ÁGUAS ABERTAS
Com mais de 100 provas em 20 anos, Leca pode nadar por 24h seguidas
Ultramaratonista aquática se preparou para fazer os 60km entre Salvador e Morro de São Paulo
Por Lincoln Oriaj
Assim como as maratonas e ultramaratonas de corrida, existem também as aquáticas. Diferente da modalidade terrestre, as provas em águas abertas são caracterizadas por distâncias acima de 15 Km, chegando a ter provas de mais de 50 km.
A ultramaratonista Alessandra Melo, mais conhecida como Leca, está acostumada com este tipo de atividade. São mais de 100 provas nos últimos 20 anos. É claro que ela começou com distâncias menores e foi aumentando o desafio aos poucos.
Tudo mudou em 2019, quando esse desafio se tornou uma grande ambição e Leca passou a realizar ultramaratonas. Eram travessias inéditas e que necessitavam de muito preparo e dedicação.
Em 2021, Leca saiu do Farol de Itapuã, nadou até o Farol da Barra e concluiu a prova no Farol de Monte Serrat, todos em Salvador. Ela foi a primeira mulher a completar esse percurso de 34 km entre os três faróis, completando a ultramaratona em 10 horas.
“Foi uma homenagem a Salvador para agradecer o que a cidade fez por mim e ver essa orla tão bonita por outro ângulo. Foram 6 meses dedicados a explorar o percurso”, relatou Leca.
No ano seguinte, em 2022, a ultramaratonista também se tornou a primeira mulher a completar a Travessia Madre de Deus - Porto da Barra, que é realizada de maneira oficial desde 2017. Foram 30 km em pouco mais de seis horas.
“Você nada saindo da Baía de Todos os Santos, a segunda maior baía do mundo, e tem o tempo da maré vazante para chegar. Se virar a maré, você não chega mais. No final, peguei 23 minutos de enchente. Nadar contra a maré é duro: levei 1 hora para completar os últimos 2km. Eu não quero chegar rápido, eu só quero chegar”, explicou a atleta.
No fim do último ano, Alessandra passou mais de 16 horas para completar um percurso de 42 km, saindo do Porto da Barra, indo até Paripe e retornando para o ponto de partida. Não satisfeita, ela ainda aumentou o nível de dificuldade nadando contra a maré.
“Eu já tinha feito o trajeto Paripe-Porto. Dessa vez, para aumentar a carga de dificuldade, nadei o tempo todo contra a maré. Tive que fazer muitos desvios no caminho, aumentando o trajeto, mas buscando lugares mais protegidos próximos às praias. Foram mais de 16 horas nadando no mar, incluindo uma noite inteira, comecei no dia 2 e terminei no dia 3 de dezembro”, lembrou Leca.
E todo esse esforço na última maratona aquática serviu de preparação para o maior desafio que Leca vai enfrentar, pelo menos até agora. Nesta quinta-feira, 18, ela vai sair de Salvador com destino a Morro de São Paulo e pode passar até 24 horas dentro do mar para completar os cerca de 60 km do percurso.
“Estou treinando há dois anos para essa travessia de amanhã vai ser uma travessia muito dura mas eu estou preparada para enfrentar os 60 km. Estou preparada se tiver chuva, se tiver vento e eu vou chegar. A dificuldade é a distância de 60 km, porém lá na chegada também tem uma dificuldade que é o rio de contas, que deságua ali na frente de morro”, disse ao Portal A TARDE.
“Eu tenho uma preparação física que envolve a natação com treino seis vezes por semana, sendo de terça a sexta na piscina e sábado e domingo no mar. Tenho também fortalecimento três vezes na semana no estúdio de fisioterapia, e eu também vou a uma clínica com nutrólogo e nutricionista que me acompanham há uns quatro anos. Sou muito disciplinada, dificilmente eu falto”, complementou Alessandra.
Outra dificuldade que Leca vai encontrar vai ser o sol forte. Além disso, há o contato direto com peixes que acabam esbarrando nela durante a atividade, principalmente durante a noite. Diante disso, a preparação é completa e a equipe é grande. Ao todo, são 15 pessoas entre marinheiros, técnicos, fisioterapeuta, socorrista, juiz e fotógrafos.
“Eu escolhi sair às 9h da manhã porque eu prefiro enfrentar o sol primeiro, que eu estou mais resiliente, mais descansada. Depois que eu estiver exausta do sol, lá pras 6h da tarde, vem a noite, que é a chance de eu me recuperar e descansar a noite, porque é bem menos desgastante, e me fortalecer novamente para na hora que amanhecer, eu estar preparada para o sol na minha cabeça”, detalhou.
“Sei que todo mar tem tubarão, mas me mantenho tranquila. De noite, os peixes maiores esbarram e beliscam, e por isso seguimos com as luzes apagadas. Um caiaque vai à frente desviando tocos de árvores e cocos à deriva”, concluiu.
Leca é uma inspiração para todos os amantes de esportes. A travessia entre Salvador e Morro de São Paulo tem tudo para ficar marcada como um grande sucesso em sua brilhante trajetória aquática.
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