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Orgulho da origem: alimentos e bebidas baianas conquistam prêmios

Alimentos e cervejas artesanais produzidas na Bahia conquistam sucesso regional e internacional

Publicado domingo, 24 de setembro de 2023 às 04:00 h | Autor: Renato Alban
Gustavo Martins, sócio da MinduBier: regionalidade 
sem caricatura
Gustavo Martins, sócio da MinduBier: regionalidade sem caricatura -

“Tem alguma coisa acontecendo no Brasil”. Foi assim que o apresentador da última edição da premiação International Chocolate Awards, realizada no último dia 9 em Nova York, Estados Unidos, demonstrou surpresa com a quantidade de marcas brasileiras medalhistas. Foram 42 premiadas, mais que o dobro do ano passado. Apenas a Bahia ganhou sete medalhas.   

A produtora baiana Leilane Benevides almeja mais. “Quero que eles falem que tem alguma coisa acontecendo no sul da Bahia”, diz ela, dona da marca Benevides Chocolates, que levou três medalhas.  

E não é apenas nesse segmento que o estado tem se destacado. Queijos, iogurtes e cervejas baianas também têm vencido prêmios regionais e internacionais.   

Na cidade de Tours, na França, a Bahia ganhou três medalhas no Mundial de Queijos da cidade, há duas semanas. Em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, duas cervejas baianas venceram a etapa nordestina da 3ª Copa Cerveja Brasil, no mês passado, e, agora, partem para a disputa nacional.     

Sócio da fazenda de laticínios Morrinhos Artesanais, que teve dois iogurtes premiados no Mundial de Queijos, Caio Freitas afirma que o reconhecimento traz “esperança e motivação” para os produtores de Tanquinho, cidade da Região Metropolitana de Feira de Santana onde a empresa está instalada. “A gente espera inspirar outras pessoas a gerar renda, pequenos produtores”.   

Com mais uma medalha – são 13 no total, em diferentes competições – a cervejaria MinduBier já ganha planos de expansão. É o que conta o sócio da empresa soteropolitana Gustavo Martins: “A gente sempre pensa em ampliar, porque, querendo ou não, faz parte do negócio, mas não desejamos alcançar cervejarias mainstream [com produção em larga escala]”.   

Em Itabuna, no sul da Bahia, Leilane Benevides conta que as medalhas provocaram um aumento na procura da empresa por revendedores. “Nos últimos 15 dias estamos virando noite para dar conta de todas as novas lojas que têm feito contato com a gente no Brasil todo”. Segundo ela, a premiação “é uma forma de propagar a empresa aos quatro cantos”.   

Crescimento 

Assim como Gustavo, da MinduBier, a empresária planeja o crescimento da Benevides, mas de uma forma sustentável e sem a intenção de competir com grandes marcas.  

“Crescer e atender em larga escala significa começar a usar conservantes porque, para mandar o produto para mais longe, precisaríamos colocar ingredientes não tão naturais”, explica Leilane.   

Depois de ganhar notoriedade na etapa das Américas, a Benevides se prepara para a competição mundial. A expectativa de Leilane é que as medalhas continuem destacando a marca entre apreciadores de chocolate. “Para a gente, é ainda mais importante do que estar na TV ou no rádio, porque nesses prêmios quem entende de chocolate está atento”.   

Leilane também é bancária e começou no ramo alimentício há cinco anos. A ideia surgiu ao atender agricultores de cacau endividados. Para auxiliar os clientes, ela estudou sobre a cadeia do chocolate e começou a produzir o alimento.  

As lojas se interessaram em revender o produto e assim nasceu a marca, uma das mais de 100 fabricantes de chocolate no sul da Bahia.  

Outra produtora da região e medalhista do International Chocolate Awards, Julianna Torres fundou a Ju Arléo Chocolates há quatro anos, em Ilhéus. A empresa foi idealizada pela filha, que dá nome à marca. Na época, Ju tinha apenas sete anos de idade e questionou Julianna se eles poderiam fazer chocolate com o cacau plantado na fazenda do pai.   

O produtor Lucas Arléo é a quarta geração da família à frente de uma fazenda de cacau. “Ju pediu de presente uma máquina de fazer chocolate artesanal e a produção começou a despertar o interesse das pessoas”, lembra Julianna. Um ano depois, veio a confirmação da qualidade. O produto ficou em terceiro lugar num prêmio nacional na categoria de barras artesanais com 70% de cacau.   

Depois do reconhecimento, a família decidiu investir em novos sabores. Lançou uma barra de chocolate com mel de uruçu produzido na fazenda e levou uma medalha numa premiação internacional no ano passado. A última criação foi o chocolate ao leite com cupuaçu, o favorito de Ju. A garota pediu para o produto concorrer em premiações e foi esse que levou a medalha no início deste mês.  

O concurso também valorizou um sabor regional escolhido pela Benevides: o chocolate com canjica baiana. “A ideia original sempre foi valorizar o cacau da região, mas também queremos valorizar outros ingredientes regionais subaproveitados”, diz Leilane, da Benevides, que também tem barras com cupuaçu e outras com rapadura, “as mais vendidas desde março”.   

Com revendedores em cinco estados e em Brasília, a Ju Arléo Chocolates tem aumentado a capacidade de produção depois de ganhar as medalhas em competições. “Isso faz com que os olhos do mercado e os curiosos do chocolate conheçam mais uma marca e o mercado como um todo do sul da Bahia”, diz Julianna.  

