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“Todo transtorno alimentar começa com uma dieta”, alerta psicóloga

Confira a entrevista com a psicóloga Milena Bahia

Por Pedro Hijo

02/02/2025 - 10:00 h
Imagem ilustrativa da imagem “Todo transtorno alimentar começa com uma dieta”, alerta psicóloga
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O verão traz não só uma temperatura mais alta, mas também diversos estímulos para estar em forma. O chamado "Projeto verão" começa alguns meses antes da chegada da estação e é acompanhado de um aumento das visitas à academia e uma alimentação regrada digna de um soldado em guerra. O objetivo final: a barriga chapada. Seguir o desafio à risca pode afetar de forma negativa a saúde mental, provocando transtornos como ansiedade, compulsão alimentar, distúrbios na percepção corporal e até intensificar preconceitos como a gordofobia, de acordo com a psicóloga baiana Milena Bahia. Ela é especialista em transtornos alimentares e lida diariamente com pacientes que tentam reproduzir em casa com muita dificuldade a rotina fitness que celebridades ostentam nas redes sociais. "Cada pessoa deve começar um plano alimentar que faça sentido diante de sua realidade", diz Milena. "Se ela não se sente bem comendo ovos, como vai consumir 40 por dia?". Com a popularização de medicamentos que causam o emagrecimento, a valorização da perda de peso aumentou, segundo a especialista. "Existem pessoas que não têm a indicação médica e que estão fazendo uso e isso é um problema gigantesco", pontua. Nesta entrevista, Milena lista estratégias para emagrecer sem comprometer o bem-estar psicológico, fala sobre como aceitar o próprio corpo sem desconsiderar a saúde, e também sobre a importância de manter uma vida equilibrada. "A minha principal orientação para uma pessoa que quer perder peso, é que ela respeite a saúde mental", alerta.

Como as cobranças para ter um corpo dentro dos padrões estéticos exigidos pela sociedade podem desencadear comportamentos prejudiciais?

Durante o verão, é muito comum que exista uma atenção maior à imagem corporal. É uma época em que a forma como a gente quer ser visto está em jogo. E a saúde mental está diretamente ligada ao quanto nos sentimos reconhecidos e eficazes fazendo alguma coisa importante para nós mesmos. É comum, por exemplo, que exista uma preocupação com a alimentação e com o equilíbrio entre saúde e prazer. Nesta época do ano, a compulsão alimentar é um transtorno que eu percebo aparecer com frequência, que é quando há uma ingestão grande de comida num período curto de tempo. A compulsão é um transtorno motivado pela restrição e que pode oscilar entre a bulimia e a anorexia nervosa. Durante o verão, há também um estímulo maior ao consumo de produtos relacionados ao emagrecimento para gerar uma suposta sensação de bem-estar que, não necessariamente, estão ligados ao bem-estar, de fato.

Com a aproximação dos primeiros meses do ano, surge também o chamado 'Projeto verão', que é quando algumas pessoas intensificam os exercícios físicos para atender a um determinado padrão de corpo. Como isso pode impactar a saúde mental?

No verão, o corpo está muito mais à mostra, já que usamos menos roupas. Esse é um fator que pode ser estressante e gerar ansiedade em muitas pessoas. O conceito de “corpo de verão” traz um impacto grande ao mental. Afinal, se eu não atendo ao perfil musculoso e definido, então, eu preciso me esconder em casa, não ir à praia e fazer uma dieta mais restritiva. Os gatilhos são individuais, claro. Pessoas vivenciam diferentes situações e podem ter pensamentos completamente diversos. Mas, essa exposição é, sem dúvidas, um elemento que contribui para o surgimento desta frustração. Percebo um comportamento disfuncional com a atividade física e uma compensação grande nesta época.

Como emagrecer e, ao mesmo tempo, preservar a saúde mental?

A minha principal orientação para uma pessoa que quer perder peso, é que ela respeite a saúde mental. Não é um crime desejar emagrecer, mas, nem tudo vale a pena para que esse objetivo seja alcançado. É preciso que existam algumas condições para esta mudança. Por exemplo, se a pessoa deseja emagrecer, é importante entender qual é a realidade que ela está inserida para adaptar o plano dentro do que é possível. O acompanhamento profissional é fundamental neste momento. Não é toda dieta que causa um transtorno alimentar, mas, todo transtorno alimentar começa com uma dieta. Cada pessoa deve começar um plano alimentar que faça sentido diante de sua realidade. Se ela não se sente bem comendo ovos, como vai consumir 40 por dia? A perda de peso deve acontecer com o mínimo de dor possível para que ela seja sustentável. Esse mínimo significa uma quantidade de comida que satisfaça e que não faça o sujeito passar fome. Se uma das refeições que você faz no dia é motivo de sofrimento, já é sofrimento demais. As questões com o corpo e com a alimentação são muito sérias porque essas são as formas como nos expressamos para o mundo.

