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Apoio dos pais é essencial para desempenho escolar da criança

Terapeuta de constelação familiar diz que sucesso na educação de crianças depende da participação da família

Publicado segunda-feira, 07 de fevereiro de 2022 às 17:23 h | Atualizado em 08/02/2022, 15:32 | Autor: Matheus Calmon

Com as crianças em casa por causa da pandemia e a necessidade das aulas remotas, aumentou o número de famílias que passaram a participar do contexto educativo: em 2018, dois anos antes do surgimento do coronavírus, uma pesquisa da ONG britânica Varkey Foundation mostrou que 46% das famílias de crianças em idade escolar não dedicavam tempo suficiente com a educação dos filhos.

Em novembro de 2020, uma pesquisa do Datafolha mostrou sensível aumento na participação das famílias na educação: 51% dos entrevistados afirmaram que estiveram mais presentes. No mesmo ano, o levantamento Educação Não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e Suas Famílias, também realizado pelo Datafolha, mostrou apontou crescimento do respeito das famílias a professores.

Rebeca Santana, por exemplo, conta que participa da educação do seu filho Isaac, que tem 5 anos, de forma similar como seu pai fazia com ela: ele não a mantinha apenas com o conteúdo passado por professores e não aceitava que ela fosse a reforço externo. "Ele sempre puxou muito de mim em casa e surtiu muito efeito por isso tento fazer o mesmo com Isaac", conta Rebeca ao Portal A TARDE.

Com o filho, Rebaca afirma que vai além do conteúdo cobrado na escola. "Eu ensino a ele as atividades que vem da escola e procuro aprimorar mais. Comecei a ensinar as letras e os números antes da escola exigir. Puxo bastante dele. Coisas que eu sei que a escola não vai fazer, vou puxando em casa", afirma.

Rebeca avalia que esta é uma forma de garantir o desempenho escolar do filho. "Acredito q eu acompanhando ele, tenho uma garantia maior de q ele terá um desempenho bom e satisfatório".

Terapeuta de constelação familiar e kidcoach, Tania Moreira conta que a maior parte dos problemas comportamentais enfrentados na escola aontece porque as crianças estão enfrentando questões semelhantes na família. Ela pontua que a pandemia deu 'uma reviravolta' neste aspecto.
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"Os pais, mesmo com todas as tarefas e afazeres, viram que, se não colocassem uma rotina, um limite, não iam dar conta. Os pais que conseguiram passar por essa fase, e com menos peso, foram os que tinham ou desenvolveram uma rotina. Os que conseguiram fazer isso, se adaptaram bem. Quem não tinha isso sofreu um pouco mais, mas percebeu que teria que fazer, pois senão a coisa não daria certo e isso é para a vida".

Pedagoga por formação, ex-diretora de escola e atualmente terapeuta integrativa, Tania afirma que  pais recorrem a ela constantemente, para pedir auxílio para problemas com crianças. Entretanto, sua atuação é realizada também com as próprias famílias.

"Quando pais têm dificuldades para colocar limites, desmotivada a escola, esporte, sem metas, entro nesse circuito. Não trabalho criança sem trabalhar a família. Se os pais não estiverem interessados em participar e se doar, se engajar, não começo o tratamento. A criança não tem a autorresponsabilidade desenvolvida para levar a responsabilidade para caminhar sozinha".

Moreira exemplifica que a escola é apenas uma ferramenta para a educação. Entretanto, toda ferramenta precisa ser manuseada. A escola vai ajudar os pais a formarem seus filhos. "Se querem bons resultados, que os filhos tenham êxito em todos os aspectos da vida, emocional, psíquico e cognitivo, que é esse da educação, é preciso que a família participe".

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Mas... como?

Para pais, mães e responsáveis, o desgaste causado pelo dia de trabalho pode justificar a ausência no processo educativo. A terapeuta, no entanto, afirma que é possível fazê-lo incluindo a participação na própria rotina da família.

"O que a criança quer é proximidade, alguém ao lado dela. Quer se sentir apoiada e a gente pode fazer isso muito bem. Se não tem tempo, na hora que está preparando uma janta, por exemplo, coloca o filho ali na mesa para fazer a lição ali. Enquanto vai fazer uma receita, explica a ele as medidas, coloca a praticidade no dia-a-dia", sugere.

"A gente consegue mostrar 'olha, a matemática na sua vida, na cozinha, vai servir para isso'. Ou como servirá nas brincadeiras. 'O português é importante porque estou lendo uma receita para tal coisa, você pode me ajudar a ler?'".

Nestes momentos, a criança vai ter a noção de pertencimento e terá grandes chances de auxiliar os pais contando sobre a rotina e dificuldades. "É ali que se conversa, ele vai contar o que está sentindo, como foi o dia, como interage na escola, dificuldades em determinada matéria. Criando conexão. Isso não é benefício apenas às crianças, é também para os pais", afirma Tania.

A terapeuta recomenda ainda que, de forma constante, pais ou responsáveis incluam em suas rotinas o acompanhamento da agenda, do caderno, e questione à criança o que aprendeu. Isso refletirá no comportamento na escola e na aprendizagem. "Não precisa dominar a matéria para fazer isso e é uma forma de participar da educação. Parece que não, mas a criança vai ter interesse em prestar atenção para depois reproduzir para alguém que ama".

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Quando começar a participar?

Caso os pais não tenham iniciado tal acompanhamento desde o início mas, no decorrer do processo entendam a necessidade, é possível, sim, começar a se incluir nas questões educacionais da criança. O processo será mais difícil, mas não impossível.

"A criança pode estar no ensino médio. Se os pais perceberem a importância e atentarem para isso, podem participar, sim. Podem encontrar alguma resistência da parte da criança, mas tudo é uma construção, um hábito. Importante mostrar ao filho a transparência. Diz que, hoje, percebe que é importante, antes não. E por isso quer passar a se envolver", recomenda Tania.

"A escola passa conteúdo, ensina, mas se não houver uma fixação, que é o momento do estudo em casa, seu filho não vai criar o hábito nem o prazer por aquilo. A criança precisa perceber os valores. Pois, se tanto faz, por que ela tem que fazer? Parece uma coisa tão simples, mas é justamente isso a mola propulsora", alerta a especialista.

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