FENAGRO
Especialistas debatem impacto da inovação e da bioeconomia no agro baiano
Setor agro projeta avanço com industrialização, mas esbarra em desafios energéticos

Por Luís Guimarães | Anota Bahia

Considerada a maior do setor nas regiões Norte e Nordeste, a Fenagro chega a sua 34ª edição e segue promovendo debates que enriquecem o ecossistema do agronegócio baiano. Nesta quarta-feira, 3, o evento no Parque de Exposições de Salvador sediou mais um Momento FENAGRO com o tema ‘O panorama da inovação tecnológica e da bioeconomia no agronegócio baiano’, abordando o impacto das últimas tecnologias e práticas sustentáveis no desenvolvimento do setor.
Mediado pelo empresário e diretor-editorial do Anota Bahia, Tamyr Mota, o bate-papo reuniu especialistas e players na Casa A TARDE, trazendo ainda mais credibilidade para a discussão.
Para Felipe Cabral, líder de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do SENAI CIMATEC, as tecnologias têm trazido uma contribuição muito relevante para o agro. Técnicas da chamada Agricultura de Precisão, como a utilização de sensores e dados, se unem à inteligência artificial para gerar informações. Através de alguns algoritmos, todo esse estudo cumpre papel importante no auxílio ao produtor rural e na tomada de decisão.
“Isso tem refletido de forma positiva para o campo ser mais assertivo, refletindo também na questão econômica. A gente consegue ser mais eficiente com os recursos e insumos, além de conseguir, por sua vez, aumentar a produtividade”, conta Cabral.
O especialista ressalta que embargar mais tecnologia não é sinônimo de desemprego ou de perca mão de obra. Na prática, acontece um processo de requalificação, visto que cada vez mais o setor exige capacitação. “Antigamente o agro era um pouco discriminado. ‘Se não estudou, vai para o campo’. Não, agora você tem que estudar para ir para o campo operar essas tecnologias e ferramentas. É preciso ter conhecimento e expertise para poder atuar no agro”, pontuou.
Em sua participação, o superintendente estadual do Banco do Nordeste na Bahia/CIMATEC, Pedro Lima, também enalteceu o papel da inovação como um vetor de expansão do setor agrícola no estado. “A gente tem a mais moderna agricultura familiar do planeta e esse investimento em pesquisa e tecnologia é grande parte do sucesso do desenvolvimento do agro e da agricultura familiar na Bahia”, destacou.
Lima avalia que os players estão seguindo para o próximo passo da cadeia: a industrialização. Indústrias de grande porte já estão presentes no Oeste Baiano, potencializando ainda mais essa expansão. No entanto, reforça que existem obstáculos energéticos para o setor alçar novos voos, principalmente no viés industrial.
“O governo federal vem atuando forte em parcerias com o Estado e temos perspectivas de leilões de expansão da rede de atuação para 2026 e 2027, justamente para estar lado a lado com o setor. Através do banco a gente também apoia financeiramente esses empreendimentos”, disse.

Já Felipe Cabral, aponta que o agronegócio apresenta três principais tendências atualmente, sendo a primeira justamente as inovações tecnológicas como ferramenta de maior precisão. O segundo caminho se classifica como Agricultura Agropecuária Regenerativa, que consiste em produzir com sustentabilidade e eficiência no uso do solo, abordando também a manutenção saúde do solo, incluindo a parte física, química e biológica.
A Bioeconomia é a terceira “mega tendência” do agro e, segundo o líder de PD&I do CIMATEC, um conceito que o setor precisa aproveitar mais. “O agro é responsável por alimentar 800 milhões de pessoas e essa responsabilidade vai continuar. Porém, agora há também um passo adicional. O agro também vai ser responsável para fornecer matéria-prima para uma nova indústria verde que vem surgindo”, afirmou.
Por sua vez, o diretor de Indução para o Desenvolvimento Científico da Secretaria De Ciência, Tecnologia E Inovação (SECTI), Georgheton Melo, enxerga que ainda há a necessidade de estudar, pesquisar e aprimorar essas tecnologias. A análise não compreende somente a área da Agricultura de Precisão, mas da gestão ambiental, dos recursos de solo e de água. Ele acredita que a Bahia tem os instrumentos para viabilizar esse desenvolvimento, mas que é imprescindível promover o encontro entre as partes. A ciência, as instituições, as redes de institutos federais e os agricultores precisam se unir.
“O maior desafio nosso enquanto Secretaria de Ciência e Tecnologia está em realizar essa articulação da estrutura institucional, dos instrumentos que nós temos, dos produtores e do território, na efetividade das políticas necessárias para fomentar o desenvolvimento dessas tecnologias e das cadeias produtivas como um todo, do setor, da governança. Então tem muita coisa para ser desenvolvida, mas que demanda essa aproximação”, reforçou.
O gestor de desenvolvimento científico também destacou a importância de políticas públicas voltadas à Bioeconomia. O território baiano tem, de acordo com ele, 84% do seu território no semiárido, área que guarda uma diversidade muito grande de pequenas propriedades manejadas pela agricultura familiar.
Esses players desenvolvem sistemas produtivos tradicionais em pequenas unidades de produção, considerando que 90% dessas propriedades tem em torno de 5 hectares. Com o desafio aumentado, os sistemas produtivos precisam dar respostas em termos de capacidade de geração de alto valor agregado, de maneira que impacte positivamente na vida dessas famílias.
“Nesse contexto, a bioeconomia passa a ser uma estratégia importante no desenho desses novos sistemas produtivos, para trabalhar com insumos bioativos, por exemplo, que é uma área que a gente desenvolve, integrando a produção da agricultura familiar com outras indústrias, como a indústria farmacêutica, a indústria de cosméticos, biopesticidas, biofertilizantes, de maneira que essa agricultura participe de cadeia produtiva de alto valor agregado e que está em uma área de fronteira, que tem uma elasticidade muito grande”, explica Georgheton Melo.
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Impacto do Tarifaço

A economia do agronegócio está bastante vinculada ao mercado internacional, tanto com compradores estadunidenses quanto do mercado asiático. Portanto, a integridade dos processos depende da qualidade dos acordos de cooperação do Brasil com os demais blocos comerciais.
Pedro Lima avalia que os impactos aconteceram e serviram de alerta para que se buscasse outros mercados. “Hoje o Brasil já não é tão dependente dos Estados Unidos quanto a exportação. A parceria com eles voltou de forma até mais forte e mais próxima. Então acho que foi um momento de buscar outros mercados, buscar outras oportunidades e olhar um pouco para o mercado interno que precisa de um olhar um pouco mais forte”, afirmou.
Georgheton acredita que já está tendo uma flexibilidade nesse momento, apesar do recuo dos Estados Unidos acerca das sobretaxas ainda não cobrir todos os setores. Para ele, essa revisão vai chegar, mas exigirá paciência e negociação por parte da diplomacia brasileira. “O governo brasileiro, embora pudesse, não aplicou reciprocidade aqui no Brasil. O país procurou manter as portas abertas para abrir uma agenda de flexibilização e está dando certo”, celebrou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou, na última terça-feira (2), com o presidente Donald Trump, no que foi considerado um telefonema “produtivo”, pela Presidência da República. É esperado que as negociações para retirada da sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros avancem mais rapidamente. De acordo com o governo, 22% das exportações brasileiras para os Estados Unidos ainda permanecem sujeitas às sobretaxas.
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