TEATRO
Você está pronto para ouvir o silêncio? Peça com bonecos emociona plateias
Premiado espetáculo ‘Habite-me’ estreia na CAIXA
Por Chico Castro Jr.

Uma reflexão sobre a efemeridade do tempo, os ciclos do corpo e a impossibilidade de nomear tudo o que nos habita. Não, não é um filme do Ingmar Bergman, é um espetáculo teatral com uma atriz, suas máscaras e bonecos. Este é Habite-me, com Carolina Garcia Marques, que estreia amanhã, na CAIXA Cultural Salvador.
Com direção e dramaturgia de Paulo Balardim, o solo, uma co-produção realizada entre Brasil, Canadá e Bélgica e que já circulou por diversas cidades do Brasil, Uruguai e França, traz a atriz gaúcha se desdobrando em sete personagens em cena, que aliás, tem pouca ou nenhuma comunicação verbal – ponto crucial na pesquisa da artista para o espetáculo.
“Esse foi, talvez, o coração da pesquisa. O desafio não era apenas ‘substituir’ a palavra, mas entender o que emerge quando ela se cala. A partir da relação entre corpo e matéria – entre habitação e pertencimento – e através da linguagem do teatro de formas animadas, muito é contado em silêncio”, afirma Carolina.
“Trabalhei com a percepção expandida do corpo como linguagem, com a escuta do ritmo e da presença. Os bonecos, as máscaras, o espaço e o tempo compõem comigo uma dramaturgia silenciosa, mas muito viva. Cada cena nasce da relação — do tempo de escuta entre o corpo e o objeto. E nesse processo, o texto deixa de ser verbal para se tornar sensível”, detalha a artista.
Efemeridade no centro

Por meio da música, da dança e da interação com os bonecos, Carolina apresenta no palco questões universais, que tocam espectadores de qualquer lugar, sejam baianos, franceses ou uruguaios
“É um espetáculo universal, que toca em questões humanas, atravessando as diferenças culturais. Em cada contexto, o público parece sempre disposto a decifrar silêncios e se deixar conduzir pelo mistério dessa linguagem não verbal – ritmada pela interação entre objetos, dança e música”, diz.
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“A recepção nas plateias é profundamente afetiva. Muitas pessoas já assistiram ao espetáculo mais de uma vez, e a cada novo olhar, surge algo que ressignifica ou destaca diferentes camadas da experiência. O mais bonito é perceber que cada pessoa encontra um caminho próprio de entrada na cena – um percurso íntimo e sensível, que completa o que parecia silencioso com fragmentos da sua própria história, no tempo de vida em que assiste”, observa Carolina.
Mais do que atuar como uma (ou sete) personagens, a artista quer fazer no palco algo além: quer ser ‘passagens, estados’ (do ser). “Habitar tantos corpos é também ser habitada por eles. Há algo de ritual nisso – uma entrega ao presente, à impermanência e ao invisível que sustenta a cena. (...) A efemeridade está no centro da proposta: tudo se forma e se desfaz o tempo todo (..) Gosto da ideia de compartilhar o palco com presenças que não são humanas, mas que são profundamente vivas. Bonecos e máscaras me ensinam isso todos os dias”.
“As referências são muitas, vindas de diferentes vertentes artísticas e filosóficas. Mas destaco aqui os próprios parceiros que construíram esta obra comigo — artistas e criadores que admiro profundamente: Paulo Balardim, Márcia Pinheiro, Emilie Racine, Élcio Rossini, Tuur Florizoone e Laurence Castonguay. Lua Pasquimell, Wilson Neto e Lydia Arruda são parte fundamental da continuidade dessa trajetória”, agradece Carolina.
Habite-me / Quinta (10) e sexta (11), 20h; sábado (12) 16h e 20h; domingo (13) às 16h e 19h / CAIXA Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57 – Centro) / R$ 30 e R$ 15 / Vendas: Sympla / Classificação: Livre
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