EMPREGOS & NEGÓCIOS
‘As pessoas não querem mais produtos duradouros, diz presidente da ABCasa
Eduardo Cincinato revela tendências no comportamento do consumidor, que após a pandemia voltou o olhar para os ‘cantinhos’ da casa
Por Da Redação
Maior feira de negócios B2B de decoração da América Latina, a ABCasa Fair acontece na cidade de São Paulo até sábado, 17, cm a expectativa de atrair mais de 50 mil visitantes.
O evento, que reúne importadores e indústrias do setor, é voltado para distribuidores e lojistas do segmento e representa 80% do mercado de casa e decoração, que movimentou mais de R$ 4,71 bilhões em produção somente no último mês de maio, segundo a Pesquisa Setorial IEMI e ABCasa.
Na entrevista a seguir, o presidente da ABCasa, Eduardo Cincinato, destaca quais fatores impulsionaram o crescimento do setor em 2024, tendências de decoração, comportamento do consumidor e um pouco da história da feira, que acontece todos os anos, sempre nos meses de fevereiro e agosto. Confira:
Qual a expectativa desta edição da ABCasa Fair, tanto em relação ao faturamento, de resultados financeiros, quanto em relação ao público? O que vocês esperam?
Esta é uma edição bastante importante, porque ela acaba abastecendo os lojistas no segundo semestre que, em função das festas de fim de ano, é sempre mais aquecido. Em relação ao público, nós já recebemos algo em torno de 10% a mais de visitantes no primeiro dia, em relação ao ano passado. Então a nossa expectativa é muito boa.
A gente ainda não tem volumes de faturamento, mesmo porque não coleta essa informação dos associados. É muito difícil você pedir faturamento para cada um, porque as pessoas têm dificuldade e, aqui, a gente está num ambiente em que todos somos concorrentes. O que a gente conversa com os associados é que a expectativa está um pouco além daquilo que a gente imaginava.
Eu conversei com alguns expositores sobre o faturamento, e um deles falou que a feira é responsável por 70% do que ele ganha no semestre. Outro disse que o valor equivale a quatro meses de trabalho. Apesar de não divulgarem números, eles refletem a importância da feira para o setor. Como você avalia esta influência?
É uma feira muito importante para o setor. Primeiro, porque ela é a maior feira da América Latina. Nós temos aqui perto de 400 expositores, que são os maiores do segmento. Aqui, o lojista encontra tudo o que é tendência e produto para essa temporada. E uma coisa que é importante neste evento é que a gente faz muita capacitação, porque há uma necessidade das pessoas se abastecerem das tendências, melhores aplicações dos produtos, melhores combinações. Nós temos aqui alguns espaços dedicados exatamente para isso.
O lojista se inscreve em um curso e recebe ali uma imersão de como trabalhar, por exemplo, com flores permanentes, que é uma coisa bastante pujante agora nos últimos tempos. Ela vem ocupando um espaço muito importante nas decorações, a gente percebe uma crescente muito grande desse segmento. As pessoas hoje não têm tempo, muitas vezes, para cuidar de planta dentro de casa, o marido e a mulher trabalham, o apartamento fica fechado o dia inteiro, às vezes fazem home e tudo isso deixa o ambiente com um pouco mais de problema para ter uma planta natural. A planta permanente consegue dar aquele toque no ambiente e não tem a necessidade que uma planta natural tem.
O que a gente tem visto também, que tem contribuído muito no nosso segmento, é o boom do mercado imobiliário. A gente sabe que agora deu uma aquietada, principalmente nesses apartamentos de médio porte, mas esse mercado já vem aquecido há pelo menos dois anos. Isso tudo reflete no mercado de casa e decoração e, consequentemente, os volumes dos nossos negócios acabam aumentando.
Falando sobre isso, dados da pesquisa feita pela IEMI em parceria com a ABCasa apontam que, no primeiro semestre deste ano, houve um aumento de 5,3% no setor de casa e decoração. E a projeção de vocês é que esse crescimento permaneça até o final do ano. Além do boom imobiliário, quais são os principais fatores para esta alta?
Eu acho que existe uma coisa bastante interessante que aconteceu no período da pandemia. As pessoas começaram a olhar para a casa. Elas ficaram mais dentro de casa e todo mundo começou a olhar para os cantinhos da casa, e isso tudo contribuiu para o setor naquele momento e até hoje. Eu tenho uma empresa e, dentro dela, um setor de casa e decoração.
