MÚSICA
Adriana Calcanhotto: “As crianças me veem como criança, então o mínimo que posso é fazer disco pra elas”
Cantora e compositora gaúcha decidiu presentear a garotada com mais um disco infantil
Por Eugênio Afonso
Além de ser dia da padroeira do Brasil, hoje também se comemora o Dia das Crianças, e apesar de não ter filhos, a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto, 59, decidiu presentear a garotada com mais um disco infantil.
Com o nome de "O Quarto" – clara referência ao numeral, já que é o seu trabalho dedicado às crianças de número 4, e também ao espaço físico onde as crianças podem desbravar seu mundo particular –, o novo álbum já está disponível nas mais importantes plataformas virtuais de música.
Sempre que decide musicar para os pequenos, Adriana se despe do sobrenome Calcanhoto e assume o heterônimo Partimpim – apelido de infância que ela mesma se deu. Neste novo trabalho (os anteriores são Adriana Partimpim, Partimpim Dois e Partimpim Tlês), Partimpim gravou oito músicas, algumas inéditas e outras de compositores consagrados como Rita Lee, Marisa Monte, Arnaldo Antunes e o conterrâneo Vitor Ramil.
Com produção do cantor e compositor carioca Pretinho da Serrinha, o disco abre com a autoral O meu quarto. Depois tem Atlântida (Rita Lee / Roberto de Carvalho), Malala: teu nome é música (Adriana Partimpim), Tô bem (Jovem Dionisio).
Segue com o maracatu Boitatá (Marisa Monte, Mano Wladimir e Arnaldo Antunes), o forró O bode e a cabra (versão de Renato Barros para I want to hold your hand, dos Beatles), Os funis (Cid Campos / Christian Morgenstern), e fecha com Estrela, Estrela, do gaúcho Vitor Ramil.
>>> Festival de Reggae chega a Salvador com mais de 40 shows no Pelourinho
Como diz a própria Partimpim, O Quarto é um disco de música brasileira. Um trabalho que objetiva criar um mundo que não seja o que existe, que possa ser inventado. Inclusive, a cantora convida todo mundo para embarcar na viagem.
A última vez que Calcanhotto esteve em Salvador foi em maio do ano passado, com o show Coisas Sagradas Permanecem, em que homenageava Gal Costa (1945-2022), mas a cantora garante que pretende voltar, desta vez como Partimpim, assim que começar a rodar o País com a turnê de O Quarto, prevista para 2025.
Adriana conversou com o Caderno 2+ por vídeo e falou sobre sua ligação com o universo infantil e com a Bahia. Falou também sobre a importância de ouvir música junto, manter acesa a chama da criança que há em todos nós e seguir produzindo discos para os pequenos.
Qual o critério para a escolha do repertório? Algumas músicas não têm uma batida muito infantil. É isto mesmo?
O trabalho Partimpim é para crianças de qualquer idade. Não gosto muito dessa ideia do escaninho infantil, acho que isso é invenção de adulto. Ela (Partimpim) tem uma lista grande de canções e vai soltando pelos discos afora, agora tem canções que atravessam o caminho. Atlântida (Rita Lee), por exemplo, sempre esteve na lista. O Tô Bem é uma canção que se atravessou esse ano.
Você considera o disco temático?
Não. Ele tem uma característica que fala muito da coisa do sonho e da lenda, vai por esse caminho
O que te fascina mais neste trabalho, musicalmente falando? Ele tem samba-canção, reggae, forró. A ideia é ter uma sonoridade mais rica?
É um disco de música brasileira. Eu chamei o Pretinho (da Serrinha) porque gosto de muitas coisas que ele faz, e sobretudo este disco que ele produziu do Xande de Pilares cantando Caetano. É uma obra-prima, um resultado inacreditável. Quando ouvi o disco, eu quis aquilo para a Partimpim. O interesse dele (em O Quarto) era fazer um disco de música brasileira e não um disco de samba. A gente tem muita coisa em comum sobre o cruzamento dos ritmos. Temos muitas afinidades que tornaram o trabalho prazeroso. É um encontro mesmo, sabe, tem contribuições dos dois que produzem uma terceira coisa.
Partimpim dá um recado na abertura do disco: ‘E nós vamos inventar o mundo’. Que lugar é esse?
Um mundo que não seja o que existe. Um mundo por fazer, a ser inventado. Todo mundo que tenha uma criança dentro pode embarcar. Minha implicância com o escaninho música infantil é a ideia de que as crianças vão ouvir música só entre elas e isto não corresponde à realidade. O Partimpim tem essa ideia de que todo mundo tem uma criança em algum lugar e o bom é todo mundo ouvir música junto. A experiência mais feliz da minha infância era o momento de todo mundo ouvir música junto.
E geralmente as músicas dos pais, dos adultos...
E tem isso, a gente ouve as músicas dos pais e gosta daquilo. As crianças elegem canções que não foram feitas para criança, e este é um dos trabalhos Partimpim, gravar as músicas que elas elegem, mas que, a princípio, idealmente, não foram escritas para elas.
Por que gosta, e aposta sempre na produção de discos infantis, mesmo não sendo mãe?
Não tenho filhos, mas adoro as crianças e sou criança. Elas me veem como criança, então o mínimo que posso fazer é disco pra elas.
A garotada participou do disco ou você fez tudo sozinha?
Elas vêm cantar, fazer bagunça, timbrar o disco. Na verdade, eu gosto de fazer surpresa e este disco é uma surpresa para o Dia das Crianças. E criança, se a gente leva alguns para o estúdio, eles contam pra todo mundo e aí estraga a surpresa (risos).
De onde vem o heterônimo Partimpim?
Quando eu tinha três, quatro anos de idade e as pessoas perguntavam como era o meu nome, eu dizia Adriana Partimpim. Eu nem lembro disso, meu pai que sempre lembrou e me chamou de Partimpim a vida inteira. Nunca me chamou de Adriana. Não sei o que quer dizer, mas se eu dissesse Adriana Calcanhotto era igual a meu pai e meu irmão, então aquilo não me traduzia. Partimpim era eu (risos). E também é uma memória afetiva.
Qual sua relação com a Bahia, ela também está presente em seus discos infantis?
Minha relação com a Bahia é muito profunda porque desde que parei de ouvir as músicas que meus pais ouviam, e comecei a escolher a minha própria música, fiquei fascinada pela música produzida na Bahia. Aí fui ouvir Dorival Caymmi e me apaixonei pelos artistas da palavra. Por Caetano, por Gil, essa geração toda me formou. Sou apaixonada por Gal, Bethânia. Tudo que faço tem essa música como fundadora.
Depois deste disco, vem alguma coisa exclusiva para nós, adultos?
Exclusiva não. O que estou preparando é o show Partimpim, pro ano que vem, que é pra criança até os 90, 100 anos. Vou viajar o Brasil com ele.
Espero que o palco principal do Teatro Castro Alves esteja pronto até lá.
A Concha tem uma catarse ali, todo mundo canta, é muito emocionante, mas o Castro Alves também é um teatro perfeito, um lugar maravilhoso.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes