EMPREGOS & NEGÓCIOS
De agricultores a pilotos, trabalhadores têm dúvidas sobre a aposentadoria
Profissionais têm questionamentos e especialistas alertam para importância do planejamento financeiro

Por Joana Lopes

A aposentadoria está entre as maiores preocupações dos brasileiros, mas ainda é cercada de dúvidas, especialmente em categorias com regras específicas. Um levantamento realizado pela Bocchi Advogados, com base no volume de buscas no Google em julho de 2025, mostrou que termos como “aposentadoria rural”, “MEI aposentadoria” e “dona de casa que nunca contribuiu” estão entre os mais pesquisados. Também aparecem na lista professores, vigilantes, enfermeiros, servidores públicos e pilotos de avião, revelando a diversidade de perfis que procuram entender seus direitos e planejar o futuro financeiro.
Segundo o advogado Hilário Bocchi Neto, especialista em Direito Previdenciário, a liderança da aposentadoria rural no ranking se explica pela complexidade em comprovar a atividade no campo. “Muitos trabalhadores rurais não têm registro formal. A prova exige um conjunto de documentos como notas fiscais, blocos de produtor, contratos de arrendamento, além de testemunhas, o que gera insegurança”.
Regras para diferentes categorias
Professores também figuram entre os mais interessados. Após a Reforma da Previdência, o número de regras para a categoria aumentou e trouxe exigências como comprovar tempo de contribuição exclusivamente em magistério de ensino infantil, fundamental ou médio. A situação é ainda mais complicada para docentes que atuam na rede pública e privada, vinculados a regimes diferentes.
Entre vigilantes e enfermeiros, a busca está ligada ao direito à aposentadoria especial, que reduz o tempo de contribuição em razão da exposição a riscos. “No caso dos vigilantes, os processos estão parados aguardando decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o enquadramento da atividade. Já os enfermeiros têm mais facilidade de comprovação por conta do contato com agentes biológicos”, diz Bocchi. O especialista ressalta que documentos como o PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) e o LTCAT (Laudo Técnico de Condições Ambientais) são fundamentais nesses casos.
Para donas de casa e microempreendedores individuais (MEIs), o desafio é outro: garantir o mínimo de contribuição para ter acesso a benefícios. “Quem nunca contribuiu não pode se aposentar pelo INSS, mas pode ter direito ao BPC/LOAS, que garante um salário mínimo em casos de vulnerabilidade. Já as donas de casa e MEIs podem optar pela contribuição facultativa ou simplificada, mas muitos descobrem essa possibilidade tarde demais”, alerta o advogado.
A importância do planejamento financeiro
Para além da burocracia previdenciária, especialistas em finanças pessoais reforçam que depender apenas do INSS pode comprometer a qualidade de vida na aposentadoria. “No caso dos MEIs e das donas de casa, as contribuições costumam ser baixas, o que significa que o benefício será de apenas um salário mínimo. Por isso, é essencial pensar em renda complementar”, afirma Leticia Camargo, planejadora financeira certificada pela Planejar.
Ela sugere que a poupança para a aposentadoria seja vista como um hábito desde cedo, mesmo que com valores pequenos. “Começar logo no início da vida profissional é ideal, porque o tempo é aliado dos juros compostos. Quem deixa para pensar na aposentadoria perto de se aposentar perde essa vantagem e precisa guardar quantias muito maiores para alcançar o mesmo objetivo”, destaca.
Previdência pública x privada
Mesmo categorias com regras diferenciadas — como professores e servidores públicos — devem avaliar alternativas de investimento. “Cada reforma da Previdência aumenta a idade mínima ou reduz os valores a receber. Assim, mesmo quem tem estabilidade no setor público precisa pensar em previdência privada ou outras formas de investimento para garantir tranquilidade no futuro”, observa Camargo.
Entre as opções de complemento estão fundos de previdência privada, renda fixa e até empreendimentos que gerem renda passiva, como imóveis para aluguel. O importante, segundo ela, é adequar a estratégia ao perfil do trabalhador e ao horizonte de tempo disponível.
A necessidade de orientação
Erros comuns no pedido de aposentadoria podem gerar atrasos de meses ou anos e até reduzir o valor do benefício. Por isso, Bocchi defende a busca por orientação especializada. “Um advogado previdenciário pode identificar documentos faltantes, revisar registros de contribuição e até aumentar o benefício com períodos especiais que passam despercebidos. O planejamento previdenciário evita prejuízos e garante mais segurança”.
Para Camargo, a lógica é semelhante na esfera financeira. “Planejar é a chave. Separar gastos, poupar mensalmente e investir de forma consciente garantem que o trabalhador não dependa exclusivamente da previdência pública. É isso que vai permitir uma aposentadoria tranquila e sustentável”.
Embora a maioria só comece a pensar na aposentadoria perto da idade de se aposentar, os especialistas são unânimes: começar cedo faz toda a diferença. “O jovem que destina uma parte da renda desde o primeiro emprego acumula patrimônio com muito mais facilidade e evita apertos no futuro”, diz a especialista.
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