DEGRADAÇÃO
Amazônia está perto de se tornar um cerrado, alerta climatologista
De acordo com especialista brasileiro, a Amazônia pode deixar de ser uma floresta tropical
Por Da Redação
O climatologista Carlos Nobre afirmou que a Amazônia está muito próxima de alcançar o ponto em que deixa, definitivamente, de ser uma floresta tropical para se tornar uma savana tropical, como é o Cerrado. A declaração foi dada pelo brasileiro, especialista em mudanças climáticas, à Agência Lusa.
O brasileiro participa de cinco estudos sobre a Amazônia que foram apresentados na 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28), realizada em Dubai na última semana, e explicou que o período de seca na floresta amazônica tem aumentado nas últimas décadas.
"Nós estamos muito próximos desse ponto de não retorno porque, em todo o sul da Amazônia, a estação seca está muito mais longa. A estação seca era de três a quatro meses. Hoje, a estação seca está de quatro a cinco meses. Se chegar de cinco a seis meses, em duas décadas, se continuarmos nessa direção, esse já é um clima da savana tropical, do cerrado, e não mais um clima da Amazônia", analisou Nobre.
O especialista mencionou como exemplo da perda de vitalidade da Amazônia, considerada fundamental para deter o aquecimento global, o fato de que, no sul do Pará e no norte do Mato Grosso, a floresta amazônica já se tornou uma fonte de carbono, emitindo mais carbono na atmosfera do que absorve.
"Por que a estação seca está ficando mais longa? É uma combinação complexa, sinergética, entre o aquecimento global que está fazendo os fenômenos extremos se tornarem mais extremos", afirmou Nobre.
"Por que os el Niños fortes estão se tornando mais frequentes? Aquecimento global, oceanos mais quentes. O Oceano Pacífico Equatorial, mais quente. O Oceano Atlântico ao norte do Equador está batendo recordes de temperatura e isso induz secas na Amazônia”, complementou.
Além das alterações climáticas, o cientista brasileiro, eleito no ano passado membro estrangeiro da Royal Society — instituição britânica que promove o conhecimento científico no mundo —, citou a desflorestação aliada à criação de gado no norte do Brasil, que aumentou muito nas últimas décadas.
"O lugar com pastagem é muito pouco eficiente para reciclar água. A pastagem não recicla água como a floresta recicla durante a estação seca. A floresta recicla a água de uma forma muito eficiente. É isso que está acontecendo. Essas são as razões. Secas frequentes como em 2005, em 2010, entre 2015 e 2016 e agora em 2023, que vai até 2024", avaliou o cientista.
"Antes, nós tínhamos uma seca mais pronunciada na Amazônia a cada duas décadas. Agora, nós estamos tendo quatro secas em duas décadas. Ou seja: três a quatro vezes mais frequentes e isso, junto com a desflorestação, está colocando a Amazônia num enorme risco [de chegar] ao ponto de não retorno", concluiu o brasileiro.
A avaliação de Nobre vai ao encontro a dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o grupo de cientistas estabelecido pelas Nações Unidas para monitorizar e assessorar toda a ciência global relacionada com as alterações climáticas, do qual foi integrante, que apontam que a savanização da Amazônia já é um fenômeno em curso.
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