GÊNERO
Mulheres falam sobre os desafios da presença no mercado imobiliário
Apesar de 40% dos profissionais de corretagem serem mulheres, elas ocupam apenas 15% dos cargos de liderança
Por Joana Oliveira
As mulheres são responsáveis por 55% das compras de imóveis no Brasil, 40% dos profissionais de corretagem, de acordo com o Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci), mas ocupam apenas 15% dos cargos de liderança no mercado imobiliário. Esses dados estão recopilados nas pesquisas elaboradas pelo Instituto Mulheres do Imobiliário (IMI), que reúne corretoras, empreendedoras e outras profissionais do setor para fortalecer a presença feminina no setor.
O IMI começou como um grupo, em 2019, para debater as questões de gênero no mercado, como conta uma de suas fundadoras, a arquiteta Elisa Rosenthal. Ela trabalhou por mais de 17 anos na criação de produtos e, depois do segundo filho, decidiu abrir a própria empresa de desenvolvimento imobiliário. “Percebi que é muito solitário ser uma mulher à frente de negócios nessa área”. E foi esse sentimento que a motivou a criar a iniciativa que, no primeiro mês, já tinha 100 participantes. Hoje, são 1.500 membros, entre arquitetas, engenheiras, corretoras e advogadas.
“Além de um espaço de trocas de experiências e acolhimento, temos um braço de ação social. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, oferecemos bolsas para formação de corretoras para mulheres em situação de vulnerabilidade”, conta Elisa.
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Uma das participantes do que viria a se tornar o IMI é a baiana Joana Farias, que, após trabalhar com relações públicas em uma das maiores construtoras do país, se aprofundou no mercado imobiliário, pelo qual se encantou. “É um setor grande, que tem infinitas possibilidades de atuação. Fiz o curso para tirar o Creci e vi que a corretagem poderia ser meu plano A de vida, em vez de um plano B”, relata. Joana se mudou de Camaçari para Lauro de Freitas, com o objetivo de ir além do mercado local e atender toda a região metropolitana de Salvador. “Hoje, tenho minha própria imobiliária, com uma equipe exclusivamente formada por mulheres. E elas são 65% das nossas clientes”, diz.
Os dados do IMI e da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário (ABMI) mostram que a tomadora de decisão nesse mercado, inclusive a decisão financeira é, cada vez mais, a mulher. Quando não compram sozinhas os próprios imóveis, elas influenciam diretamente entre 70% e 80% das compras. “Ou seja, debater a presença e participação delas no mercado imobiliário é estratégico para todos. Um corretor, comprador, dono de imobiliária que não olha para essa consumidora está perdendo dinheiro”, afirma Raquel Trevisam, gerente de marketing na Imóveis Crédito Real. Ela também é diretora do Soma, evento promovido pelo IMI, cuja terceira edição acontecerá nos dias 14 e 15 de agosto, em São Paulo, para discutir protagonismo feminino, compartilhar experiências e “inspirar novas gerações de mulheres a serem protagonistas de suas próprias carreiras”.
“A maioria dos congressos imobiliários é composta por 90% de homens. O Soma é uma resposta a isso”, diz Joana Farias, que será uma das palestrantes, pelo segundo ano consecutivo. Ela lembra que, apesar dos bons resultados das profissionais nesse mercado, os homens ainda são mais numerosos entre os donos de construtoras e incorporadoras.
“O mercado é majoritariamente composto por empresas familiares, lideradas por homens. É um mercado masculino, masculinizado, porque muitas mulheres usam estratégias associadas aos homens para conseguir destaque, e machista, por acreditar que as mulheres têm um mero papel de assistência”, confirma Elisa Rosenthal.
Ela destaca, no entanto, que todas as empresas lhe confirmam que as corretoras mulheres são as que mais vendem. “E, enquanto clientes, elas assumem cada vez mais os financiamentos e quitam antes seus imóveis”, acrescenta.
É para reforçar esse cenário que o Soma também conta com a participação e presença de homens relevantes no setor. “É fundamental que eles aprendam sobre questões de gênero nesse mercado que eles sequer imaginam que existem”, diz Elisa. “Um corretor homem não pensa em deixar de marcar uma visita no início da noite, por exemplo, por medo de ficar sozinho com o cliente”, comenta Raquel Trevisam.
Joana Farias lembra de mais de um episódio de machismo que vivenciou nos muitos anos de carreira. “Já aconteceu de um corretor entrar na minha empresa para tentar me diminuir. Sendo que eu estudei muito, mudei minha vida, e, além de ser corretora, sou gestora de projetos de construtoras”. Apesar dos desafios, principalmente os de gênero, ela acredita que, no mercado imobiliário, “é possível ser quem você quiser”, desde que se busque alta performance. “Por isso, não quero que as mulheres da minha equipe sejam como eu, quero que sejam ainda melhores”, afirma.
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