INOVAÇÃO
Futuro da construção civil: conheça o material que pode revolucionar o setor
No país, produção com madeira cresceu 160%, em 5 anos; globalmente, previsão é de alta de 115%, em uma década
Por Joana Lopes

Diante da urgência climática e da necessidade de descarbonizar a economia, a construção civil tem buscado cada vez mais soluções sustentáveis. Nesse cenário, a madeira vem se consolidando como uma alternativa viável, eficiente e ambientalmente responsável, com potencial para revolucionar o setor.
No Brasil, a produção cresceu 160% em cinco anos e a previsão é de que a produção global avance 115% na próxima década, de acordo com o Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira (Ibramem).
“O futuro da construção civil não será de concreto, nem de aço, se quisermos que ele seja sustentável. Cada metro cúbico de madeira utilizado em substituição a materiais convencionais representa uma oportunidade de reduzir emissões, gerar empregos, estimular inovação e promover inclusão social. A madeira vem como protagonista e as florestas plantadas precisam ser vistas como ativos estratégicos de uma nova economia verde”, afirma Ângela do Valle, presidente do Ibramem.
A madeira engenheirada é um método que utiliza a madeira processada industrialmente na construção civil. A técnica consiste em colar as fibras em alguns sentidos para aumentar a capacidade estrutural da madeira, além de excluir trincas e rachaduras.
O objetivo é facilitar a conexão entre as peças no momento da construção. E, por ser uma madeira de reflorestamento, o processo é pautado pela compensação ambiental.
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"De toda a cadeia construtiva, a madeira é o único material renovável. A indústria da construção civil e manutenção dos prédios é o maior emissor de CO2 do planeta. Se você pegar os carros, aviões, navios etc., eles emitem menos da metade do que a indústria civil emite. A nossa responsabilidade de olhar para a edificação como um produto sustentável é enorme, por isso temos apostado nesse material”, afirma Marcelo Aflalo, engenheiro, designer e presidente do Núcleo de Referência em Tecnologia da Madeira.
No cenário internacional, essa aposta tem se consolidado em mega construções, como o edifício Mjøstårnet, na cidade de Brumunddal, na Noruega. Com 85,4 metros de altura e 18 andares, ele é o prédio mais alto do mundo todo construído em madeira e nasceu justamente com o objetivo de chamar atenção para soluções mais sustentáveis na construção civil. “Esperamos que essa construção inspire outros a escolher soluções mais ecologicamente corretas nos próximos anos”, declarou Morten Kristiansen, CEO da Moelven Industrier ASA, incorporadora à frente do projeto durante a construção do edifício, em 2019.
Embora não esteja tão avançado quanto em outros países, o uso do material no Brasil tem um futuro promissor: em 2024, o país produziu 10 mil m³ de madeira engenheirada. Há cinco anos, a produção era de menos de quatro mil m³, de acordo com os dados do Ibramem. Segundo Ângela do Valle, a consolidação no setor depende do reconhecimento das vantagens técnicas e produtivas desse modelo. “A construção com madeira permite obras mais rápidas, com redução de até 40% no tempo de execução, e oferece um controle rigoroso de qualidade, uma vez que as peças saem prontas da fábrica para montagem direta no canteiro. Tecnologias como o CLT (Cross Laminated Timber) e o MLC (Madeira Lamelada Colada) já viabilizam construções seguras, sustentáveis e em larga escala, incluindo edifícios de múltiplos andares, como ocorre em países da Europa e da América do Norte”, diz.
Fábio Brun, presidente da Associação Paranaense das Empresas da Base Florestal (APRE Florestas), destaca outras barreiras na popularização do material: “Falta de mão de obra qualificada, de competência técnica, tanto da parte que envolve a arquitetura como a engenharia, e de políticas públicas específicas que incentivem as construções em madeira. São alguns dos gargalos que o setor precisa enfrentar e vencer”.
Ambientes interiores
Se na construção ela ainda está em debate, no design de interiores e decoração, a madeira é um consenso. Associado à ideia de aconchego, o material pode ser utilizado de diversas maneiras, conferindo diferentes texturas e tons aos ambientes. Nas reformas realizadas pelo arquiteto Raphael Wittmann, a madeira torna-se uma peça escultural, às vezes desde a porta de entrada. “Com ela, podemos elaborar portas amplas, com texturas naturais e com acabamentos sofisticados que entregam também a questão da arte. É um elemento que não apenas cumpre um papel prático, mas também adiciona calor e identidade ao ambiente”, afirma.
Wittmann também utiliza o material na marcenaria planejada, que executa móveis sob medida que maximizam o uso do espaço em ambientes em uma abordagem que permite atender às necessidades específicas dos usuários. “Essa estratégia não apenas melhora a funcionalidade dos ambientes, mas também assegura a durabilidade dos móveis, fazendo dela uma opção inteligente para quem busca otimização e praticidade em projetos de interiores”, diz o arquiteto. Em um cenário que valoriza cada vez mais a estética sustentável, isso é fundamental.
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