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MÚSICA

Adriana Calcanhotto: “As crianças me veem como criança, então o mínimo que posso é fazer disco pra elas”

Cantora e compositora gaúcha decidiu presentear a garotada com mais um disco infantil

Por Eugênio Afonso

12/10/2024 - 8:00 h
Adriana se despe do sobrenome Calcanhoto e assume o heterônimo Partimpim
Adriana se despe do sobrenome Calcanhoto e assume o heterônimo Partimpim -

Além de ser dia da padroeira do Brasil, hoje também se comemora o Dia das Crianças, e apesar de não ter filhos, a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto, 59, decidiu presentear a garotada com mais um disco infantil.

Com o nome de "O Quarto" – clara referência ao numeral, já que é o seu trabalho dedicado às crianças de número 4, e também ao espaço físico onde as crianças podem desbravar seu mundo particular –, o novo álbum já está disponível nas mais importantes plataformas virtuais de música.

Sempre que decide musicar para os pequenos, Adriana se despe do sobrenome Calcanhoto e assume o heterônimo Partimpim – apelido de infância que ela mesma se deu. Neste novo trabalho (os anteriores são Adriana Partimpim, Partimpim Dois e Partimpim Tlês), Partimpim gravou oito músicas, algumas inéditas e outras de compositores consagrados como Rita Lee, Marisa Monte, Arnaldo Antunes e o conterrâneo Vitor Ramil.

Com produção do cantor e compositor carioca Pretinho da Serrinha, o disco abre com a autoral O meu quarto. Depois tem Atlântida (Rita Lee / Roberto de Carvalho), Malala: teu nome é música (Adriana Partimpim), Tô bem (Jovem Dionisio).

Segue com o maracatu Boitatá (Marisa Monte, Mano Wladimir e Arnaldo Antunes), o forró O bode e a cabra (versão de Renato Barros para I want to hold your hand, dos Beatles), Os funis (Cid Campos / Christian Morgenstern), e fecha com Estrela, Estrela, do gaúcho Vitor Ramil.

>>> Festival de Reggae chega a Salvador com mais de 40 shows no Pelourinho

Como diz a própria Partimpim, O Quarto é um disco de música brasileira. Um trabalho que objetiva criar um mundo que não seja o que existe, que possa ser inventado. Inclusive, a cantora convida todo mundo para embarcar na viagem.

A última vez que Calcanhotto esteve em Salvador foi em maio do ano passado, com o show Coisas Sagradas Permanecem, em que homenageava Gal Costa (1945-2022), mas a cantora garante que pretende voltar, desta vez como Partimpim, assim que começar a rodar o País com a turnê de O Quarto, prevista para 2025.

Adriana conversou com o Caderno 2+ por vídeo e falou sobre sua ligação com o universo infantil e com a Bahia. Falou também sobre a importância de ouvir música junto, manter acesa a chama da criança que há em todos nós e seguir produzindo discos para os pequenos.

Qual o critério para a escolha do repertório? Algumas músicas não têm uma batida muito infantil. É isto mesmo?

O trabalho Partimpim é para crianças de qualquer idade. Não gosto muito dessa ideia do escaninho infantil, acho que isso é invenção de adulto. Ela (Partimpim) tem uma lista grande de canções e vai soltando pelos discos afora, agora tem canções que atravessam o caminho. Atlântida (Rita Lee), por exemplo, sempre esteve na lista. O Tô Bem é uma canção que se atravessou esse ano.

Você considera o disco temático?

Não. Ele tem uma característica que fala muito da coisa do sonho e da lenda, vai por esse caminho

O que te fascina mais neste trabalho, musicalmente falando? Ele tem samba-canção, reggae, forró. A ideia é ter uma sonoridade mais rica?

É um disco de música brasileira. Eu chamei o Pretinho (da Serrinha) porque gosto de muitas coisas que ele faz, e sobretudo este disco que ele produziu do Xande de Pilares cantando Caetano. É uma obra-prima, um resultado inacreditável. Quando ouvi o disco, eu quis aquilo para a Partimpim. O interesse dele (em O Quarto) era fazer um disco de música brasileira e não um disco de samba. A gente tem muita coisa em comum sobre o cruzamento dos ritmos. Temos muitas afinidades que tornaram o trabalho prazeroso. É um encontro mesmo, sabe, tem contribuições dos dois que produzem uma terceira coisa.

Adriana Calcanhotto - cantora

Partimpim dá um recado na abertura do disco: ‘E nós vamos inventar o mundo’. Que lugar é esse?

Um mundo que não seja o que existe. Um mundo por fazer, a ser inventado. Todo mundo que tenha uma criança dentro pode embarcar. Minha implicância com o escaninho música infantil é a ideia de que as crianças vão ouvir música só entre elas e isto não corresponde à realidade. O Partimpim tem essa ideia de que todo mundo tem uma criança em algum lugar e o bom é todo mundo ouvir música junto. A experiência mais feliz da minha infância era o momento de todo mundo ouvir música junto.

E geralmente as músicas dos pais, dos adultos...

E tem isso, a gente ouve as músicas dos pais e gosta daquilo. As crianças elegem canções que não foram feitas para criança, e este é um dos trabalhos Partimpim, gravar as músicas que elas elegem, mas que, a princípio, idealmente, não foram escritas para elas.

Por que gosta, e aposta sempre na produção de discos infantis, mesmo não sendo mãe?

Não tenho filhos, mas adoro as crianças e sou criança. Elas me veem como criança, então o mínimo que posso fazer é disco pra elas.

A garotada participou do disco ou você fez tudo sozinha?

Elas vêm cantar, fazer bagunça, timbrar o disco. Na verdade, eu gosto de fazer surpresa e este disco é uma surpresa para o Dia das Crianças. E criança, se a gente leva alguns para o estúdio, eles contam pra todo mundo e aí estraga a surpresa (risos).

De onde vem o heterônimo Partimpim?

Quando eu tinha três, quatro anos de idade e as pessoas perguntavam como era o meu nome, eu dizia Adriana Partimpim. Eu nem lembro disso, meu pai que sempre lembrou e me chamou de Partimpim a vida inteira. Nunca me chamou de Adriana. Não sei o que quer dizer, mas se eu dissesse Adriana Calcanhotto era igual a meu pai e meu irmão, então aquilo não me traduzia. Partimpim era eu (risos). E também é uma memória afetiva.

Qual sua relação com a Bahia, ela também está presente em seus discos infantis?

Minha relação com a Bahia é muito profunda porque desde que parei de ouvir as músicas que meus pais ouviam, e comecei a escolher a minha própria música, fiquei fascinada pela música produzida na Bahia. Aí fui ouvir Dorival Caymmi e me apaixonei pelos artistas da palavra. Por Caetano, por Gil, essa geração toda me formou. Sou apaixonada por Gal, Bethânia. Tudo que faço tem essa música como fundadora.

Adriana Calcanhotto - cantora

Depois deste disco, vem alguma coisa exclusiva para nós, adultos?

Exclusiva não. O que estou preparando é o show Partimpim, pro ano que vem, que é pra criança até os 90, 100 anos. Vou viajar o Brasil com ele.

Espero que o palco principal do Teatro Castro Alves esteja pronto até lá.

A Concha tem uma catarse ali, todo mundo canta, é muito emocionante, mas o Castro Alves também é um teatro perfeito, um lugar maravilhoso.

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