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JUNTOS DE NOVO

Cascadura volta ao palco e promete emoção: "Quem já viu, vai pirar"

Grupo encerrou suas atividades oficialmente em 2015

Por Maria Raquel Brito*

16/05/2025 - 6:00 h
Clamor do público e vontade de fazer música não têm permitido banda se separar
Clamor do público e vontade de fazer música não têm permitido banda se separar -

Em agosto de 2022, centenas de pessoas se reuniram em um Largo da Tieta lotado, no Pelourinho, para celebrar os 30 anos da banda Cascadura. Lá, um anúncio que ninguém queria ouvir: aquele seria o adeus definitivo dos palcos. O destino e os fãs, porém, tinham outros planos para o grupo, que faz este mês a segunda edição do projeto Juntos Somos Nós, com shows amanhã, 17, e no próximo sábado, 24, na Praça das Artes, no Pelourinho.

O Cascadura encerrou suas atividades oficialmente em 2015. Com os integrantes em diferentes pontos do mundo, cada um seguindo a sua própria estrada, estava claro para eles que os encontros não seriam mais tão comuns. O clamor do público e a vontade de fazer música, porém, não têm permitido que eles fiquem muito tempo separados.

Em cada oportunidade de dar um pulo por aqui, eles tentam aproveitar e colocar o som em dia. A última vez que o Cascadura se reuniu no palco foi em 2024, na primeira edição do Juntos Somos Nós, protagonizada por Fábio Cascadura, o Fabão (fundador, vocalista, guitarrista e compositor da banda), Thiago Trad (baterista), Du Txai (guitarra e vocais), Cadinho (baixo e vocais), Martin Mendonça (guitarra e vocais) e Tadeu Mascarenhas (teclados e vocais) para celebrar junto ao público fiel da banda.

“É o público que faz a gente montar pelo menos uma vez por ano esse show. Claro que a gente faz também porque tem muito prazer em reunir essas seis pessoas, que hoje é muito raro, porque cada um está em um canto. Acho que virou uma reunião de amigos, e o sentido do amigo se estende à plateia, que vem acompanhando a banda nesses anos todos”, afirma Thiago.

Segundo ele, o projeto, batizado em homenagem à música de mesmo nome do álbum Bogary (2006), remete à unidade dos integrantes enquanto Cascadura, mas, acima de tudo, ao laço entre banda e fãs. “É uma ideia que simboliza o público e a banda com um corpo só”, define o baterista.

Nesta edição, em que eles sobem ao palco com a mesma formação de 2024, uma novidade: dois shows, com diferentes propostas e convidados. Amanhã, se juntam à Cascadura o artista Ronei Jorge e Jajá Cardoso, da banda Vivendo do Ócio. Ambos fazem parte da história do grupo, tanto por serem amigos próximos como por colaborações musicais: gravaram com o Cascadura para o álbum Aleluia (2012), nas faixas Dava Pra Ver e O Delator, respectivamente. “Ter esses dois parceiros e amigos no show é um privilégio, porque eles ajudam a gente a contar um pouquinho da trajetória da banda e também da história do rock na Bahia nessa nossa geração. A gente gostaria de chamar todos, mas esses dois, eu acho que representam muito bem os dois momentos do rock baiano que nós vivemos, os anos 90 e o começo dos anos 2000”, diz Fabão.

Já no sábado seguinte, dia 24, a apresentação ganha tom de homenagem, em um tributo ao produtor musical argentino Nestor Madrid, um dos nomes por trás da axé music e parceiro de longa data do Cascadura e de outras importantes bandas baianas, como Úteros em Fúria, The Dead Billies e brincando de deus. Foi graças a ele que o então Dr. Cascadura entrou em um estúdio profissional pela primeira vez, e assim surgiram Dr. Cascadura #1, lançado em 1997 e Entre!, de 1999.

Para o tributo, o show terá a participação mais que especial de Paulinho Oliveira, que foi guitarrista da banda entre 1996 e 1999. “Paulinho foi muito ativo na banda, foi co-autor de várias canções importantes daquela primeira fase, que foi a fase em que o Nestor produziu os discos. É muito simbólico o Paulinho do Cascadura. Quem viveu, teve aquela memória de Paulinho como um ‘guitar hero’ da banda. Era uma referência, era apoteótico. Quem já viu vai pirar, porque vai ter a chance de ver Paulinho em ação de novo com o Cascadura. E quem nunca viu, tenho certeza vai ter um impacto tremendo, porque o cara é muito bom”, completa o vocalista.

Além das participações, o público verá um repertório pensado nos mínimos detalhes, que não será igual nos dois dias. A decisão foi tomada por eles enquanto pensavam em como trazer um equilíbrio, porque as músicas que os fãs consideram indispensáveis não caberiam numa só noite.

Rock ‘made in Bahia’

Ao longo dos anos, o Cascadura acumulou experiências Brasil afora. Tocaram no primeiro Lollapalooza Brasil, em 2012, e marcaram forte presença nos circuitos de festivais nos anos 2000. E uma grande diferença da banda sempre foi a preferência por fazer uma música autêntica, original e, acima de tudo, em português. Numa época em que algumas das principais referências das bandas eram artistas britânicos e que havia a tendência de cantar em inglês – alguns exemplos são o Sepultura e o Viper –, eles seguraram firme suas próprias inspirações, que vão do soul ao candomblé.

