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14/07/2024 às 8:00 - há XX semanas | Autor: Pedro Hijo

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Costureiras criam estratégias para lidar com mudanças no mercado na BA

Profissionais também passaram a ter maior atenção com o uso das tecnologias

Íris Dalva (roupa preta) e sua filha Isis Raabe(roupa vermelha)
Íris Dalva (roupa preta) e sua filha Isis Raabe(roupa vermelha) -

A costureira baiana Íris Dalva trabalha com ajustes e confecção de roupas há 30 anos. Ela herdou o ofício da mãe e criou a filha com essa renda. Nos últimos anos, no entanto, sentiu o impacto da venda de peças baratas em sites estrangeiros, como Shein, de Cingapura, e Shoppee, da China. “Não vale mais a pena trabalhar com reparos, ocupa um tempo longo e tem que cobrar barato porque o cliente pagou pouco naquela peça”, conta Íris.

Segundo mapeamento da empresa global de informação Nielsen feito em 2022, o percentual de brasileiros que compram nesses sites saltou de 58% para 72% em três anos.

Para conviver com o novo concorrente, a costureira deixou o ajuste de roupas e optou por seguir apenas com a confecção. “Essas lojas baratas são o ‘fast food’ das roupas, você vai lá, compra e joga fora depois, mas sempre existe o cliente que quer a exclusividade”, diz a profissional, que possui um ateliê no bairro do Stiep, em Salvador.

Agora, uma nova lei pode mudar o cenário para costureiras como Íris. A chamada “taxação das blusinhas”, projeto sancionado pelo presidente Lula no mês passado, passa a cobrar imposto sobre compras abaixo de U$S 50 (cerca de R$ 270 pela cotação atual), antes isentas.

Outra costureira baiana, Aimée Ialê Fernandes sentiu o impacto oposto das compras em sites estrangeiros no Ateliê da Costura, empresa que coordena no bairro de Brotas, na capital baiana. “Quanto mais as pessoas compram roupas online, maior é a nossa demanda, e para a roupa ficar perfeita no corpo, muitas vezes, só com muitos ajustes”, afirma a profissional, que herdou o ofício da mãe, assim como Íris.

Aimée trabalha com costura há seis anos, mas, com o aumento da demanda, ela planeja uma mudança na empresa. Quer delegar todo o trabalho da costura e assumir exclusivamente a gestão do ateliê. “Hoje, eu faço tudo sozinha: a contabilidade, o treinamento de funcionárias, as entregas, a gente tenta se adequar para ter mais tempo livre, mas ainda é difícil”, diz.

Além disso, a empresária tem investido na comunicação virtual do trabalho. “Para mim, o boca a boca ainda é fundamental, mas estar no Instagram é importante”, comenta. Íris concorda: “Quando alguém te sugere para outra pessoa, o cliente quer ver o seu Instagram, então, é algo que só confirma o que foi falado no boca a boca”, diz.

Ambas as costureiras relatam que não sentiram o impacto da chegada de grandes franquias de costura em Salvador. Para Íris, a demanda dos clientes segue alta. “Essas lojas costumam cobrar caro por uma bainha e, muitas vezes, o serviço não é lá essas coisas”, opina. “O que a gente precisa para se estabelecer é não se preocupar com concorrência e, sim, em entregar qualidade”.

Para Aimée, foi importante mudar a tabela de valores como forma de educar os clientes. “No começo, meus preços eram bem em conta, mas se você não valoriza o seu trabalho, o cliente não vai valorizar”, pontua. A empresária diz que ainda há na clientela uma noção ultrapassada de que a costureira deve cobrar pouco pelo serviço. “Comigo, fazer a barra da calça custa R$ 15, e tem gente que acha um absurdo que a gente cobre isso”.

Profissionalização

Tanto Aimée como Íris aprenderam o ofício em família, mas reclamam da profissionalização do mercado em Salvador. A proprietária do Ateliê da Costura deseja contratar uma segunda funcionária, mas afirma que tem tido dificuldade por causa da qualificação das candidatas.

Para o analista técnico do Sebrae, Wagner Gomes, a alta concorrência do setor é um desafio para quem tenta se destacar no ramo da costura em Salvador. Segundo ele, a principal concorrência são as grandes fábricas têxteis. “Manter-se competitiva diante de grandes polos é uma tarefa árdua, uma vez que equipamentos e linhas de produção conseguem concorrer frente a frente com a personalização de roupas”, diz.

O analista destaca que grandes negócios conseguem produzir com mais volume e velocidade do que costureiras que atuam individualmente. “Para uma pequena empresa de costura, se um equipamento quebrar, provavelmente vai parar para conserto ou manutenção. Numa grande fábrica, substitui-se, e a produção continua”, alerta.

Para Aimée, o segredo da fidelização está na qualidade do atendimento customizado: “Quem vem e gosta do serviço, sempre retorna”. A empresária afirma que a demanda segue alta para as costureiras da cidade. “Sabendo administrar, prestando um bom serviço, não falta emprego. Tenho trabalho o ano todo”, avalia Aimée, que cita o Carnaval, o São João, o Natal e o Réveillon como os períodos de maior movimento na empresa.

Personalização

O ponto forte de um pequeno negócio, diz Wagner, é a compreensão do público alvo e o contato personalizado. “Apesar de sermos plurais, gostamos de exclusividade”, afirma o analista. Ele sugere alguns nichos de clientela com potencial de crescimento no setor de costura customizada, como moda fitness para evangélicos e peças que remetam às religiões de matrizes africanas. Também afirma que a moda agênero tem ganhado destaque, com a crescente visibilidade da comunidade LGBTQIAPN+.

No ateliê de Íris, a personalização sugerida pelo analista do Sebrae foi justamente o que chamou a atenção de celebridades como o ator Lázaro Ramos e os cantores Arnaldo Antunes e Daniela Mercury. “No ateliê, a gente consegue produzir para quem é gordo, para quem é magro... Já as lojas têm tudo muito igual”, opina a costureira.

Ativista do movimento contra a gordofobia, a dançarina e cantora Thais Carla, é uma das clientes mais fiéis do Íris Atelier, segundo a dona. “A mala de viagem é toda assinada pelo meu ateliê”, orgulha-se a costureira. A confecção de peças é uma estratégia que Íris tem apostado para se destacar no mercado.

No processo de criação das peças, a costureira sugere ideias e adaptações às propostas de clientes como noivas, madrinhas e formandas. “A pessoa chega com o conceito e eu entro com a minha experiência”, explica a costureira. Na mesma linha, Aimée também tem confiança no serviço que oferece frente às grandes empresas: “A costura é um serviço artesanal”.

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