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A vida dos sobreviventes dos bombardeios russos em Kiev

Estima-se que cerca de metade dos 3,5 milhões de habitantes da capital já tenha ido embora

Publicado terça-feira, 15 de março de 2022 às 23:59 h | Autor: Danny Kemp | AFP
Russos avançam e pressionam militarmente, enquanto o número de mortos continua aumentando
Russos avançam e pressionam militarmente, enquanto o número de mortos continua aumentando -

Dentro de seu apartamento em Kiev, cheio de cacos de vidro, Alla Ragulina soluça enquanto vê sua vida ser destruída por uma série de bombardeios russos na capital ucraniana.

A força da explosão, ao amanhecer, destruiu as janelas, e jogou essa mulher de 64 anos, funcionária de uma repartição pública, contra a parede.

Sua mãe, cega e incapaz de andar, está agora no hospital, uma das últimas vítimas dos inúmeros bombardeios do ataque russo a Kiev.

"A explosão foi tão grande", diz Ragulina, entre soluços. "As pessoas estavam dormindo, cacos de vidro voavam e eu fui literalmente jogada contra uma parede. É um milagre que ninguém tenha morrido".

As forças russas, tentando cercar Kiev, intensificaram os bombardeios na capital, que até agora resistiu a devastação, ao contrário de Mariupol no sul ou Kharkiv no nordeste.

Os ataques podem levar mais pessoas a fugir. Estima-se que cerca de metade dos 3,5 milhões de habitantes da capital já tenha ido embora.

'Não posso deixar o país'

Uma grande cratera se formou na calçada do prédio onde Ragulina mora, no bairro de Podilsk, em Kiev. Especialistas do Exército e da polícia examinaram os restos de um míssil.

Quase todos os apartamentos deste prédio de dez andares, erguido na era soviética, mostram sinais de devastação.

O apartamento ao lado do de Ragulina foi destruído por um incêndio. Nela, a água usada pelos bombeiros para apagar o fogo chegou aos tornozelos.

Kiev tornou-se uma cidade fantasma, com ruas vazias, postos de controle e o medo de um ataque iminente das forças russas.

Muitos fugiram, mas outros não querem ou não têm a oportunidade de fazê-lo.

"Não posso deixar o país porque meu filho mais velho tem 20 anos e está no exército", explica Olena Yavdoshchuk, 40, gerente de uma clínica, enquanto pega cacos de vidro espalhados em um playground.

"É por isso que fico, com meu marido e com meus outros dois filhos de dez e três anos", diz.

'Vocês serão os próximos'

Conforme os russos continuam avançando e pressionando militarmente, o número de mortos continua aumentando, muitos em Kiev não entendem por que o Ocidente não intervém.

Eles ecoam os apelos desesperados do presidente Volodimir Zelensky para que a Otan imponha uma zona de exclusão aérea, uma exigência rejeitada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pois poderia desencadear uma Terceira Guerra Mundial.

"Graças a Deus, estamos vivos", diz Nataliya, 60, funcionária do metrô. "Mas olhe para isso!" ela exclama mostrando a destruição de seu apartamento.

"Deem-nos aviões, fechem os céus! Toda a Kiev será destruída, e para onde irá Putin depois?"

"Ele não vai parar, ele é um fanático. Vocês serão os próximos!"

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