É possível viver de forma alheia aos estímulos da mídia e das redes sociais ou a pressão estética é intrínseca à sociedade moderna?

Não é possível estar alheio. Nem sendo profissional ou paciente. O que é preciso é fazer um movimento de nadar contra a maré. O que eu quero dizer com isso é que é importante seguir o movimento contrário ao que as mídias impõem. Vai ser difícil, um pouco desafiador no começo, mas, ao longo do processo, a pessoa vai aprendendo e criando estratégias para tornar mais funcional essa liberdade da pressão estética.

Quais seriam as estratégias para se reconectar com o corpo?

Em terapia, o ideal é entender o que funciona para cada paciente. Mas, um método que eu gosto muito de usar é o termômetro da fome. É importante que o paciente reconheça em qual estágio da fome ele está. Entre “não ter fome” até “estar desconfortavelmente satisfeito”, normalmente, em qual ponto você fica quando finaliza uma refeição? Assim, aos poucos, podemos fazer aperfeiçoamentos graduais, inclusive na quantidade de comida ingerida. Lembro que essa é uma estratégia usada de forma muito singular. Outro método que eu gosto muito de utilizar é o de estimular o paciente a sair um pouco do óbvio da alimentação. Um exemplo é expor o sujeito a comidas gordurosas quando ele é um paciente que costuma tirar alimentos com alto teor de gordura com medo de aumentar o peso. Tudo isso é feito, claro, com acompanhamento para que essa exposição não gere uma crise.

Você acha que o sucesso de vendas de medicamentos para emagrecer pode reforçar a pressão da busca pela magreza? Como isso se conecta com o retorno de padrões estéticos na moda que valorizam corpos mais magros?

O Ozempic é um medicamento originalmente desenvolvido para o tratamento do Diabetes tipo 2, mas que tem ganhado destaque nos últimos tempos por ser utilizado como um auxílio para perda de peso. A gente está falando sobre a utilização de uma medicação para outros fins e isso é muito problemático. Existem pessoas que não têm a indicação médica e que estão fazendo uso e isso é um problema gigantesco, porque o remédio faz a pessoa sentir menos fome, mas não muda o comportamento. Ou seja, não se pensa no longo prazo ou no médio prazo, sequer. A medicação tem eficácia para casos pontuais, mas, é preciso reforçar: o remédio é muito bom ou muito ruim dependendo do caso e dependendo da quantidade.

Como incentivar o movimento de aceitação do corpo sem desconsiderar a importância de um estilo de vida saudável?

O objetivo final do tratamento da obesidade não é um paciente magro. É sim, tratar para que ele perca uma quantidade de peso suficiente para ter uma vida mais funcional e com menos sintomas da obesidade. Se a doença está trazendo repercussões negativas para a mobilidade e para a qualidade de vida do indivíduo, são esses pontos que devem ser atacados em um tratamento. Nem todo corpo gordo é um corpo doente. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde [OMS], quando um indivíduo com obesidade perde 10% do peso corpóreo, a qualidade de vida dele tem um salto considerável. Por isso, não é necessário focar em uma perda de peso agressiva para que essa pessoa possa viver melhor. É preciso, sim, melhorar os resultados dos exames, o que não tem necessariamente a ver com ser magro. Desejar emagrecer não significa ser a favor da gordofobia ou contra o movimento Corpo Livre [impulsionado por ativistas, o movimento ganhou força no Brasil em 2010 e defende a diversidade corporal e a luta contra o culto à magreza]. A pessoa pode ter o corpo que ela quer ter, mas é preciso entender a importância de praticar atividade física e se alimentar equilibradamente. E isso envolve também comer o docinho, não abrir mão da saída com os amigos. Se isso está funcionando, se esse cenário está estável, não há nenhuma alteração de saúde, então, é só seguir.

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Tags:

Corpo saudável dieta Emagrecimento Emagrecimento Saudável Projeto verão saúde mental Transtornos alimentares

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