇAMENTO, DE GERÔNIMO / DIA 19, ÀS 18 HORAS / MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA – SOLAR DO UNHÃO

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