ENTREVISTA – ANGELO ALMEIDA
‘Feira se tornou um ímã para pessoas e novos investimentos’
Secretário de Desenvolvimento Econômico afirma que município reúne infraestrutura, mão de obra e posição estratégica para atrair investimentos
Por Divo Araújo

Feira de Santana vem ganhando destaque nacional e até internacional, consolidando-se como um polo econômico estratégico da Bahia. Em entrevista ao A TARDE, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Angelo Almeida, afirma que o diferencial da cidade está na eficiência de suas indústrias, na qualidade do sistema educacional e na qualificação da mão de obra local — fatores que têm sustentado a chegada de novos investimentos.
O secretário destaca ainda os esforços do governo estadual para fortalecer a infraestrutura do município. Entre as iniciativas, cita a requalificação do Centro Industrial do Subaé e a construção do novo Centro de Convenções, que, em sua avaliação, pode colocar Feira em um novo patamar no turismo de negócios. “Feira reúne todos esses atributos para impulsionar um movimento muito forte de atração de novos investimentos”. Saiba mais na entrevista a seguir.
O senhor vem destacando o papel estratégico de Feira de Santana para a economia baiana. Quais são os diferenciais que colocam o município nessa posição de destaque?
Feira de Santana é um município que integra cadeias e setores, sendo muito forte no comércio e nos serviços, que representam aproximadamente 60% da sua economia. A indústria responde por cerca de um quarto, entre 20% e 23%. O setor público também é muito relevante, com quase 16%, enquanto a agropecuária, que já foi mais expressiva, hoje representa em torno de 1%.
Feira tem uma dinâmica particular: é cercada por minifúndios em seu espaço territorial, mas conta com um robusto Centro Industrial do Subaé, com expectativa de crescimento. Diante desses atributos, e por sua localização estratégica, Feira de Santana sempre será uma cidade vibrante e pujante.
Há cerca de quatro décadas já se consolidava com a estruturação do seu parque industrial. Além disso, setores como educação — um importante fator de atração — e saúde, tanto pública quanto privada, ampliam ainda mais sua relevância. Serviços como advocacia e contabilidade também reforçam esse papel. Tudo isso faz de Feira um verdadeiro ímã, atraindo naturalmente pessoas que buscam serviços, novos investimentos e mercadorias. Por isso, é um grande centro econômico da Bahia e continuará desempenhando essa função.
Dentro dessa visão de crescimento econômico, que perfil de investimentos o governo pretende priorizar para Feira e região — voltados apenas para a expansão industrial tradicional ou também para setores estratégicos como tecnologia, energias renováveis e logística?
Feira de Santana vem se destacando pela qualidade e pela inovação das suas indústrias. Com suas próprias forças, elas têm dado respostas que repercutem em nível nacional e até internacional.
Quando uma empresa como a Abraccel, que é uma gigante mundial, resolve adquirir uma planta industrial em Feira — desenvolvida por jovens feirenses — e faz uma aquisição milionária para expandir e atuar no mercado internacional, isso mostra essa força.
O mesmo ocorre com a Placo, da Saint-Gobain, empresa de capital francês de alcance global, que decidiu investir para dobrar sua planta. Ela poderia ter feito esse investimento em outros locais, mas preferiu Feira, o que demonstra que o fundamental é a eficiência das operações das indústrias no município. Essa eficiência se dá por diversos fatores, mas, seguramente, um dos mais importantes é a qualidade da mão de obra, que se consolidou como um ativo da cidade ao longo de sua trajetória.
Feira se tornou um centro educacional e, por isso, além do potencial para atrair empresas de tecnologia e inovação, ela tem esse potencial de atrair pela capacidade de formar e oferecer mão de obra qualificada. Hoje, uma das grandes preocupações da indústria e comércio em todo o país é a dificuldade com a qualidade da mão de obra para atender os investimentos.
Acredito que Feira de Santana não passará por esse problema. Com quase 700 mil habitantes, a cidade possui um parque educacional robusto e qualificado, com a participação da iniciativa privada, um sistema S muito forte — como Senai e Senat —, além de um setor de comércio, serviços e transporte representativo. Tudo isso, somado às universidades e faculdades privadas, garante uma base sólida para continuar formando mão de obra de qualidade e sustentando novos investimentos.
Quais têm sido os principais investimentos do governo do Estado em Feira de Santana nos últimos anos e de que forma essas iniciativas têm buscado fortalecer a cidade como polo estratégico da economia baiana?
