GORDOFOBIA
"Não querem porque você é gordo", relata ex-Bahia sobre contratação
O técnico ficou conhecido pelo apelido "Gordiola" e afirma que perdeu oportunidades pelo preconceito

Por Marina Branco

O Remo está na Série A pela primeira vez em 32 anos - mas o treinador que o guiou até lá não segue com o clube. Acostumado a ser lembrado pelos acessos conquistados ao longo da carreira, o ex-técnico do Bahia Guto Ferreira deixou o Remo ao final da temporada de 2025, e ainda busca um novo time.
O treinador, que soma cinco acessos à Série A por equipes diferentes, evita o rótulo de "especialista em Série B" e afirma que seu principal objetivo agora é encontrar um projeto que lhe ofereça respaldo e continuidade na primeira divisão.
Uma das maiores dificuldades que enfrentou na carreira, no entanto, não vem de divisões, mas sim de preconceito, melhor especificado como gordofobia.
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Gordofobia no futebol
Conhecido pelo apelido "Gordiola", criado na época em que comandava a Ponte Preta e fazia um trabalho elogiado pelo estilo ofensivo, Guto afirma nunca ter se sentido ofendido pelo apelido em si, mas reconhece que a obesidade já foi usada como argumento para descartá-lo em negociações.
"O que posso dizer é assim: tête-à-tête ninguém vai falar isso para você. Mas, em determinados momentos, eu vivia fases espetaculares em clubes da Série A... Os empresários, um dos sócios que vivia no mundo árabe, vinha e falava assim: 'pô, os caras não querem porque você é gordo'", afirmou em entrevista ao Globo Esporte.
Mesmo assim, Guto diz lidar bem com o tema e afirma que nunca deixou que isso afetasse sua confiança profissional. Para ele, o apelido acabou tendo um efeito positivo ao humanizar sua imagem, antes associada a um treinador rígido e excessivamente intenso à beira do campo.
"Eu acho que, primeiro, não tenho nada a ver com o Guardiola. Já me perguntaram e eu disse: o que deve ser parecido é o branco do olho. Mas sempre falei: só ficaria chateado se usassem o apelido de forma pejorativa. E, graças a Deus, isso nunca aconteceu. Sempre foi carinhoso, até valorizando. O apelido me humanizou", disse.
"Até 2013 ou 2014, se você me visse na beira do campo, acharia que eu era um monstro. As caretas, a agitação. Passava a imagem de um cara bronco, rude", afirmou.
"Depois que as pessoas me conheciam, viam que eu não era nada disso. Era o momento, a vivência da partida, a tensão. O 'Gordiola' humanizou isso. Então, não tenho nada a reclamar; ao contrário, só agradecer", explicou.
Rei do Acesso?
Um título que o desagrada, no entanto, é o de "Rei do Acesso". Ao longo de mais de duas décadas no comando de clubes, Guto passou por 20 times e acumulou títulos estaduais, regionais e campanhas consistentes mesmo com elencos de investimento muito inferior aos concorrentes. Ainda assim, reconhece que a marca acabou se transformando em uma armadilha para a carreira.
A saída do Remo, mesmo após o acesso, foi motivada justamente pela falta de garantias para a sequência do trabalho. Para ele, iniciar um projeto na Série A exige tempo, paciência e compreensão de que os resultados nem sempre aparecem de imediato.
Futuro de Guto
Apesar de rejeitar o estigma, Guto lembra que seu currículo na Série A inclui campanhas sólidas, muitas vezes com clubes que tinham orçamentos muito menores do que os rivais diretos. Ainda assim, admite que a imagem construída ao longo dos anos pesa no mercado.
Agora aos 60 anos, Guto Ferreira segue em busca de um novo desafio. Mais do que subir times, ele quer a chance de mostrar que pode construir um trabalho duradouro na Série A, longe de rótulos e estereótipos que, segundo ele, já não refletem quem é nem o que entrega dentro de campo.
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