Há cerca de dois anos, lançamos uma marca e, na pesquisa do branding, me perguntaram ‘como você quer que essa marca seja?’. Eu disse que queria uma marca relevante para as pessoas, simpática, com produtos bons, duradouros, de boa qualidade.
Aí, a agência saiu à caça de entendimento de mercado, e voltou com uma informação para mim: quem disse que as pessoas querem produtos duradouros? Questionou por que não e me disseram que a pessoa quer algo bonito, com o estilo dela, mas que dure um pouco. Não quer que dure muito tempo, porque ela enjoa rápido.
Então há essa necessidade de renovação e é isso que acontece no mercado de casa e decoração. As pessoas vêm à feira buscando produtos de valor um pouco mais baixo, com estilo e cor adequados ao momento da moda, mas não precisa durar uma eternidade.
Então aquele objeto que foi ‘herança’ da avó, que passava entre gerações, perdeu importância?
Aquelas coisas de família diminuíram muito, haja visto o segmento de Natal. Antigamente, você pegava aquela caixa, tirava o pó dela (porque ela estava guardada em algum lugar), aí pegava uma bolinha que você ganhou da sua avó, um enfeite que comprou na viagem com o esposo, e assim sucessivamente. Hoje, as pessoas não querem mais isso. Elas querem uma árvore que faça parte da decoração do ambiente. Se eu tenho tons terrosos dentro do ambiente, eu quero fazer uma árvore que tenha essa pegada de tom terroso, não vou colocar uma árvore vermelha e verde. As pessoas pegam aquela árvore, fotografam e postam. No ano seguinte, o que acontece? Eu não posso postar a mesma árvore, ela tem que renovar.
Então, mais uma vez, a renovação acontece numa velocidade que a gente não via. Aí começou a nascer a necessidade dos ‘personais’ que cuidam de decoração de árvore, de locação de árvore, coisas que a gente não via antigamente. Hoje, as pessoas querem que você chegue com uma árvore na casa dela, monte, deixe o pisca ligado, e aí ela chega, vê aquilo, fica feliz, terminou o Natal, você vai, tira, encaixota e leva embora. Ela não se incomoda em pagar 70% ou 80% do valor que ela compraria, só que ela não quer ter o trabalho de montar, desmontar, guardar. São fenômenos do mundo moderno.
Essa velocidade de renovação também influencia a realização da feira em duas edições? Há diferenças entre a feira de fevereiro e a de agosto? O que muda de uma para a outra, seguindo essa tendência de renovação da sociedade?
A característica das feiras é muito parecida. As indústrias e os importadores vêm sempre com muita novidade, porque as pessoas querem saber o que tem de novo. A gente trabalha com moda, então a de fevereiro trabalha mais o outono-inverno, e a de agosto trabalha mais primavera-verão, em termos de cores. Mas a característica delas é de renovação para o lojista. Na feira de fevereiro a gente não põe produtos de Natal, porque a gente faz os eventos de showroom fora da feira, então em janeiro a gente já vende o Natal daquele ano.
Já que você falou sobre o Natal, a ABCasa Fair reúne uma variedade imensa de segmentos dentro do setor de casa e decoração. Qual a sua avaliação sobre essa diversidade aqui dentro?
O que a gente diz para o nosso público é que a ABCasa proporciona feiras de oportunidades. Nós fazemos uma feira em maio que se chama Celebra. Ela está no guarda-chuva de vários segmentos: você tem eventos sociais, Natal, Halloween, festas, balões, enfim, são várias celebrações dentro de um único espaço, porque no final do dia o público consumidor das feiras – os lojistas – compram todo esse tipo de produto.
Você vê aqui um lojista que é um comprador de Páscoa, de Natal, porque ele vende tudo para casa, tudo de decoração, então tudo que a gente oferece na feira tem essa sinergia com casa e decoração. A gente trabalha com produto de festa também e com o São João. E o São João também tem esse conceito. As lojas compram festa junina e a gente lançou os temas de São João. E, na feira, a pessoa vê que tem São João e pode comprar um estandarte, um prato, um copo, uma decoração, enfim. As feiras são super importantes para esse link entre o nosso associado e o lojista.
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