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28/07/2024 às 5:00 - há XX semanas | Autor: Andreia Santana

MUITO

Centenárias ensinam que vida longa combina com bom humor

Último Censo mostra que mais de cinco mil pessoas com 100 anos vivem na Bahia

Dona Lalu, 100 anos, com o personal Murilo
Dona Lalu, 100 anos, com o personal Murilo -

Brazília, assim mesmo com Z, gosta de costurar e ouvir resenha esportiva no rádio antes de dormir. Margarida é uma grande leitora de romances e faz palavras cruzadas para manter a mente afiada. Eulália, ou Lalu, para os amigos e seguidores da internet, cuida das plantas e pega firme nos exercícios de musculação, com disciplina de atleta. E Líbia, ou Libão para os íntimos, tirou a família toda da cama em uma quinta-feira de chuva intensa, para celebrar seu aniversário com uma missa na Igreja do Bonfim.

Em comum, essas quatro mulheres têm o fato de viverem na Bahia e, juntas, somarem mais de quatro séculos de histórias de vida. A receita para chegar aos 100 anos com tanta energia? Cada uma tem a sua. Mas, um fator é essencial para todas elas: muita alegria para celebrar cada dia e bom humor para navegar pelos perrengues da rotina.

O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2022, revela que Brazília, Margarida, Líbia e Lalu não são exceções. Na Bahia vivem 5.336 pessoas centenárias. Somos o estado brasileiro com o maior número de idosos com 100 anos ou mais, tendência que foi percebida desde a contagem populacional em 2010, quando por aqui viviam 3.335 centenários. No intervalo de 12 anos entre os dois censos, o número de baianos e baianas que chegaram a um século de vida subiu 60%.

O fenômeno, que tem relação com o aumento da expectativa de vida da população e com as melhorias na atenção à saúde dos idosos, é bem percebido em Salvador, onde três das personagens ouvidas pela reportagem moram. Na capital, o índice de envelhecimento da população é de 66 idosos para cada 100 crianças, comparando os dados de 2010 a 2022, conforme o IBGE.

Dos 417 municípios baianos, cinco têm mais idosos do que crianças na população: Abaíra (137 idosos para cada 100 crianças), Jussiape (117 idosos para cada 100 crianças), Jacaraci (105 idosos para cada 100), Guajeru (103 para cada 100) e Ibiassucê (102 idosos para cada 100 crianças), ainda segundo o Censo 2022.

Missa debaixo d´água

Líbia Varjão fez 100 anos neste sábado, com direito a festança e família inteira reunida. Na quinta-feira (25), a baiana de Uauá abriu as celebrações do centenário com uma missa no Bonfim. Dentro da igreja, filhos, netos, bisnetos e tataranetos se reuniram com os amigos para prestigiar a aniversariante. Curiosos e turistas que chegavam ao templo mais famoso de Salvador acabaram incorporados à comemoração. A informação de que a missa das 10h era para festejar um aniversário de 100 anos corria de boca em boca, arrancando suspiros de quem almeja também alcançar essa idade.

Na sacristia, antes da celebração começar, dona Líbia fez tanta selfie que até parecia bastidor de show da sua artista favorita, Ivete Sangalo. “Gosto muito de Ivete, tenho o sonho de conhecê-la”, contou. Sobre o segredo da longevidade, ela emendou: “Ah, minha filha, eu fui criada comendo carne de bode”.

Ao todo, ela teve seis filhos, três homens e três mulheres, que lhe deram 19 netos, 23 bisnetos e cinco tataranetos. Perguntada sobre a emoção de ver esse povo todo reunido, ela afirmou estar emocionada: “É uma beleza ter todo mundo aqui”.

Para os netos, ela gosta de contar histórias do passado, principalmente dos tempos do cangaço, quando precisava se esconder no meio do mato porque o bando de Lampião estava chegando em Uauá. “Eles gostam muito de ouvir essas histórias antigas”.

