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Dor de 'corno' tem cura? Psicanalista dá dicas para superar traição
Especialista orienta como reconstruir a autoestima e seguir em frente após uma traição amorosa
Por Luana Leal

Mesmo após o Dia dos Namorados, um tema sempre delicado volta à tona: como superar uma traição amorosa? Afinal, é possível perdoar, reconstruir o amor próprio e, mais do que isso, ser feliz novamente após viver essa experiência?
Em entrevista ao Portal A TARDE, a psicóloga e psicanalista Fernanda Soibelman, que tem mais de 15 anos de experiência clínica, trouxe pontos profundos sobre oprocesso de reconstrução pessoal após uma infidelidade.
Como a traição afeta a autoestima?
Segundo Fernanda, a traição não fere apenas o vínculo amoroso, mas atinge diretamente a imagem que a pessoa tem de si mesma.
“A traição colapsa parte do narcisismo que sustentava nossa autoestima. Quando somos traídos, não perdemos apenas o outro - perdemos o lugar que ocupávamos no olhar desse outro”, explica.
A especialista destaca que esse rompimento ativa os seguintes sentimentos:
- Humilhação;
- Vergonha;
- Raiva;
- Insuficiência;
- Culpa.
O amor é sempre um espelho. Lacan nos lembra que amamos o outro como gostaríamos de ser amados. Quando esse espelho se quebra, não vemos apenas a perda do parceiro, mas a perda de uma versão de nós mesmos que vivia naquele olhar amoroso
Portanto, segundo ela, o desafio não é “apenas” curar a dor da perda, mas enfrentar uma crise existencial que põe em xeque o próprio valor e identidade.
Como não carregar essa ferida para o futuro?
Para a psicanalista, o risco maior não é exatamente carregar a ferida, mas repeti-la inconscientemente. “Sem elaboração, essa dor pode se cristalizar em desconfiança crônica, medo de se envolver, cinismo ou fuga do amor”, alerta.

Fernanda reforça que o primeiro passo é aceitar uma verdade muitas vezes difícil de encarar: o outro é sempre um ser independente, e o amor não garante posse nem completude.
A traição é uma experiência brutal desse limite: ela mostra que o desejo do outro é irredutível
O caminho da cura, explica ela, não passa pelo esquecimento, mas pela elaboração simbólica da perda: “A dor precisa ser nomeada, pensada e, muitas vezes, atravessada em um processo terapêutico, para que deixe de ser um buraco no real e se transforme em memória e aprendizado".
Como seguir em frente após uma traição?
A especialista alerta: evite atalhos. Tentar ignorar a dor, partir imediatamente para outro relacionamento ou fingir que nada aconteceu pode gerar mais sofrimento no futuro.
O luto amoroso é necessário. Não se trata apenas de tristeza, mas de um trabalho psíquico de desinvestir energia libidinal daquele amor, para que você possa, no tempo certo, investir em outro lugar - seja em si, seja em um novo amor
Fernanda também orienta olhar para os roteiros inconscientes que cada um carrega sobre amor, desejo e suficiência. “A traição rasga esse roteiro, e isso convoca você a se reinscrever nele. Não é necessariamente sobre perdoar quem te traiu, mas sobre entender o que do seu desejo estava implicado naquela relação e o que segue após sua quebra."

Por fim, ela faz um alerta poderoso: “Não espere voltar a ser quem você era antes. Você não é mais aquela pessoa. O amor nos transforma, e sua perda também. Superar não é apagar a ferida, mas construir um novo caminho, desejando a partir de um lugar diferente, que inclua essa dor como parte da sua travessia".
É possível ser feliz depois de uma traição?
A resposta da especialista é clara: sim, é possível - mas não do mesmo lugar de antes. A felicidade depois de uma traição não vem da negação da dor, mas da possibilidade de ressignificá-la. Isso envolve reconstruir a autoestima, compreender os próprios desejos e se permitir novas experiências, sem cair nas armadilhas do medo e da autoproteção excessiva
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