CULTURA
Paineis do G20 na Bahia debatem soluções para a crise climática
Sediado em Salvador, GT de Cultura tem focado discussão na preservação ambiental
Por Lula Bonfim
O segundo dia da última rodada de reuniões do Grupo de Trabalho (GT) da Cultura no G20 (cúpula dos 20 países mais ricos do mundo) ocorreu com alguns atrasos em sua programação nesta terça-feira, 5, no Centro de Convenções de Salvador. O evento foi marcado por diversos paineis, todos focados na relação entre aspectos socioculturais e o combate à crise climática.
Um dos paineis, com o tema “Cultura, cosmologias e clima: construindo pontes entre cosmovisões para um mundo sustentável” foi mediado pelo secretário estadual da Cultura, Bruno Monteiro, que acompanhou cinco palestrantes: os professores Daniel Munduruku, Fábio Scarano e Nancy Mangabeira, além da pesquisadora Patrícia Pinho e do artista argentino Tomas Saraceno.
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Durante a mesa de discussão, os palestrantes abordaram o que a humanidade precisa fazer, de forma urgente, para se salvar diante da ameaça climática, hoje alimentada pela forma com que homens e mulheres lidam com o meio ambiente.
“Tratamos da conexão da ciência com a preservação ambiental e, obviamente também, em que caminho a cultura se encontra nesse desafio, que é urgente. Nós não podemos ficar protelando esse debate ambiental, como vem sendo feito há muito tempo, sempre se tratando como algo que é um problema para o futuro, mas é uma emergência do presente. Então, requer uma atitude de todos nós no tempo presente”, afirmou Bruno Monteiro.
Para Daniel Munduruku, que é considerado também uma relevante liderança indígena, a humanidade está atrasada para começar a lidar com o tema. Porém, segundo ele, a experiência dos povos originários do Brasil seria um bom exemplo para que o resto do planeta siga.
“Já passou da hora. Acredito que os indígenas têm absoluta consciência disso, de que eles são parte importante, poderosa, na resolução dos problemas ambientais. Mas, de uma certa maneira, ainda aguardam uma certa boa vontade do poder público, para que, de fato, eles possam ser ouvidos. E ouvidos não apenas como guardiões da natureza, mas como pessoas que podem pensar soluções para que a natureza seja um bem cada vez mais precioso para todo mundo”, declarou Munduruku.
Questionado pelo Portal A TARDE sobre o que os Estados podem fazer, em termos governamentais, para combater a crise climática, Fábio Scarano foi enfático: é preciso fazer cumprir as legislações, que já existem para proteger o meio ambiente e controlar os efeitos humanos sobre o clima.
“Se a gente conseguir cumprir algumas leis, já vai ser bom à beça. No Brasil, metade da nossa emissão de gases do efeito estufa praticamente se dá por desmatamento. Mas cerca de 80% desse desmatamento é ilegal. Se a gente cumprir a lei e acabar com o desmatamento ilegal, dentro dos países do G20 o Brasil, provavelmente, vai ser o menor emissor de todos. Isso daria para a gente uma baita vantagem comparativa, isso ganharia tempo para o nosso parque industrial fazer transição para uma economia menos intensa em carbono. Mas, para isso, a gente precisa fazer com que leis sejam cumpridas”, argumentou Scarano.
Apesar disso, o estudioso defendeu que a sociedade não espere que governos ou empresas atuem na defesa do meio ambiente. Para ele, o primeiro passo precisa ser dado individualmente, por cada cidadão.
“A gente não pode só esperar que o Estado ou que as empresas mudem. A gente tem que procurar fazer a nossa parte. E a gente pode fazer a nossa parte não só com a prática cotidiana, mas com o nosso voto, com a nossa ação civil organizada ou mesmo individual. Isso é o que chamo de utopia pragmática: a gente sonhar com mundo melhor, mas todo dia estar trabalhando por isso”, disse Scarano.
“Gandhi falava isso: a gente tem que ser a transformação que a gente quer ver no mundo. Eu acredito piamente nisso. Se todo dia, quando a gente acorda de manhã, a gente imaginar que pode ser um pouquinho melhor do que foi ontem, isso cria uma onda bacana, que contagia outras pessoas, e a gente é contagiado por outras pessoas também. E aí, quem sabe um dia, criamos esse mundo melhor, que a gente deseja”, acrescentou o professor.
Durante os debates, a professora Nancy acabou se sentindo mal e foi atendida por socorristas presentes no Centro de Convenções de Salvador. De acordo com informações da organização do evento, a palestrante passa bem.
Ao final de tudo, o secretário estadual Bruno Monteiro fez uma avaliação do painel para o Portal A TARDE e ressaltou a importância da contribuição dos indígenas e de outros povos considerados tradicionais, que já atuam para a defesa do meio ambiente.
“Nós precisamos aprender muito com os povos tradicionais: quilombolas, indígenas, de terreiro, ribeirinhos, que desenvolvem os seus saberes e expressões culturais sempre a partir de uma lógica da preservação e da boa convivência com o meio ambiente. Essa provocação deve servir como inspiração para todos nós, ao longo dos próximos anos”, concluiu Monteiro.
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