Sobre o investimento público, é importante frisar, até porque é bem recente, o sucesso que está sendo o novo Centro de Convenções de Feira de Santana. Nós tivemos agora a Feira de Santana Beauty, um evento ligado ao setor de beleza, que superou todas as expectativas de público: quatro mil pessoas por dia, durante três dias consecutivos. Um recorde absurdo em vendas, embora ainda não tenhamos os números finais porque o evento terminou justamente nesta terça-feira.
Mas o Centro de Convenções tem a capacidade de colocar Feira em outro patamar no turismo de negócios, fortalecendo uma nova cadeia de desenvolvimento econômico para o município, ampliando a rede hoteleira e os serviços.
Do ponto de vista do investimento voltado ao setor industrial, o governador Jerônimo Rodrigues já está com um projeto que, eu diria, é o mais importante e robusto dos últimos 40 anos: a requalificação do nosso distrito industrial, o Centro Industrial do Subaé, com R$ 60 milhões em investimentos previstos. Vinte milhões já foram concluídos na primeira fase e agora o governador deve autorizar, ainda neste segundo semestre, a licitação da segunda fase.
O objetivo é que, ao final do governo, tenhamos 100% da requalificação do distrito industrial concluída. Isso é importante porque estamos às vésperas da Reforma Tributária e do fim dos benefícios fiscais, o que exige posicionar a cidade de forma mais atrativa para o investidor. E o que o investidor busca? Ele precisa de uma boa infraestrutura para instalar sua empresa, segurança na saúde para os trabalhadores, garantia de mão de obra qualificada e um sistema de educação eficiente para os funcionários e também para os dirigentes. Feira reúne todos esses atributos para fazer um movimento muito forte de atração de novos investimentos.
O senhor já falou de várias características, mas Feira é cortada pelas rodovias do estado e ocupa uma posição estratégica. Qual é a estratégia do governo para transformar essa localização privilegiada em um motor de desenvolvimento regional?
Feira de Santana é uma cidade que se qualificou e se tornou uma grande metrópole, muito em função da sua posição estratégica geográfica, mas também pela força do seu povo trabalhador, da capacidade de gerar em diversos setores virtudes e, eu diria assim, respaldando-se em eficiência. O comércio é eficiente, o serviço, a educação, a saúde.
O que o governo do estado vem estruturando é como devemos pensar Feira para os próximos 50 anos. O governador tem se preocupado com isso e já há estudos, inclusive recomendados, sobre onde posicionar a nova rodoviária da cidade, onde organizar o hub para a possível conectividade das linhas ferroviárias com o modal rodoviário, e estruturar onde temos vocação para ter um centro de logística mais robusto.
É importante citar que as pessoas, às vezes, não conhecem, mas em Feira temos o Grid de Feira de Santana, o mais estruturado complexo de logística do Norte e Nordeste do país. É uma iniciativa privada de dois irmãos que estão em Feira e, justamente, ele traz para a pauta essa realidade da vocação de Feira como município, que continua, sim, fortalecido, sendo um grande polo logístico e de multimodais.
Quais investimentos do governo federal, como a duplicação da BR-116 e o Minha Casa Minha Vida, devem ter maior impacto na infraestrutura e no desenvolvimento econômico de Feira de Santana nos próximos anos?
O programa Minha Casa Minha Vida, no ciclo histórico dele, a partir do primeiro governo do presidente Lula, entregou à Feira de Santana 60 mil unidades habitacionais, nos padrões Minha Casa Minha Vida 1 e 2, voltadas à classe média. Isso quer dizer que aproximadamente 240 mil pessoas moram hoje em habitações que vieram da política pública do governo federal, sobretudo dos governos do presidente Lula, de Dilma, e agora continua.
Continua porque, no terceiro governo do presidente Lula, já em 2023, foram iniciadas 2.800 unidades em construção neste momento em Feira de Santana, e já tramitam mais 3.400. Portanto, cerca de cinco mil unidades habitacionais devem ser entregues pelo governo federal.
Temos ainda outra importante obra em andamento. Feira é uma cidade que permeia três grandes bacias hidrográficas - a do Subaé, a do Jacuípe e a do Pojuca. A Bacia do Pojuca ainda não foi contemplada com esgotamento sanitário. Neste exato momento, já estamos cadastrando o projeto no PAC, com valor previsto de R$ 384 milhões, para que possamos mitigar a situação. Com isso, vamos elevar a cobertura de esgoto na sede do município para 90%.
O Centro Industrial Subaé é considerado estratégico para a economia de Feira e da Bahia. Qual é a importância dele hoje para o setor produtivo, e o que o governo vem fazendo para melhorar a infraestrutura e garantir mais competitividade às empresas instaladas ali?