Ioga e musculação

Eulália Lopes Araújo mantém um perfil no Instagram (@lalulopesaraujo), onde é conhecida como a ‘vovó fitness’. Nascida em Maceió (AL), ela chegou à Bahia em 1965 e primeiro viveu em Salvador, até o marido ser transferido para Feira de Santana, onde mora até hoje, em uma casa ao lado da residência da filha.

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Uma publicação compartilhada por Rede Alpha Fitness (@redealphafitness)

O aniversário de 100 anos foi na segunda-feira (22) e a festa aconteceu na noite de quinta-feira (25), quando Lalu testou o fôlego adquirido com a musculação dançando valsa com os filhos. “Foi uma festa muito boa, aproveitei até meia-noite, depois fui deitar e os familiares continuaram festejando até 1h30”, contou Lalu.

A sexta-feira, segundo ela, foi um dia para a filha descansar dos preparativos da festa. Lalu, por outro lado, nem dava sinal de fadiga. Tudo culpa da ‘ginástica’, como ela diz. “Eu comecei com a ioga. Quando morava em Salvador, fiz ioga por muitos anos”, contou Lalu, que trocou a ioga pela musculação quando se mudou para Feira de Santana. São mais de 50 anos de dedicação à atividade física regular. “Eu preciso fazer exercícios para não ficar sem andar, não paralisar o corpo”, explica.

Mãe de quatro filhos, dois homens e duas mulheres, Lalu gosta também de interagir com amigos, conversar, ver TV e cuidar de suas plantas. “Hoje em dia já não exagero, porque os filhos não deixam, mas ainda cuido das minhas plantas um pouco”.

Seu segredo para chegar aos 100 anos tão ativa passa pela musculação, que além de cuidar do corpo, também serve para ela socializar e, assim, cuidar da mente. “É bom manter contato com todo mundo de quem você gosta, isso ajuda a memória graças a Deus”, complementa.

Líder de mulheres

Brazília Ribeiro Martins nasceu em 23 de maio de 1924, em São Gonçalo dos Campos, de onde se mudou ainda menina para trabalhar como babá e cozinheira. Ao longo da vida, exerceu diversas profissões, mas a sua preferida é a de parteira. “Eu sinto saudades, é uma beleza ajudar as mulheres a parir”, relembra.

O primeiro parto que assistiu, tinha 15 anos, e a mãe a chamou para que cortasse o cordão umbilical do recém-nascido. A partir daí, foram décadas dedicadas à profissão. Em Salvador, perdeu as contas de quantos partos fez no Vale dos Barris, onde morou primeiro, e em Castelo Branco, para onde se mudou em 1973. Na casa onde vive há 51 anos, ajudou netos e sobrinhos a nascerem e atendeu as mulheres da vizinhança.

“Meu primeiro trabalho foi de babá, com 9 anos. Uma professora me viu na rua e falou com pai para me levar para Feira de Santana, onde cuidei de um bebê de 6 meses”, conta ela, que aos 8 anos já era responsável por tomar conta dos dois irmãos mais novos enquanto a mãe e as irmãs maiores trabalhavam na roça.

No vale dos Barris, era uma espécie de líder comunitária das mulheres locais, principalmente das gestantes, que ela incentivava que fizessem o pré-natal até o oitavo mês de gestação. Outro hábito era chamar os maridos das mulheres para ajudar no parto. “Marido que era grosseiro com a mulher ficava fino. Ver o filho nasceu também fazia eles terem mais amor”, explica.

Tanta dedicação às gestantes, a levou a fazer cursos de parteira na Escola de Enfermagem da Ufba e na Ucsal. “Fiz duas faculdades sem vestibular”, brinca. E, logo depois, acrescenta: “Antigamente as parteiras eram chamadas de curiosas. Quando eu já atendia as mulheres aqui em Salvador, fui levada com outras parteiras para fazer cursos. Também ganhamos um kit com auscultador, itens para o curativo do umbigo da criança, kit para vacinar os recém-nascidos em casa e acesso para levar as mulheres que precisavam para a maternidade ou chamar um médico se alguma coisa complicasse”, explica.

