PREÇOS SUBIRAM
Nutricionista dá dica de alimentação saudável mesmo com inflação
Entre as orientações, estão a escolha para consumo, passando pelo preparo e armazenamento dos alimentos

Por Bianca Carneiro

Ir ao supermercado e voltar para casa com a compra do mês tem se tornado algo cada vez mais difícil para o brasileiro neste início de 2022. Quem tinha esperança de que a inflação melhorasse após a alta dos preços do ano passado, acabou se decepcionando, pois o valor dos alimentos segue pressionando o custo de vida.
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Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira, 8, em março a inflação chegou a 1,62%, após ficar em 1,01% no mês de fevereiro. O resultado foi o maior para o mês desde 1994 (42,75%), antes da implantação do Real, e também está acima da expectativa do mercado financeiro, que projetava uma alta de 1,35% no mês.
Além do transporte (3,02%), uma das altas determinantes para o valor da inflação foi a dos alimentos (2,42%), especialmente os mais consumidos em casa (3,09%). O tomate, por exemplo, subiu 27,22% em março. Já a cenoura chegou a 31,47%, acumulando uma alta de 166,17% em 12 meses, tornando-se o alimento mais caro da cesta. Os preços também aumentaram para o leite longa vida (9,34%), o óleo de soja (8,99%), frutas (6,39%) e pão francês (2,97%).
Em março, o preço da cesta básica de Salvador apresentou elevação de 2,17% e chegou a R$ 481,93, segundo estimativa da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).
Entre os 12 produtos da cesta, 10 tiveram elevação nos preços: óleo de soja (10,02%), farinha de mandioca (8,87%), feijão (5,49%), tomate (4,90%), leite (4,26%), açúcar cristal (2,71%), manteiga (2,40%), carne bovina (1,33%), pão francês (1,23%) e arroz (0,54%).
Além do bolso, a situação afeta diretamente a saúde, já que se torna ainda mais difícil manter uma alimentação rica em nutrientes. Em entrevista ao Portal A TARDE, a nutricionista Amanda Ferrão, do Grupo Fleury, deu algumas dicas para refeições mais baratas e nutritivas, que não ficam atrás no sabor.
Segundo a especialista, diante da alta de um determinado alimento, é preciso tentar substituí-lo por outro. “A substituição não necessariamente será geral. Podemos pensar em uma substituição parcial. Neste caso da cenoura mesmo, a abóbora é uma sugestão parcial que a família pode até optar por total se gostar e se for viável. O quilo da cenoura está em torno de R$ 12, enquanto o da abóbora, R$ 3”, diz.
Conforme Amanda, as hortaliças de tonalidade alaranjada contêm pró-vitamina A, vitamina C, carotenóides e flavonóides, garantindo, entre outros benefícios, o bom funcionamento do sistema imune, a proteção contra doenças cardíacas e certos tipos de câncer e a melhoria da visão e da pele.
Outro conselho importante é dar preferência a alimentos da estação e aos produzidos localmente, que podem ter um preço mais baixo. “Os cultivados em seu período natural absorvem mais os nutrientes do solo e são mais econômicos. Lembro que a questão sazonal também influencia no potencial nutritivo”, explica. No outono, a nutricionista destaca a safra de algumas frutas da estação como banana, abacate, maçã, caqui e limão. Já de hortaliça, uma opção é a abóbora japonesa.
Preparação sustentável
Não foi só o preço dos alimentos que subiu. O gás de cozinha, essencial para a preparação, teve um reajuste de 16,06%. Para economizar, a dica de Amanda é fazer o processo de remolho das leguminosas, o que diminui o tempo de cozimento. “O remolho de leguminosas, como o feijão, é recomendável não só para para reduzir os gases e facilitar a digestão, como também diminuir o tempo do cozimento, então a gente vai economizar gás com esse pré-preparo. É muito fácil, basta deixar os grãos de molho na água antes de cozinhar. Não esqueça de trocar a água uma ou duas vezes”, ensina.

A vendedora Melissa Oliveira, 22, varia no cardápio para tentar economizar gás o máximo que pode. Ela, que é responsável pelas refeições da família, diz que tem utilizado eletrodomésticos como airfryer, microondas, sanduicheira e cafeteira para evitar o fogão. “Aqui em casa, só ligo o fogão para preparar o almoço. Nas demais refeições, tenho investido em outras maneiras de cozimento. Se, no jantar, eu fritava no fogão um ovo para comer com pão, agora uso o microondas ou até substituo por alguma opção que dê para comer frio mesmo, como um patê. Mas até com a energia elétrica a gente tem que maneirar, né? Tá tudo mais caro”, reclama.
Ainda na preparação, uma dica de economia dada por Amanda é aproveitar o alimento de forma integral. Talos de hortaliças, cascas e sementes, tudo é bem-vindo, pois além de serem saudáveis, fazem o alimento render mais.
“O mais comum é descartar a casca, as sementes e os talos dos alimentos. Infelizmente, ainda existe um preconceito nessa questão de aproveitamento integral dos alimentos, mas a gente deveria olhar melhor para isso porque, além de aproveitar o alimento de fato, a gente vai garantir uma melhor qualidade de saúde ao consumir fibras e nutrientes”, pontua.
Muito comum no Nordeste, a cuscuzeira também pode ser utilizada para cozinhar os alimentos no vapor, o que contribui para que mantenham suas propriedades, já que, ao cozinhar na água, um maior potencial nutritivo pode se perder. “Já para otimizar o uso da carne, podemos fazer picadinhos e misturar com legumes, por exemplo”, ressalta.
Armazenamento evita desperdício
Amanda dá algumas dicas para evitar o desperdício de alimentos perecíveis, como frutas e verduras:
- Depois de cozinhar seus vegetais bem higienizados, congele-os, se houver sobras. Para congelar, separe-os em porções menores por serem mais fáceis de descongelar e suficientes para o consumo daquele mesmo dia;
- Lembre-se que produtos armazenados dentro da geladeira devem ser mantidos em temperaturas adequadas, em recipientes bem higienizados e vedados;
- A banana está muito madura? Aproveite em bolos, vitaminas e até mesmo para adoçar algumas receitas.
Receita da nutri
A nutricionista Amanda Ferrão preparou uma receita saborosa e saudável exclusiva para os leitores do Portal A TARDE. É simples e rápido de fazer:
Aveioca A TARDE
Ingredientes:
★ 2 ovos
★ 2 a 3 colheres de sopa do farelo da aveia
★ Temperos naturais (exemplos: orégano e cebolinha)
★ Sementes de abóbora ou girassol à gosto (opcional: refogadas em alho/cebola)
Opcionais seguindo com a proposta do aproveitamento integral dos alimentos, à gosto:
★ Talos picadinhos dos vegetais que preferir e estiverem acessíveis localmente e/ou na estação
Recheios opcionais:
- Se possível, varie os recheios. Sugestões: frango desfiado e/ou queijo e/ou proteína mais acessível localmente;
Modo de preparo: Misture bem todos os ingredientes com o apoio de um garfo. Despeje o conteúdo em uma frigideira com azeite, aguarde ficar pronto e sirva.
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