Fortalecendo o nosso diálogo com a Coelba, que é um dos gargalos que tínhamos ali para garantir a energia com segurança. Já citei que a requalificação do Centro Industrial Subaé, em sua totalidade, é uma obra de R$ 60 milhões, na qual vamos fortalecer a segurança com iluminação, sinalização horizontal e vertical das vias, e inclusive com a robustez dessas obras que estão em andamento.
Ter um diálogo permanente com o Centro das Indústrias de Feira de Santana é muito importante, porque estamos junto com eles nas vitórias e também nas adversidades. Esse diálogo é um elemento importante para que a cidade continue sendo atrativa e possa trazer mais desenvolvimento e investidores. Temos ainda a estruturação e o interesse do governo em debater e discutir a atração de um modal ferroviário ligando Feira de Santana à Região Metropolitana de Salvador.
É importante citar que muito já foi feito: estamos com a rodoviária de Salvador em Águas Claras, encurtando essa distância em direção a Feira. E agora penso que está chegando o momento. O desafio é longo, mas por ser longo não nos impede de sonhar.
O trem Salvador–Feira é um projeto privado? Como será a modelagem desse projeto e quais são os próximos passos para que essa iniciativa avance?
Existem dois projetos sendo estruturados para chegarmos ao passo mais importante, que é ter realmente a obra, ou seja, a definição de quem vai fazer. Ela pode ser pela linha privada, porque está aberta essa possibilidade.
O Ministério dos Transportes abriu essa lacuna, e os empresários se estruturaram e foram lá aproveitando a janela de oportunidade, que é a inovação do sistema público de obras.
Mas também existe um projeto que está sendo trabalhado pelo governo do Estado, acompanhado pelo núcleo do Ministério dos Transportes. O que vai acontecer primeiro, sinceramente, ainda não sabemos. O que importa é que tem gente trabalhando nisso.
O senhor acredita que pode ser uma Parceria Público-Privada (PPP)?
Sim, pode ser feita uma modelagem que, através de uma PPP, resolva o problema. Pode, de repente, e o governo tem prospectado isso, aparecer uma empresa de capital internacional que queira entrar no processo e fazer o estudo.
O que nos anima é que os estudos e análises que chegam até nós indicam que há viabilidade. E a viabilidade é importante para garantir a manifestação de interesse de investidores. O investidor quer colocar seu dinheiro e ter a certeza do retorno. Quando isso acontece, fica mais factível chegarmos a esse ponto.
Nós acompanhamos de perto o que foi a equação, os gargalos, o desafio enfrentado para colocar em pé, pelo governo, a ponte Salvador–Itaparica, que já é uma realidade. Quem apostou contra já quebrou a cara, mas ela é uma realidade. Assim como tivemos esse desafio, teremos também o desafio de colocar em pé esse projeto e entregá-lo à população de Feira de Santana, de toda a região metropolitana e do interior.
Para encerrar, qual mensagem o senhor gostaria de deixar para os moradores e empresários de Feira de Santana, e que importância a cidade tem para o senhor pessoalmente e para a estratégia de desenvolvimento da Bahia?
Feira tem uma equação perfeita: um setor produtivo trabalhador, com coragem de enfrentar e superar desafios. A cidade tem condições estruturais para continuar crescendo no ritmo que sempre cresceu, e oferece um ambiente de negócio, de trabalho e produtivo bastante animador. Temos desafios, muitos deles sendo mitigados pelo governo.
É importante destacar, por exemplo, as novas escolas públicas de tempo integral que estão sendo distribuídas em Feira de Santana, formando uma nova geração; e também os investimentos em educação na iniciativa privada, que elevam a qualidade do ensino. O próprio engajamento entre o governo municipal e o governo do Estado colabora muito para construirmos uma cidade melhor. Do ponto de vista econômico, tenho certeza de que Feira de Santana, pelos atributos que reúne, continuará crescendo com desenvolvimento pleno e sustentável.
Raio-X
Natural de Feira de Santana, Angelo Almeida é deputado estadual licenciado e atual secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE). Entre 2009 e 2012, exerceu mandato como vereador de Feira de Santana. No Legislativo estadual, desenvolveu diversas iniciativas, entre elas a criação da Frente Parlamentar da Pessoa com Deficiência em seu primeiro mandato e, no segundo, a presidência da Comissão Especial para Avaliação dos Impactos da Pandemia de Covid-19.
Hoje, à frente da SDE, Angelo concentra sua atuação na defesa de uma economia sólida e sustentável, com foco na transição energética e no fortalecimento da presença da Bahia no mercado internacional.
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