Caio Freitas, da Morrinhos Artesanais, também quer que as medalhas vencidas pelos iogurtes chamem a atenção para a produção local. Na quarta geração à frente de uma fazenda leiteira, Caio enfrentou um desafio na pandemia. As empresas de laticínios deixaram de comprar o leite da fazenda. A solução foi a própria família fabricar queijos e iogurtes.  

“É um trabalho familiar, somos eu, minha mãe, cunhada, meu irmão, minha esposa, e mais três colaboradores”, explica Caio, que vende os produtos em Tanquinho, Salvador e Feira de Santana. Com os iogurtes premiados no Mundial de Queijos de Tours, a Morrinhos Artesanais conta com as medalhas para ganhar notoriedade. “Não temos recursos para propaganda”.   

Caio também tem inscrito, e vencido, outras premiações, como competições em São Paulo e Vitória da Conquista, no sudoeste baiano.  Para ele, o forte da marca nos concursos tem sido o uso de frutas do semiárido. No Mundial de Queijos de Tours, ele escolheu levar iogurtes feitos com umbu e licuri, frutos da Caatinga.   

Regional 

A cervejaria MinduBier também tem apostado em sabores regionais para se destacar, com ingredientes como mel, jenipapo e pimenta. “Todas as nossas cervejas têm um pouco de Bahia, mas não é o baiano clichê, a gente consegue mostrar uma regionalidade sem precisar fazer uma caricatura”, diz Gustavo, sócio da empresa.   

Ele começou a produção artesanal em 2013, em casa, como hobby. Em 2016, venceu uma competição em São Paulo e firmou contrato com uma fábrica do estado. Com o crescimento, a MinduBier  se tornou a primeira cervejaria baiana a exportar a bebida, com venda para a Holanda.    

Há dois anos, a empresa soteropolitana abriu a própria fábrica, em Lauro de Freitas. E foi no município que um rótulo da cervejaria, a Biomas, foi escolhido como um dos três representantes nordestinos na 3ª Copa Cerveja Brasil. “Isso impacta financeiramente, os prêmios dão um atestado de credibilidade”.   

Outro rótulo nordestino que vai competir na etapa nacional é da produtora baiana 3Barcaças Craft Beer, que tem fábrica em Ilhéus desde 2018. Na terra do chocolate, as cervejas da empresa ganharam toques de nibs e mel de cacau. Sócio da cervejaria, Calleb Oliveira começou a produção de forma caseira, entre amigos, assim como Gustavo.   

O rótulo vencedor foi lançado em julho, no Chocolat Festival, em Ilhéus. “No evento, vendemos todo o nosso lote. Quando saiu a medalha, a gente não tinha mais a cerveja”, conta Calleb. Batizado de Hop Brasilis, o rótulo tem como diferencial o uso de lúpulo nacional. “Sempre disseram que o Brasil não podia produzir lúpulo por causa do clima, mas o resultado tem sido excelente”.   

Valorização 

O objetivo de Calleb é que a região do sul da Bahia se torne conhecida pela produção de cervejas, mas ele reconhece que a fabricação artesanal no estado ainda é incipiente: “Está engatinhando”. Gustavo, da MinduBier, avalia que houve avanços, “mas falta mais apoio para que a gente veja o mercado evoluído”. O empresário quer quintuplicar a produção da cervejaria em cinco anos.  

Leilane, da Benevides, afirma que, no ramo dos chocolates, as marcas artesanais têm ganhado espaço e que não teme o domínio do mercado pelas grandes empresas. “Elas que têm que se preocupar com a gente, porque o público está migrando para o ‘bean to bar’ [grão para barra]”.  

O modelo de fabricação de chocolates “bean to bar” tem o acompanhamento da produção desde o plantio do cacau. Aliado a esse modelo, a Ju Arléo Chocolates preza ainda pelo sistema “cabruca”, que preserva a Mata Atlântica. “Queremos desenvolver novos sabores, produzindo cacau num sistema agroflorestal”, diz Julianna.   

Caio, da Morrinhos Artesanais, também tem planos para além do desenvolvimento de sabores regionais. Ele planeja promover visitas de turistas para conhecer a produção, desde a ordenha das vacas até a fabricação dos queijos e iogurtes. É um objetivo de valorização da produção em pequena escala. “A gente precisa de apoio para beneficiar nossos produtos”. 

SERVIÇO: Produtos baianos premiados* 

International Chocolate Awards (etapa Américas): 

- Chocolate 43% cacau ao leite, chocolate 55% cacau com cupuaçu e chocolate branco com canjica baiana (Benevides Chocolates): benevideschocolates.com.br - Chocolate 36% cacau ao leite com cupuaçu (Ju Arléo Chocolates): juarleochocolates.com.br  

- Chocolate 52% cacau ao leite e chocolate branco com doce de leite com coco (Luzz Cacau): luzzcacau.com.br 

- Chocolate 56% cacau ao leite (Martinus Chocolates): instagram.com/martinuschocolates   

Mundial do Queijo de Tours (França): 

- Iogurtes de umbu e licuri (Morrinhos Artesanais): instagram.com/ 

morrinho.artesanais  

- Queijo “Coração de Massapê” (Fazenda Licurizal): instagram.com/queijariaefazendalicurizal  

3ª Copa Cerveja Brasil (etapa Nordeste): 

- Cerveja “Biomas” (MinduBier): mindubier.com   

 - Cerveja “Hop Brasilis” (3Barcaças Craft Beer): 3barcacas.com  

*Nos sites e perfis no Instagram, algumas marcas indicam pontos de venda 

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