80 ANOS SENAI
Formação oferecida pelo Senai busca fornecer mão de obra especializada a indústria
Senai Bahia oferece formação profissional nos níveis jovem aprendiz, escola técnica, pós-técnico, graduação e pós-graduação, mestrado e doutorado
Por Cláudia Lessa

A formação de trabalhadores qualificados para a indústria brasileira é um dos maiores gargalos do setor, conforme especialistas e empresários da área. Ao longo de sua existência, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai Bahia) – entidade do Sistema Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) – vem contribuindo na formação e qualificação de profissionais para o mercado de trabalho, através de cursos técnicos em áreas como Automotiva, Construção Civil e Tecnologia da Informação. Com a implantação do Campus Integrado de Manufatura e Tecnologias (Cimatec), a capacitação profissional se estendeu aos cursos de graduação e pós-graduação.
O Senai Bahia oferece formação profissional nos níveis jovem aprendiz, escola técnica, pós-técnico, graduação e pós-graduação, mestrado e doutorado, por meio de uma educação conectada com o mercado.
Os cursos das áreas transversais, que atendem à demanda de empresas de diferentes segmentos, são os mais procurados. Entre estes estão os cursos técnicos de Desenvolvimento de Sistemas, que tem sido bastante procurado por conta da demanda por programadores e desenvolvedores, e os das áreas de Logística e Automação, que trazem oportunidades em vários segmentos industriais e também fora da indústria.
Para o diretor regional do Senai, Evandro Mazo, alguns fatores influenciam na dificuldade de encontrar profissionais capacitados para o mercado de trabalho. Como exemplos, ele destaca a capacitação profissional e a atração do mercado de trabalho, em especial da indústria.
“Uma barreira que precisa ser superada é a pouca valorização da sociedade brasileira pela formação técnica. Este é um grande desafio, pois no Brasil apenas 9% da população faz um curso técnico, enquanto em países como a Finlândia, esse número pode chegar a 70% e, na Alemanha, a 55%. Então, ainda é desafiador fazer com que a nossa sociedade enxergue a formação técnica não como um final de jornada, mas sim como o início da trajetória de formação que vai ajudar os jovens no amadurecimento do seu processo de decisão e construção da sua carreira”, avalia.
A desconexão entre a formação e a demanda do mercado de trabalho é também apontada pelo gestor como um obstáculo na formação continuada.
“Por isso, uma atuação importante do Senai com o setor industrial é a interação com as empresas para que as ofertas de formação profissional estejam alinhadas com a demanda do mercado. A ideia é que isso facilite que os egressos dos cursos do Senai estejam cada vez mais preparados para os novos desafios do mercado de trabalho”, observa o diretor regional do Senai.
Para ele, esse gargalo se apresenta em um cenário em que a indústria tem dificuldade de atrair e reter mão de obra, especialmente dos jovens, que veem o ambiente industrial como pouco atrativo.
“Muitos deles enxergam o setor como ultrapassado, pouco inovador e querem se conectar com ambientes mais tecnológicos e flexíveis da cultura das startups e dos serviços digitais. Diante da plataformização do emprego, essa falta de interesse da mão de obra em geral e, particularmente, de pessoas qualificadas, tem se colocado como um enorme desafio para o setor industrial. As empresas vão precisar repensar modelos de trabalho, oferecendo maior flexibilidade e autonomia, reduzindo a burocracia dos processos e da hierarquia rígida”, opina, destacando a importância da criação de uma cultura de formação de aprendizagem continuada, ao longo da vida.
Prática e teoria – O acesso ao Senai foi um diferencial na formação e no início de carreira de Marcos Felipe Pereira, 25 anos, graduado em Engenharia Química pela Universidade Cimatec, em 2023. Antes, em 2016, na mesma instituição, ele se formou como técnico em Petroquímica.
“É uma unidade de ensino que possibilita e incentiva o ensino prático em união com o teórico, e isso me capacitou na resolução de problemas e trabalho em grupo, bem como na gestão de tempo e multitarefas. Ser egresso do Sistema S de Ensino é motivo de muito orgulho para mim. Foi aquele ambiente dotado de uma boa infraestrutura de estudos e a vivência do curso fora de sala que me permitiram encontrar meus interesses e me preparar para trabalhar em uma profissão tão flexível como a de engenheiro”, revela.
