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Nordeste é a segunda região com mais solicitações de empréstimos

Nordestinos respondem por 17% dos pedidos em 2023, atrás da população do Sudeste (60%)

Publicado segunda-feira, 01 de abril de 2024 às 06:30 h | Autor: Mariana Bamberg
Economista comportamental Lai Santiago lembra que o Nordeste já tem histórico expressivo de pedidos de empréstimo
Economista comportamental Lai Santiago lembra que o Nordeste já tem histórico expressivo de pedidos de empréstimo -

Considerado solução para uns e problema para outros, os empréstimos continuam sendo populares opções de crédito no Nordeste. A região foi a segunda no Brasil com mais solicitações, segundo um relatório anual divulgado pela Simplic, uma fintech brasileira de crédito pessoal. Os nordestinos representaram 17% dos pedidos de empréstimo em 2023, atrás apenas da população do Sudeste, que foi responsável por 60% dos negócios fechados e historicamente já ocupa a primeira posição neste ranking.

Economista comportamental, Lai Santiago lembra que o Nordeste também já tem um histórico expressivo de pedidos de empréstimo. E, para ela, esse dado não é necessariamente ruim. “O acesso a crédito por si só já representa um ponto positivo porque, para que uma pessoa consiga dinheiro emprestado, é preciso normalmente ter um perfil de bom pagador e um bom score”, avalia ela.

Apesar de ainda estar atrás do Sudeste, o Nordeste foi a região que experimentou o maior crescimento em volume de pedidos de empréstimo na comparação entre os anos de 2022 e 2023. Quem aponta isso é Ana Paula Oliveira, especialista da Simplic. De acordo com ela, esse aumento significativo pode ser atribuído a uma série de fatores, como a expansão da população economicamente ativa na região, a busca por soluções para condições econômicas desafiadoras - como a crise causada pela pandemia da Covid-19 -, a crescente conscientização sobre as opções de crédito disponíveis e ainda a redução das taxas de juros pelo Banco Central.

No final de março, a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, sofreu seu sexto corte, chegando a 10,75% ao ano, o menor patamar desde fevereiro de 2022. Essas quedas geraram um efeito cascata nos juros praticados nos empréstimos que usam a Selic como ponto de referência, tornando-os mais atrativos. A Associação Nacional de Executivos (Anefac) fez um levantamento que detalha essa relação. Por exemplo, em janeiro do ano passado, a taxa básica de juros estava em 1,12% ao mês e a média dos juros de empréstimos pessoais em bancos ficava em 4,08% mensalmente. Já no mesmo mês de 2024, a Selic desceu para 0,96% ao mês, e a média de juros dos empréstimos também caiu para 3,86%.

Ao todo, as operações de empréstimo no país fecharam o ano de 2023 totalizando R$ 5,783 trilhões, um aumento de 4,7% quando comparado ao ano anterior, segundo o Banco Central. Para este ano, a expectativa, segundo Ana Paula, é ainda melhor. A previsão dela - que leva em conta fatores como políticas monetárias, taxas de juros, eleições e índice de desemprego - “é que haja um crescimento na busca por empréstimo”.

A publicitária Paula Castro, de 31 anos, terminou neste mês de março de pagar o empréstimo que pediu em 2022 e já prevê precisar de um outro neste ano para a mesma finalidade. Ela está ajudando com as despesas de uma obra na casa da família. O crédito já quitado foi suficiente apenas para a etapa inicial da reforma.

“Muito provavelmente será necessário pedir outro para dar continuidade à obra, mas estamos tentando reorganizar as finanças antes”, conta a publicitária. Para evitar juros ainda maiores, ela tentava, sempre que possível, amortizar mais parcelas do empréstimo. Enquanto Paula fez a solicitação do crédito pelo celular, em um banco digital onde tem conta, sua mãe pediu um empréstimo consignado, também com a mesma finalidade, mas que só terminará o pagamento em 2025.

“Não me arrependo porque foi algo necessário para tirarmos um projeto de muitos anos do papel. A casa precisava de reparos urgentes e, então, aproveitamos para já iniciar a reforma tão desejada”, avalia.

A economista comportamental chama atenção para a má impressão que muitas pessoas têm do empréstimo. Para ela, essa, na verdade, é uma ferramenta por meio da qual “a maioria da população realiza o sonho de ter um carro e uma casa própria”. O problema, no entanto, vem quando há o mau uso e escolha deste crédito.

“Acessar crédito é sinônimo de você tem credibilidade frente ao mercado, que os bancos e as empresas acreditam nas suas intenções e na sua capacidade de pagamento. Se você hoje consegue ter acesso a empréstimo, cartões de crédito e financiamentos, comemore, mas saiba utilizar esses recursos com consciência e equilíbrio. É por conta do mau uso da ferramenta e dos juros altos, comuns no contexto brasileiro, que as pessoas têm uma visão tão negativa dos empréstimos”, afirma.

Negócio e dívidas

Segundo o levantamento da Simplic, metade dos pedidos de empréstimos realizados na plataforma em 2023 foi destinada a abrir um novo negócio (20%) e pagar dívidas (30%). Mas o que era para ser uma solução pode, sim, se tornar outro problema

“Diversas pessoas podem acabar, na melhor das intenções, contraindo novas dívidas para sanar problemas financeiros sem se atentar para sua capacidade de pagamento. Isso pode ocasionar a famosa bola de neve ou até mesmo um quadro de superendividamento, que consiste em um cenário em que a renda da pessoa é insuficiente para honrar seus compromissos”, explica a economista.

Por isso, a orientação dela é que, antes de qualquer decisão de contratação ou não do empréstimo, o interessado analise não só as taxas de juros, mas também as parcelas, para identificar se elas são compatíveis com a renda da família a longo prazo. “Então, vale avaliar se você conseguirá pagar o empréstimo, mesmo nos meses em que gastos extras como IPVA e IPTU aparecem”, aconselha.

Outra dica da economista é ter cuidado com fraudes ou golpes e comparar as condições de diversas instituições bancárias. Uma facilidade para isso é que os bancos não exigem conta bancária para fazer simulações.

“Mas, se as taxas de juros forem muito altas ou se você avaliar que não tem condições de honrar com esse novo compromisso, melhor não contrair um empréstimo. Ele deve servir para amenizar um problema financeiro ou para impulsionar a sua vida, como num caso de abertura de um negócio ou compra da casa própria”, finaliza a economista, lembrando da importância também de ficar atento às datas de vencimento, para evitar que os juros saiam do controle.

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