A vida dos sobreviventes dos bombardeios russos em Kiev
Estima-se que cerca de metade dos 3,5 milhões de habitantes da capital já tenha ido embora
Dentro de seu apartamento em Kiev, cheio de cacos de vidro, Alla Ragulina soluça enquanto vê sua vida ser destruída por uma série de bombardeios russos na capital ucraniana.
A força da explosão, ao amanhecer, destruiu as janelas, e jogou essa mulher de 64 anos, funcionária de uma repartição pública, contra a parede.
Sua mãe, cega e incapaz de andar, está agora no hospital, uma das últimas vítimas dos inúmeros bombardeios do ataque russo a Kiev.
"A explosão foi tão grande", diz Ragulina, entre soluços. "As pessoas estavam dormindo, cacos de vidro voavam e eu fui literalmente jogada contra uma parede. É um milagre que ninguém tenha morrido".
As forças russas, tentando cercar Kiev, intensificaram os bombardeios na capital, que até agora resistiu a devastação, ao contrário de Mariupol no sul ou Kharkiv no nordeste.
Os ataques podem levar mais pessoas a fugir. Estima-se que cerca de metade dos 3,5 milhões de habitantes da capital já tenha ido embora.
'Não posso deixar o país'
Uma grande cratera se formou na calçada do prédio onde Ragulina mora, no bairro de Podilsk, em Kiev. Especialistas do Exército e da polícia examinaram os restos de um míssil.
Quase todos os apartamentos deste prédio de dez andares, erguido na era soviética, mostram sinais de devastação.
O apartamento ao lado do de Ragulina foi destruído por um incêndio. Nela, a água usada pelos bombeiros para apagar o fogo chegou aos tornozelos.
Kiev tornou-se uma cidade fantasma, com ruas vazias, postos de controle e o medo de um ataque iminente das forças russas.
Muitos fugiram, mas outros não querem ou não têm a oportunidade de fazê-lo.
"Não posso deixar o país porque meu filho mais velho tem 20 anos e está no exército", explica Olena Yavdoshchuk, 40, gerente de uma clínica, enquanto pega cacos de vidro espalhados em um playground.
"É por isso que fico, com meu marido e com meus outros dois filhos de dez e três anos", diz.
'Vocês serão os próximos'
Conforme os russos continuam avançando e pressionando militarmente, o número de mortos continua aumentando, muitos em Kiev não entendem por que o Ocidente não intervém.
Eles ecoam os apelos desesperados do presidente Volodimir Zelensky para que a Otan imponha uma zona de exclusão aérea, uma exigência rejeitada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pois poderia desencadear uma Terceira Guerra Mundial.
"Graças a Deus, estamos vivos", diz Nataliya, 60, funcionária do metrô. "Mas olhe para isso!" ela exclama mostrando a destruição de seu apartamento.
"Deem-nos aviões, fechem os céus! Toda a Kiev será destruída, e para onde irá Putin depois?"
"Ele não vai parar, ele é um fanático. Vocês serão os próximos!"