O engenheiro ressalta que no Senai Bahia, “por ter no DNA a aproximação com a indústria”, os estudantes, desde que ingressam, se inserem em pesquisas, palestras, projetos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia ou outras iniciativas realizadas em parcerias com grandes empresas. Ele acredita que o incentivo às atividades extracurriculares enriquece a experiência de ser aluno da graduação no Senai.
"Tive a oportunidade de presidir um Capítulo Estudantil do Instituto Americano de Engenheiros Químicos, o que me possibilitou aprender e aperfeiçoar conceitos de gestão, estratégia, indicadores, oratória e língua inglesa, que são adicionais importantes à formação de um engenheiro hoje em dia. Isso, com certeza, foi um diferencial para eu conseguir estagiar na Ambev e, agora, trabalhar no Grupo Boticário”.
Também egressa do Senai, a engenheira química Yasmim Costa compartilha a opinião de que a capacitação qualificada é um dos principais pilares para quem busca se destacar no mercado de trabalho.
“Em um cenário cada vez mais competitivo e dinâmico, não basta apenas ter conhecimento técnico, mas é preciso também desenvolver habilidades práticas, pensamento crítico e competências comportamentais que agreguem valor às organizações. A formação que recebi na instituição foi importante para meu ingresso na indústria petroquímica, onde estagiei por dois anos e, há três, atuo como engenheira de produção de uma grande empresa. A base da Engenharia, aliada a uma formação conectada com as demandas reais da indústria, me proporcionou segurança e preparo para encarar os desafios do ambiente profissional”, revela.
Além disso, ressalta Yasmim, as atividades extracurriculares desempenharam um papel importante na sua trajetória. “Envolver-me em iniciações científicas e tecnológicas e seguir trilhas acadêmicas foram experiências que ampliaram minha visão e contribuíram significativamente para o desenvolvimento de soft skills. Nessas vivências, aprendi a ter senso de prioridade, trabalhar em equipe, comunicar ideias e resolver problemas de forma colaborativa, que são habilidades essenciais no dia a dia da minha profissão”, pontua.
Senai constrói itinerários formativos conectados à educação, tecnologia e inovação
Agente de transformação conectado à educação, tecnologia e inovação, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai Bahia) busca formar novas gerações de trabalhadores a partir de metodologias baseadas em desafios reais das empresas. A ideia é que os alunos coloquem em prática o conhecimento adquirido nos cursos e tragam soluções inovadoras ao ingressarem no mercado de trabalho. O diretor regional da instituição, Evandro Mazo, afirma que, para imprimir mais assertividade na construção de itinerários formativos, uma ação neste sentido é a parceria e aproximação com as empresas.
Uma das estratégias de formação e conexão para a inserção dos jovens no mercado de trabalho, segundo Evandro Mazo, se dá através do Instituto de Tecnologias Educacionais (Ited), através do qual o Senai Bahia desenvolve cursos à distância para facilitar o acesso do trabalhador da indústria a novas formações.
“Para se ter uma ideia, hoje, 30% dos cursos técnicos do Senai já são oferecidos nessa modalidade de ensino”, ressalta. Outro destaque é a capacitação de mão de obra de jovens e adultos no interior baiano, em parceria com prefeituras, através do Programa de Educação de Jovens e Adultos, com uma abordagem profissionalizante do Programa Seja Pro+, desenvolvido junto ao Serviço Social da Indústria (Sesi). A instituição promove, ainda, a produção de kits educacionais que funcionam como uma estratégia para equipar escolas e unidades de formação profissional, visando valorizar a aprendizagem prática.
O pró-reitor da Universidade Senai Cimatec, Rafael Bezerra, considera que a formação qualificada é a ponte que transforma o potencial dos egressos em carreiras sólidas e inovadoras.
“Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e dinâmico, não basta apenas o diploma. É preciso domínio técnico, visão de futuros cenários e capacidade de solucionar problemas reais com criatividade e rigor. No Senai Cimatec, entendemos que esse preparo começa no primeiro dia de aula, quando estimulamos o pensamento crítico e o trabalho em equipe, e se estende por todo o percurso acadêmico, por meio de projetos interdisciplinares e contato direto com empresas líderes de diversos setores”.
Além da estrutura laboratorial de ponta e do corpo docente com experiência de mercado, o pró-reitor destaca que o Senai Bahia oferece mentorias, feiras de empregabilidade e parcerias que colocam o estudante em contato direto com desafios reais de indústrias, robótica, tecnologia aeroespacial e da saúde, mercado automotivo, petróleo e gás, super computação, computação quântica, combustíveis do futuro e energias renováveis. “Esse alinhamento prático entre teoria e aplicação facilita a adaptação do recém-formado, diminui o tempo de colocação profissional e aumenta significativamente a empregabilidade”, pontua.
