A TARDE EDUCAÇÃO
Dia dos Professores: a busca pela qualidade do ensino e bem-estar
Data que vai além de homenagens e é um momento de reflexão sobre os desafios da profissão.
Por Loren Beatriz
O Dia dos Professores, realizado nesta terça-feira, 15, é uma data que vai além de homenagens. É um momento de reflexão sobre os desafios da profissão. Entre as dificuldades enfrentadas, destacam-se a sobrecarga emocional, as condições adversárias na sala de aula e a necessidade de integrar novas tecnologias ao processo de ensino.
Valney José, professor de Atendimento Educacional Especializado (AEE), músico e psicólogo, lida com esses desafios. Ele menciona que, por muito tempo, o autocuidado ficou em segundo plano. “Hoje consigo, mas houve tempo em que não sobrava tempo pra mim. Ainda vejo muitos colegas sobrecarregados, com contratos temporários, que ganham pouco e trabalham muito, e por isso precisam pegar mais de uma escola para conseguir pagar as contas e sobreviver. A realidade ainda é muito cruel nesse sentido”, pontua.
A sobrecarga emocional, segundo o professor, não afeta apenas o desempenho em sala de aula, mas também a saúde mental dos docentes. Ele faz terapia, frequenta a academia e dedica os finais de semana ao lazer com a família para manter o equilíbrio. No entanto, foi necessário tomar algumas decisões. “Tive que não dizer a algumas propostas, desacelerar e entender que o menos em relação a trabalho pode ser mais, em relação a qualidade de vida”, acrescenta.
Desde o início de 2022, a Organização Mundial de Saúde classifica a síndrome de Burnout como uma doença de trabalho. A síndrome, que afeta a saúde mental dos colaboradores, também está presente na área de educação e em sala de aula, atingindo muitos professores e demais profissionais.
Entre os principais sintomas do esgotamento profissional estão: esgotamento mental, fadiga, diminuição do desempenho, cansaço físico e falta de comprometimento com o autocuidado. Valney observa que esses sinais entre os professores são claros e alarmantes.
“É preciso observar os sinais e procurar ajuda. Se cuidar é necessário, mas cabe também aos pares ter esse olhar atento e sensível para não julgar, mas acolher e ajudar esse ou esse colega em sofrimento psicológico”, orienta.
Em meio aos desafios, ele também utiliza a arte como uma ferramenta de transformação e autocuidado. Sua música autoral, "Deixa a arte te acompanhar", propõe reflexões sobre a importância do bem-estar emocional na rotina dos docentes e incentivo a busca pelo equilíbrio.
“A gente precisa mesmo reinventar a educação e construir uma nova mais sensível, democrática, acolhedora e humanizada. A gente precisa e merece isso, aprender para a vida, para ser e conviver com mais respeito e garantir aprendizagens científicas aliadas a aprendizagens socioemocionais”, diz.
Um dos maiores desafios relatados por professores no contexto atual é o impacto prolongado da pandemia na formação dos alunos.
“Ainda hoje, vemos nos alunos, consequências e danos pela pandemia de Covid-19. Algumas crianças passaram seu período de educação infantil e início do ensino fundamental longe das escolas e num contexto que não permitiu a construção de uma base sólida de diversos conhecimentos linguísticos, matemáticos, psicomotores e também no desenvolvimento relacional e forma que os alunos estudam", pontua o professor Emmanuel Sacramento.
Esse atraso na aprendizagem levou os educadores a buscar novas estratégias para recuperar o tempo perdido, muitas vezes enfrentando turmas heterogêneas, com alunos em diferentes níveis de desenvolvimento.
“Os momentos mais desafiadores são os que precisam conciliar as diferentes demandas dos alunos, afinal, não existe turma uniforme, cada criança aprende de um jeito, e apresenta uma necessidade diferente. Desta forma, preciso pensar e desenvolver o que é possível para acolher essas necessidades”, complementa Emmanuel.
Com o avanço da tecnologia, o papel do professor tem se transformado significativamente. Ferramentas digitais, como jogos interativos e plataformas de ensino, tornaram o conhecimento mais acessível e trouxeram mais praticidade tanto para alunos quanto para professores. No entanto, apesar dessas inovações, os educadores ainda enfrentam desafios, precisando se adaptar às novas demandas e ao impacto das mudanças tecnológicas no ambiente escolar.
Segundo Charlene de Jesus, professora de Língua Inglesa e mestre em Linguagem, que trabalha com metodologias ativas, uma das principais dificuldades é equilibrar o uso da tecnologia de forma eficaz nas aulas.
“Não é fácil. Discutimos muito nas reuniões com a cooperação e os demais professores, porque precisa ser algo muito bem pensado e planejado", afirma Charlene, destacando que, após a pandemia, os alunos ainda estão mais conectados, com o celular sempre em mãos.
Como parte de sua estratégia, a professora busca maneiras de transformar essa conectividade em uma aliada no processo de ensino.
“Não vou dizer que o celular é um vilão. A gente não pode culpar 100% a internet, mas é preciso criar estratégias para usar tudo da melhor maneira possível. Às vezes, planejamos algo e a turma não respondemos como desejado. Mas insistimos, persistimos e buscamos adaptar as condições”, ressalta.
Além disso, Charlene, que também integra a gamificação em suas práticas pedagógicas, explica que utiliza diferentes abordagens nas aulas. “Às vezes, faço jogos de tabuleiro e, em seguida, uso outras ferramentas, como o Canva, que facilitam a criação das cartinhas do jogo”, comenta.
No contexto de inteligência artificial e de outras inovações tecnológicas, os professores precisam equilibrar métodos tradicionais e digitais para criar uma aula dinâmica e interativa.
“Eu não consigo mais viver em uma sala de aula e ter alunos copistas. Você perguntar é fácil. Não é. São noites, final de semana ali, fazendo um planejamento diferenciado. Você está pensando em outra realidade. Se, na disciplina, fazer um momento de discussão não está fluindo, bora tentar outra atividade”, orienta Charlene.
Nos últimos anos, a saúde mental dos profissionais de educação tem se tornado um tema cada vez mais relevante, especialmente diante dos desafios impostos pela pandemia, pela inteligência artificial e pelas mudanças no ambiente escolar. Professores, constantemente sobrecarregados por demandas pedagógicas e emocionais, precisam equilibrar sua rotina com o cuidado de sua própria saúde mental.
Diante desse cenário, o Programa A TARDE Educação , do Grupo A TARDE , busca fomentar a discussão sobre o bem-estar desses profissionais. Programado para ser realizado ainda este ano, o próximo Encontro de Articuladores abordará como tema central “Alquimia da empatia: práticas de promoção à saúde mental no cotidiano escolar”, com dados a serem divulgados em breve.
Voltado para convidados, o evento contará com especialistas que discutirão tópicos e recomendações importantes sobre o bem-estar dos professores.
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