LUTO
Relembre a carreira e o legado de Carlos Pitta
A Bahia dá adeus a Carlos Pitta, o homem do ‘Cometa Mambembe’
Por Chico Castro Jr.
Atire o primeiro mamãe-sacode quem nunca deu uma enlouquecida no Campo Grande ou na Avenida Sete ao som de Cometa Mambembe. O refrão, praticamente uma oração ao universo, não importa quão enigmáticas sejam suas palavras, sempre lava a alma do povo na rua: “Tenha fé no azul que tá no frevo / Que azul é a cor da alegria / No cavalo mambembe sem relevo / No galope de Olinda pra Bahia, uoh”. Ontem, o azul recebeu de braços abertos o compositor desta pérola, o músico feirense Carlos Pitta.
Pitta morreu no início da tarde desta terça-feira (7), aos 69 anos. Ele estava internado no Hospital Roberto Santos, em Salvador, por conta de complicações da diabetes.
Versátil, Pitta trafegou da música armorial no início da carreira ao “forróck” de Cometa Mambembe (a rigor, um galope) e ao forró raiz nas últimas décadas. O hit que marcou para sempre sua carreira está registrada no LP Feliz (RCA), de 1988 – embora seja tão forte que pareça fazer parte de nossas vidas desde sempre.
Criado na Avenida Senhor dos Passos, em Feira de Santana, Pitta foi desde criança fascinado pela cultura popular nordestina, que viu florescer pelas feiras locais.
Veio a Salvador estudar Composição e Regência na Escola de Música da Ufba em 1975. Ao podcast feirense Escuto Cá Entre Nós (EP 103), contou que morava em uma república de estudantes, se alimentava dia sim, dia não e sobrevivia dando aulas de violão. A princípio, o sonho de viver de música, não teve o apoio da família. Isso só mudou quando começou a estampar matérias de jornal e ter suas músicas executadas em rádio.
Em 1979, lançou seu primeiro LP, Águas Do São Francisco (selo Chantecler), fortemente influenciado pela literatura de cordel e tratando de reis, rainhas, príncipes e princesas, ao estilo armorial.
Outro que vale citar é A Lenda Do Pássaro Que Roubou O Fogo (1983, selo Macunaíma), em parceria com a poeta Myriam Fraga, arranjos do maestro Lindenbergue Cardoso, arte de Calazans Neto e texto de apresentação de Jorge Amado – um luxo só.
No total, registrou 15 álbuns. Foi gravado por grandes nomes da MPB, como Elba Ramalho, Alcione, Trio Nordestino e Margareth Menezes.
Dividiu o palco com Caetano Veloso, Dominguinhos, Belchior, Geraldo Azevedo, Fagner, Nando Cordel e Ivete Sangalo – esta última contou em uma entrevista ao podcast de Mano Brown que foi Pitta o primeiro músico de renome a notar seu talento e incentiva-la, ao ouvi-la cantando em um barzinho.
Notas de pesar
Em nota de pesar, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia notou que “Pitta era um verdadeiro ícone da cultura nordestina, sertaneja e popular. Com seu ‘forrock’, projetou Feira de Santana e Bahia para o mundo. Os sucessos Cometa Mambembe, Todos os Caminhos levam a Feira de Santana e Abrigo Predileto, são algumas das obras do compositor, poeta e intérprete que, como ele mesmo dizia ‘rodou na roda do mundo’ e foi parar em Feira de Santana”.
Prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo também lamentou a perda: “A morte de Carlos Pitta representa uma grande perda para a música e para a nossa cidade. Ele foi um grande artista que deixou um legado imensurável. Seus álbuns, composições e apresentações ficarão para sempre na memória do nosso povo”.
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