No ecossistema de inovação integrado do Senai Cimatec (Campus Integrado de Manufatura e Tecnologias), universidades, centros de pesquisa, startups e grandes indústrias convivem nos mesmos campi, compartilhando laboratórios, know-how e oportunidades de desenvolvimento conjunto. Rafael Bezerra destaca que esse ambiente colaborativo “estimula a criação de soluções de alta tecnologia e empodera nossos estudantes a serem protagonistas do futuro, sendo essa sinergia entre educação de excelência e inovação que faz da instituição um celeiro de talentos prontos para transformar a economia e a sociedade brasileira”.
Egresso da primeira turma de Bacharel em Engenharia Mecânica do Senai Cimatec, Vinicius Murta Tuy afirma que a formação qualificada que obteve foi essencial para o seu ingresso no mundo do trabalho. Além da bagagem de conhecimentos adquiridos, o reconhecimento da instituição colocação no mercado.
“Percebo que as competências técnicas e comportamentais desenvolvidas durante a minha trajetória academia foram fundamentais para enfrentar os desafios aqui fora e aproveitar as oportunidades da Engenharia da melhor forma”, avalia Vinicius, que a atua na área de manutenção e projetos há oito anos, estando, atualmente, como colaborador da empresa Timenow.
O coordenador do curso de Engenharia Química do Senai Cimatec, Diniz Alves reforça que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, buscando profissionais que dominem não apenas os fundamentos teóricos, mas que também sejam capazes de aplicar esse conhecimento de forma prática, inovadora e sustentável.
“Uma formação sólida prepara o jovem engenheiro para enfrentar desafios reais, tomar decisões com responsabilidade e contribuir efetivamente para o desenvolvimento da indústria e da sociedade", pontua, afirmando que o compromisso da instituição com a excelência na formação reflete diretamente na estrutura do curso de Engenharia Química: laboratórios equipados com tecnologias de ponta e acesso a centros de pesquisa aplicada e inovação.
Além disso, acrescenta, a instituição tem parcerias estratégicas com empresas do setor, facilitando estágios, intercâmbios e inserção no mercado. “Formamos engenheiros com visão sistêmica, capacidade crítica e espírito empreendedor, não somente voltado para as indústrias química e petroquímica, mas também para a biotecnologia, a produção de energias renováveis, como o hidrogênio verde, a descarbonização e a sustentabilidade”, afirma Diniz.
Atuando há 23 no Senai Cimatec, o professor e coordenador do curso de Engenharia Mecânica da instituição, Júlio Câmara, conta que tem ex-alunos projetando, por exemplo, caminhões e carros não só no Brasil, mas também na Suécia, nos EUA, no Vietnã, na Austrália, na Inglaterra.
“O curso de Engenharia Mecânica, como todos os nossos demais, são concebidos através de comitês setoriais, formados por representantes da indústria, da academia, de conselhos regionais, profissionais que atuam na área, por meio dos quais se estabelece discussões sobre questões como competências que devem ser trabalhadas ao longo do curso e evolução do mercado com as novas tecnologias”.
O estudante da graduação tem a opção de seguir o curso também por trilhas. “Se o aluno quer atuar como empresário, abrir uma startup ou desenvolver novas empresas, vai ter a trilha empreendedor. Se quer ser um pesquisador, desenvolver novas tecnologias, tem a trilha pesquisador. E se deseja atuar em projetos ou grandes empresas, tem a trilha técnico-gestor”, explica Júlio Câmara, destacando, ainda, como diferencial a infraestrutura dos laboratórios específicos para os cursos de nível técnico, graduação e pós-graduação.
Características do trabalhador da indústria do futuro
- - Reunir competências técnicas, comportamentais e digitais
- - Ter capacidade de aprender continuamente, se mantendo atualizado com as novas tecnologias para que possa se adaptar ao mercado de trabalho que está em constante transformação.
- - Capacitar-se para ser um agente estratégico na integração entre tecnologia, pessoas e processos.
- - Lidar bem com as competências socioemocionais: comunicação, proatividade, liderança, capacidade de trabalhar em equipe, flexibilidade e adaptabilidade, pensamento crítico, análise de dados e decisões estratégicas.
- - Desenvolver conhecimentos relacionados à inteligência artificial, automação e sustentabilidade.
Fonte: Patrícia Evangelista, superintendente executiva de Educação Profissional do Senai Bahia.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes