MUITO
6 cafés e restaurantes em Salvador com decoração charmosa e histórica
Espaços provam que arquitetura afetiva é realidade

Por Pedro Hijo

Se para você a casa perfeita é aquela com paleta de cores neutra, poucos objetos e tudo impecavelmente organizado, é melhor rever esses conceitos. A estética do "menos é mais", que virou regra de bom gosto e ditou tendência por anos, tem dado lugar a um movimento contrário que privilegia a identidade de quem mora. Na véspera do Dia do Arquiteto, comemorado amanhã, 15, profissionais baianos concordam que a palavra de ordem nos projetos contemporâneos é alma.
"A gente não vive bem em um lugar onde não se reconhece”, diz a arquiteta e designer de interiores Betth Garcia. "Quando o projeto traz memórias boas, o ambiente muda de energia, traz aquela sensação de entrar e pensar ‘aqui é meu lugar’", conta a profissional, que trabalha com projetos residenciais há mais de duas décadas.
A explicação é científica. Este ano, um estudo de imersão virtual publicado pelo grupo de pesquisas suíço Frontiers avaliou respostas físicas e psicológicas de pessoas em ambientes residenciais que continham vegetação, iluminação confortável e decorações com carga nostálgica. Os resultados apontaram uma queda significativa no estresse em comparação a ambientes neutros.
A arquiteta Rafaela Giudice concorda com o estudo. "Antes, todo mundo ligava para a casa perfeita, igual à revista", afirma. "Mas revista não mostra bagunça, não mostra mancha, não mostra vida real”.

Para Rafaela, uma das etapas mais importantes nos projetos que assina é conversar individualmente com cada morador. Nesse momento, ela tenta descobrir o que cada pessoa entende por lar, aconchego e pertencimento. “Eu sempre digo que a casa tem que contar quem mora ali. Eu preciso entrar e entender que aquilo ali não pode ser de qualquer pessoa”.
Contra soluções prontas, o arquiteto baiano Marcelo Prado vê a troca com o cliente como um ponto fundamental para a criação de um projeto. Para ele, a personalidade do morador deve aparecer em cores, texturas, materiais e objetos. "É sobre ter 'interessância'", explica Marcelo, referindo-se a ambientes que carregam vida, camadas e história.
De acordo com Marcelo, peças herdadas da família, objetos garimpados em feiras ou lembranças de viagem podem virar o centro de um projeto. O arquiteto é conhecido por inserir itens de memória em produções e incorporar móveis de garimpo. Ele já utilizou, por exemplo, um livreiro da década de 1930 como cristaleira. "A última aquisição foi uma carteira escolar de criança para um projeto", conta.
Betth incentiva que o morador traga objetos com história para a conversa. "Já tive projeto em que usamos uma peça de viagem como ponto de partida da decoração e outro em que restauramos um móvel antigo da família para virar destaque da sala”.
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Começo

O desafio de montar uma casa com alma pode parecer grande. Afinal, nem todo mundo se conhece o suficiente para traduzir personalidade em cor, textura e objeto. Os três especialistas apontam caminhos parecidos. Betth recomenda começar por poucas referências afetivas. “Escolha duas ou três coisas que importam muito para você e deixe que elas guiem o restante”, diz. “Não precisa lotar a casa de coisas”.
Marcelo sugere olhar para hábitos e rotina antes de qualquer escolha estética. “O que funciona na casa de um artista pode não funcionar na sua vida", explica. "Se tem medo de ousar, use base neutra e ouse nos elementos decorativos, que são fáceis de trocar”.
Embora a tendência da casa com alma esteja em alta no Brasil e no mundo, Rafaela faz uma provocação sobre o cenário baiano. “Às vezes, tenho a sensação de que a arquitetura de interiores em Salvador é muito pautada pelo mercado de São Paulo, e aí se esquecem das origens”, diz. “Vejo muita coisa boa, mas também vejo vontade de ser igual ao outro porque saiu na revista”.
Ainda assim, ela ressalta que há muitos profissionais baianos produzindo projetos interessantes e que o problema não está nos arquitetos, mas na insegurança dos clientes em assumir a própria identidade. "Se você gosta de uma parede amarela, tenha. A casa é sua”. Ela reforça que a autenticidade é mais importante que tendência. “Não importa a moda, a arquitetura de interiores reflete nosso emocional, nossa personalidade e nossas raízes”, conclui.
Lugares com personalidade:
Os arquitetos Betth Garcia, Marcelo Prado e Rafaela Giudice listam locais baianos que contam com arquitetura e decoração que refletem a alma da cidade.
Cafeteria Cafelier – Rua do Carmo, 50, Santo Antônio, Centro Histórico, Salvador
Tanto Betth quanto Marcelo citam o espaço como referência. Um café que parece casa de avó estilosa: objetos garimpados, paredes com histórias e vista que abraça.
Restaurante Poró – Rua Direita de Santo Antônio, 142, Santo Antônio Além do Carmo, Salvador
Na lista de Marcelo, o restaurante mistura aconchego, identidade e curadoria singular de mobiliário e decoração.
Cafeteria Casa Castanho – Avenida Princesa Isabel, 48, Barra, Salvador
Para Betth, um exemplo claro de como valorizar a arquitetura original e criar ambiente acolhedor sem excessos.
Palacete Tira-Chapéu – Rua Tira-Chapéu, R. Chile, 1-C, Centro Histórico, Salvador
Mistura passado e presente, com lojas, cafés e restaurante que mantêm a história da cidade viva na experiência.
Cafeteria Solange Café – Rua das Hortênsias, 422, Pituba, Salvador
Recomendado por Marcelo, é um espaço cheio de pequenos detalhes que evocam memória afetiva.
Restaurante Preta – Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe, Ilha dos Frades
Carregado de referências, texturas, objetos e histórias, o local é um respiro afetivo e cultural.
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