ESPORTES
20 anos sem o mestre: Armando Oliveira deixou marca na crônica esportiva
Armando sabia ‘ler’ o povo baiano e seus anseios
Por Luiz Teles
Amigos do esporte, bom dia! Assim Armando Oliveira começava os comentários diariamente nas ondas da Rádio Sociedade da Bahia todas as manhãs. E eles eram lúcidos, inteligentes, com a dose certa de humor, sem arroubos, torcidas ou vaidades. E hoje, nesse 17 de janeiro de 2025, fazem 20 anos que não temos mais a companhia inigualável de sua voz e de suas precisas palavras, daquele que foi não ‘apenas’ o maior comentarista esportivo do estado, mas um dos gigantes da crônica baiana, capaz de escrever e falar sobre tudo e todos, com uma habilidade que nos enche de saudade.
“Meus amigos” (outra maneira que ele tinha de iniciar as conversas com os ouvintes), o mestre Armando era um homem de várias facetas. A mais popular delas era a de comentarista esportivo de rádio, televisão e jornal, mas ele também era escritor e poeta de mão cheia. A visão de mundo era muito maior que o futebol. Conhecia o mesmo tanto de política, economia, história e cultura baiana, e os elegantes comentários desfilavam por todas essas áreas ao mesmo tempo, brindando-nos com críticas completas, que iam do doce ao ácido com uma simplicidade sem igual.
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Natural de Uruçuca, nascido em 5 de maio de 1936, Armando sabia ‘ler’ o povo baiano e seus anseios. Por isso dialogava tão bem com todos nós, desde as primeiras crônicas, na Rádio Cultura de Ilhéus, na década de 1960. “Ele era ‘o cara’. Suas saborosas crônicas eram exercícios de liberdade. Leves, antenadas, com as observações minuciosas da vida… Quem não lembra das conversas no solar da Massaranduba, residência de sua inesquecível personagem Dona Miúda?”, lembra a jornalista e amiga de Armando Oliveira, Olívia Soares.
Amigo e exemplo
Quem também tem saudade do amigo é o locutor esportivo e parceiro de Armando em várias jornadas, Sílvio Mendes. “Ele era um homem íntegro, gigante de amizade, bom pai: um conhecedor da vida. Ele me disse um dia que ‘nossa profissão era uma conquista, nunca uma imposição’ e, antes mesmo de estarmos mais velhos, me ensinou que ‘a lucidez é a arma da alma na velhice’. Hoje, com 78 anos de idade e 50 de profissão, trago no meu coração todos os dias o que me disse meu inesquecível e amado amigo”.
“Nestes 20 anos sem Armando Oliveira, o futebol baiano viveu altos e baixos, mas quem gostava de análises abalizadas sobre o cotidiano nas quatro linhas ficou inapelavelmente órfão”, comenta o jornalista e escrito Franciel Cruz, que ao lado de Olívia Soares, lançou, em 2006, o livro Crônicas de Armando Oliveira. Foram mais de 11 mil textos lidos e “e um sofrimento daqueles” para selecioná-los em 470 páginas, em uma obra que é difícil de encontrar, e que foi prefaciada pelo ex-governador Paulo Souto, com quem Armando dividiu a bancada de transmissões de rádio, diversas vezes, na Rádio Sociedade da Bahia.
Mesmo quem não conheceu Armando pessoalmente teve forte influência de seu trabalho, como o comentarista da ESPN Elton Serra. “Comecei na crônica esportiva um ano depois de Armando ter falecido, mas, assim, sempre foi inspiração. E ainda é! Eu, ainda pequeno, gostava muito de ler e eram as colunas dele que me chamavam mais atenção, nesse sentido de tentar fugir um pouco do óbvio e de trazer a realidade da nossa terra, um pouco também de poesia, do lírico e de misturar com o coloquial”, disse.
Jornalista completo
Armando Oliveira faleceu, em 2005, em Salvador (onde morou desde 1974), aos 68 anos, vítima de um câncer. Além da Rádio Cultura de Ilhéus e da Rádio Sociedade da Bahia, trabalhou ainda na TVE, na bancada do Cartão Verde Bahia, e nas redações do Jornal da Bahia, Bahia Hoje e Tribuna da Bahia. Em A TARDE, escreveu as últimas colunas esportivas, entre 2004 e 2005.
O ‘Número um do Brasil’ venceu por oito vezes a ‘Bola de Ouro’, premiação nacional de cronistas esportivos de rádio. Olívia Soares conta que, no dia do sepultamento, um deficiente visual, acompanhado da neta e uma bengala, chegou bem pertinho onde estava o corpo de Armando Oliveira e falou: “Como eu vou assistir, de agora em diante, os jogos sem você?”. E isso resume bem a mágica das palavras do Mestre Armando. Saudade eterna.
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