Nos anos 1940, uma ex-patroa quis levá-la para São Paulo. “Mas era o tempo da guerra [a II Guerra Mundial] e o navio foi bombardeado e afundou, Então, fiquei aqui mesmo”. Durante o conflito, ocorreram torpedeamentos de navios na costa brasileira por submarinos alemães. Testemunha de momentos importantes da história de Salvador, ela acompanhou a abertura da Avenida Sete de Setembro. “Vii toda a confusão quando Seabra [j.j. Seabra] derrubou parte do convento das Mercês para passar a rua, foi um barulho na cidade”,

Sem poder viajar por causa da guerra, Brazília ficou em Salvador e se casou aos 21 anos. O noivo tinha 23 anos e os dois se conheceram durante uma trezena de Santo Antônio na casa de um vizinho. Aos 26, porém, ficou viúva porque o marido morreu precocemente de um ataque cardíaco. Foi para sustentar os filhos, ao todo ela teve quatro, que exerceu tantas profissões. “Também lavei roupa de ganho”.

Fã de Getúlio Vargas, deu o nome do ex-presidente brasileiro a um dos filhos. Até hoje, ela guarda um recorte de jornal de 1977, sobre os 94 anos de nascimento de Vargas. Nos jornais, também gosta de ler o horóscopo, principalmente a previsão para seu signo, gêmeos. Antes de dormir, escuta a resenha esportiva e torce para o Bahia. “Eu cozinhei na casa dos fundadores do Bahia”, revela.

Além de ouvir rádio, ela gosta de costurar e faz colchas de retalho para conhecidos e de encomenda. “Emendar os retalhos é bom para a cabeça”, ensina. Ainda hoje, mantém no seu jardim um vistoso pé de tira-teima, planta que ela usa para benzer quem procura por seus serviços para tirar o mau-olhado ou afastar energia ruins.

Leitora de Jorge Amado

Margarida Amorim Silveira completou 101 anos em 10 de junho. Ela nasceu em Palmeira dos Índios (AL) e antes de se mudar para Salvador, nos anos 1950, morou em Maceió. A mudança para a Bahia foi motivada pela profissão do marido, que era juiz. Antes de se casar, os dois namoraram por três anos e noivaram por mais três. “Naquele tempo era assim, tudo rígido, as moças eram muito vigiadas”, conta.

Sobre os namoros do seu tempo, ela diz que o futuro marido, já seu noivo, sequer podia pegar na mão dela, quando iam ao cinema. “Nos bailes, a gente dançava com o corpo mais afastado, eu até queria que ele me abraçasse mais um pouco, mas naquele tempo não era assim”.

O casal teve quatro filhos, dois homens e duas mulheres. O mais velho nasceu ainda em Maceió, dois aqui em Salvador e um em Carinhanha, nas margens do São Francisco, onde a família viveu por conta da profissão do juiz Silveira.

Nascida e criada em fazenda até mocinha, aprendeu a cozinhar aos 7 anos, mesma idade com que já conseguia matar e depenar frangos para preparar o ensopado dos pais, que voltaram da labuta na roça para o almoço. Também cuidava dos irmãos menores, enquanto a mãe e as irmãs mais velhas trabalhavam no campo.

Perguntada sobre seu segredo para chegar aos 101 tão forte e bem disposta, responde: “Eu fui criada à base de leite de cabra, comendo buchada de carneiro e cozido. Gosto da comida sertaneja”.

A pressão arterial é de criança e para manter o corpo ativo, faz fisioterapia, diariamente, em casa. Muito bem humorada, Margarida é uma leitora voraz e, atualmente, está relendo Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. “Antigamente os pais não gostavam que as moças lessem as obras de Jorge Amado porque consideravam o autor desbocado”, conta.

Entre os livros qjue ela já leu há também autores contemporâneos e que fazem sucesso nas redes sociais, como Julia Quinn e Nicolas Sparks. “Faço palavras cruzadas, vejo um pouco de TV, gosto de bordado e crochê”, enumera. Mas, o que ela não gosta é de ir a shoppings sem necessidade. “Só vou quando preciso”.

Moradora de Amaralina, onde vive desde 1950, ela recorda que o bairro era totalmente diferente de como é hoje em dia. Apesar da proximidade, nunca foi uma fã de praia. “Eu gostava de dirigir, mas como nunca aprendi a fazer meia-embreagem, me considerava uma meio-motorista. Dirigia por todos os lugares planos, mas subir ladeira era um problema”, confidencia, divertida.

Receita pronta para viver muito não existe. Ao menos, não uma receita única. Isso porque, explica o geriatra Rafael Calazans, a longevidade é algo individual e, muitas vezes, decorrente de herança genética. “O que podemos fazer é aumentar as chances de chegarmos a uma idade avançada com qualidade de vida. Porque nem gêmeos idênticos têm a mesma expectativa de vida ou envelhecem da mesma forma”, explica o médico, que coordena o setor de geriatria do Hospital Mater Dei Salvador.

“O envelhecimento saudável é uma questão multifatorial, porque a lei natural da vida é o envelhecimento. O que queremos é que esse envelhecimento permita que possamos retardar a falta de autonomia e a perda de cognição, um envelhecimento com saudabilidade”, acrescenta a farmacêutica Rosana Amorim, da Singular Pharma.

Segundo Rafael Calazans, se os fatores que permitem aumentar as chances de uma vida longa e saudável pudessem ser enumerados, seriam ao menos cinco passos básicos: “O primeiro ponto é a atividade física, seja de resistência com peso ou aeróbica. Em segundo lugar está a alimentação, uma dieta saudável, Um bom exemplo é a dieta mediterrânea, que é focada em legumes, frutas, cereais e peixe”, enumera.

O terceiro ponto, acrescenta o geriatra, seria cuidar da saúde mental, estar perto dos familiares e amigos, ter uma relação menos estressante com o trabalho e ter opções de lazer. “Um quarto ponto é manter o estímulo cognitivo, que pode ser estudar idiomas, se interessar por música, fazer atividades de raciocínio lógico, como palavras cruzadas ou Sudoku. Quanto mais diversificado for o estímulo, melhor”.

O quinto pilar da longevidade é manter o acompanhamento médico regular para prevenir problemas. “Nessa idade, a pessoa pode ter um acompanhamento a cada 4 meses. Por se tratar de uma idade muito avançada [no caso de pessoas centenárias], a gente não pede todos os exames de uma vez para não cansar o paciente”, diz o médico, que ressalta ainda a importância de manter em dia a vacinação contra a gripe e a pneumonia; além de manter o humor, evitar a solidão e isolamento. “O nosso corpo é um só e tudo influencia na saúde, então a gente precisa combinar esses fatores”.

Geração forte

Segundo Rosana Amorim, as pessoas que estão chegando aos 100, 105 anos, vêm de uma geração que teve uma alimentação mais equilibrada e fazia mais atividade física. “Não necessariamente em academia, mas porque exerciam trabalhos que faziam com que elas se deslocassem mais a pé, não existia uma dependência tão grande do carro ou da tecnologia, como atualmente”.

Para chegar nessa idade bem de saúde, ela também defende a alimentação equilibrada, com restrição a ingestão de açúcares para evitar a síndrome metabólica, o sobrepeso, diabetes, doenças cardiovasculares e a perda de cognição

“Essa geração que está chegando aos 100, com certeza, além de uma alimentação mais equilibrada e de uma vida mais ativa, manteve ao longo da vida o hábito da hidratação. É muito importante ingerir água em todas as fases da vidam mas para o idoso, principalmente, é muito importante ingerir água para manter o bom funcionamento do intestino e hidratar o organismo para que todas as funções fisiológicas funcionem bem”, acrescenta.

Para os idosos que necessitarem, ela também recomenda suplementação. Mas, antes de começar a ingerir vitaminas, é preciso acompanhamento médico e nutricional. Dentre os ativos recomendados para idosos, a farmacêutica cita a vitamina D, para a absorção de cálcio e função imunológica; o ômega-3, que possui propriedades anti-inflamatórias e é bom para a saúde cardiovascular e cerebral; magnésio, que ajuda a dar energia; coenzima Q10, que é antioxidante e os probióticos, para a saúde digestiva e intestinal.

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