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PRECIOSAS E HOMENAGEADAS

No MAC, mostra ‘Dona Fulô e Outras Joias Negras’ revela o poder das “joias de crioula”

Mostra terá lançamento de livro e artistas diversos em exposição paralela

Por Grazy Kaimbé*

07/11/2024 - 0:30 h
Retrato de Dona Florinda, Salvador, sem data
Retrato de Dona Florinda, Salvador, sem data -

Com uma curadoria que destaca o protagonismo das mulheres negras que desenvolveram a “economia da liberdade” em pleno Brasil colonial, a exposição Dona Fulô e Outras Joias Negras apresenta uma coleção rara de “Joias de Crioula”, utilizadas por mulheres negras alforriadas. Por meio dessas joias, elas mantinham vivas as raízes africanas e reafirmavam a autoestima e a identidade cultural das mulheres pretas.

Promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a exposição começa hoje, no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC-BA) e vai até fevereiro, de terça-feira a domingo, das 10h às 20h.

A mostra será acompanhada pelo lançamento do livro Florindas, que documenta a trajetória e a importância dessas joias e das mulheres que as usavam, com textos de autores como Gilberto Gil, Vik Muniz e Eduardo Bueno.

A história por trás dessa coleção e exposição teve início com o colecionador baiano Itamar Musse. Após adquirir as joias, ele recebeu de presente uma antiga fotografia do renomado artista, curador e museólogo Emanoel Araújo, um dos maiores expoentes da arte afro-brasileira. Na imagem, uma mulher negra, adornada com joias, exibia uma pulseira idêntica a uma das peças de sua coleção. A mulher era Florinda Anna do Nascimento, Dona Fulô. Esse encontro visual levou Musse a uma intensa pesquisa, que o aproximou não só da identidade de Dona Fulô, mas também do universo de outras mulheres negras.

“As peças da exposição representam uma linguagem de resistência. Historicamente, as mulheres negras, mesmo alforriadas, eram proibidas de usar seda, cambraia e joias de ouro. Elas, então, começaram a criar suas próprias peças, carregadas de valor simbólico e religioso. A mostra traz esse legado como uma inscrição simbólica – nas vestimentas, nas joias – que atravessa o tempo e chega à contemporaneidade”, afirma Marília Panitz, uma das curadoras da exposição.

Três núcleos e resistência

A exposição é organizada em três núcleos principais: Histórias Florindas, Raras Florindas e Armas Florindas. O primeiro núcleo, Histórias Florindas, transporta o visitante ao Brasil colonial e imperial, especialmente à Bahia dos séculos XVIII e XIX, onde mulheres negras alforriadas praticavam uma resistência silenciosa ao adornarem-se com joias, reafirmando suas raízes africanas. Em um ambiente imersivo, o público se depara com registros artísticos e fotográficos que documentam essas figuras históricas, com obras de artistas como Pierre Verger e Jean Baptiste Debret.

A curadora Marília Panitz destaca que a pesquisa para a mostra envolveu uma colaboração estreita com a Irmandade da Boa Morte de Cachoeira e com os primeiros terreiros, como a Casa Branca (Ilê Axé Iyá Nassô Oká), que forneceram informações fundamentais e validaram os textos, garantindo a precisão histórica e cultural da exposição. “Foi uma construção coletiva, com a participação ativa das ialorixás dos terreiros, para que tudo estivesse alinhado com a tradição”, afirma.

O segundo núcleo, Raras Florindas, exibe a coleção de “Joias de Crioula” reunida por Itamar Musse, apresentando-as junto a tecidos e fotos das mulheres adornadas. A figura central é Dona Fulô, cujas joias, capturadas na fotografia, estão integradas a essa coleção.

A curadoria desse núcleo ficou sob a responsabilidade de Carol Barreto, professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que destacou a importância da exposição.

“Essas joias têm um valor imenso para as mulheres baianas de religiões de matriz africana. Representam uma resistência que precisou ser sutil para sobreviver. É uma fusão dos elementos que, nas comunidades de terreiro e quilombolas, conseguiram preservar”, afirma.

O terceiro núcleo, Armas Florindas, apresenta um recorte da produção contemporânea de artistas brasileiros negros que emulam essa história e propõem novas transgressões poéticas. Através de esculturas, vídeos, pinturas, objetos e outras mídias, os artistas expandem o conceito das joias de Dona Fulô: joias-folhas, joias-marés, joias-rezas, joias-roupas. Os recursos vão desde o uso do corpo como cofre para proteger bens até a espiritualidade, que fundamenta e nutre a cultura afro-brasileira.

Outras joias negras

Além de fazer parte do núcleo de curadores da exposição, Carol Barreto foi convidada pelo organizador Eduardo Bueno para contribuir como uma das autoras do livro Florindas, ao lado de outros renomados escritores.

“No meu texto e na minha parte da curadoria, busco confrontar a objetificação da mulher negra. Na área da linguagem, entendemos a importância de evitar termos como ‘escrava’; preferimos ‘escravizada’, pois marca uma condição do passado imposta por outros. Termos como ‘negra de ganho’, ‘comprada’ e ‘vendida’ também reforçam essa objetificação imposta às mulheres negras, uma realidade cujas consequências ainda hoje enfrentamos”, detalha a pesquisadora.

O livro retrata aspectos fundamentais das condições de vida das mulheres negras na Bahia dos séculos XIX e XX, trazendo à tona a impressionante história de Florinda Anna do Nascimento, carinhosamente conhecida como Dona Fulô. A obra também inclui um poema de Gilberto Gil, que presta homenagem a Florinda, e reúne textos de diversos autores, entre eles o artista plástico Vik Muniz, cuja obra ilustra a capa da edição.

Ao longo de mais de 400 páginas, nomes como Gilberto Gil, Carol Barreto, Eduardo Bueno, Giovana Xavier, Sheila de Castro Faria, Lilia Moritz Schwarcz, Mary Del Priore, Thaiz Darzé e Pedro Corrêa do Lago enriquecem a memória de Florinda com sentimentos profundos, lembranças e experiências pessoais.

Dona Fulô e Outras Joias Negras / Abertura: hoje / Lançamento do livro e conversa com o editor Charles Cosac: 16h / Bate papo com as curadoras Carol Barreto, Eneida Sanches e Marilia Panitz: 19h / Museu de Arte Contemporânea – MAC BA (Rua da Graça, 284, Graça) / Visitação até 16 de fevereiro de 2025, de terça-feira a domingo, das 10 às 20h

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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Tags:

dona florinda Dona Fulô e Outras Joias Negras joias de crioula mostra Museu de Arte Contemporânea da Bahia

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