“Você vai ver nos anos 1980 muitas bandas de São Paulo e Brasília buscando referências na literatura europeia, se referindo a Rimbaud, Oscar Wilde. A gente queria falar em comunicação com autores latino-americanos, então o Cascadura nos primeiros discos tem músicas inspiradas em Gabriel García Márquez e em autores brasileiros também, porque era a nossa forma de desenvolver nosso texto. A gente foi achando as pessoas que se interessavam por isso e as pessoas que se interessavam foram nos encontrando também”, rememora Fabão.

Em Aleluia, quinto disco do grupo, a maior referência foi a cidade de Salvador. Fabão lembra de idas às bibliotecas da cidade e a terreiros de candomblé para conversar com as pessoas de dentro e entender melhor suas vivências. Foi dessa pesquisa sobre a cidade que nasceu o desejo do vocalista de voltar para o mundo acadêmico e se tornar historiador.

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Além da meta de fazer uma música genuína, sempre foi importante para eles que também não houvesse repetição. Ao longo de três décadas, a banda teve diferentes momentos: beberam da fonte setentista nos primeiros anos, ainda como Dr. Cascadura, depois exploraram sons mais pesados, sempre com espaço para fugir do óbvio, falar de amor e das doçuras e dissabores de Salvador.

“Quando a gente estava na ativa, estávamos o tempo inteiro criando um universo. Porque uma banda autoral, se ela não criar um universo próprio, ela acaba sucumbindo à coisa da moda, da tendência. E o Cascadura sempre teve uma assinatura, desde a primeira fase”, define Thiago.

A diversidade é, segundo Fabão, o motivo dos discos parecerem tão diferentes, mas numa distinção complementar, de forma que, apresentados juntos no repertório dos shows, transparecem a verdadeira essência do Cascadura. “Quando a gente está tocando, tudo vira uma narrativa única. Todos os momentos acabam tendo um mesmo narrador, contando capítulos diferentes de uma história”, diz Fabão.

Capítulos esses que se mostram atemporais e fazem com que a banda atraia públicos de todas as idades. Nas redes sociais, é fácil achar um comentário pedindo o lançamento de camisas da banda em tamanhos infantis, para a “nova geração de fãs”.

Esse é um fenômeno que chama a atenção dos integrantes e que, para eles, diz muito sobre o legado do Cascadura. “Eu lembro de um fã que foi no show do ano passado com o filho de 18 anos. Ele disse para nós: ‘esse é o primeiro show dele. Ele já conhece a música desde guri, mas eu não deixava ele vir. Agora que já tem 18 anos, pode’. E isso é massa, que eles tenham essa referência”, diz Fabão.

As despedidas

Falando sobre o retorno aos palcos, Thiago brinca que existe uma “maldição do último show”. Quando, em 2022, Fabão anunciou no palco, de surpresa, que aquela era a última apresentação do Cascadura, ele pensou: “Isso não vai dar certo, porque esse show foi muito bom”. Ao longo das três décadas de história, a banda parece ter se deparado com muitas “maldições” de despedida, seja com shows ou álbuns, mas estes sempre estiveram mais para fortúnios que maldições.

O lançamento de Bogary, em 2006, é um grande exemplo. O álbum nasceu da vontade de acabar com a banda, como eles mesmos definem. Estavam voltando de um show em São Paulo, decididos a fazer um último disco com músicas que já estavam prontas e depois anunciar o fim do Cascadura. Gravaram e mixaram em menos de 20 dias. Nesse meio tempo, porém, o disco anterior chegou até Lobão, que comandava a revista de variedades OutraCoisa, na qual lançava artistas da cena com seus CDs encartados.

“A revista queria muito que cada edição tivesse um representante de algum lugar diferente, então o Lobão comprou essa história de lançar uma banda da Bahia. A OutraCoisa ofereceu uma exposição muito boa, porque você não precisava ir numa loja para ver o disco, ele estava na rua, nas bancas de revista. Nessa, a gente também chamou atenção de nomes chaves do rock brasileiro, como Nando Reis, que acabaram nos dando uma chancela”, conta Fabão.

“A gente fala que renasceu como uma fênix, porque a banda estava semimorta e de repente voltou com um álbum muito coeso”, completa Thiago. “E então a gente teve Caetano Veloso, por exemplo, que já era fã da banda, querendo começar a ir em shows e ficando até o final, de madrugada, para vir falar com a gente depois”.

Próximos passos

Imagem ilustrativa da imagem Cascadura volta ao palco e promete emoção: "Quem já viu, vai pirar"
| Foto: Denisse Salazar | Ag. A TARDE

Para o futuro do Cascadura, os integrantes têm alguns planos em mente. Por ora, a atenção está voltada para a preservação do legado da banda: produzir versões em vinil dos discos, alimentar a lojinha com produtos que os fãs adoram (como as camisetas) e disponibilizar toda a discografia no Spotify.

Mas, também há outras atividades sendo discutidas entre eles para 2026, ano que marca duas décadas do lançamento de Bogary, que marcou para eles uma virada de chave. “É uma data muito significativa. Bogary é um álbum que sai sempre nas listas de principais discos de rock da Bahia, porque de fato marca essa fase, uma época muito legal do rock baiano. Marcou realmente uma mudança de geração”, diz Thiago. Para a comemoração, a intenção é expandir os shows e levá-los para outras cidades, sobretudo nordestinas, mas também para lugares como São Paulo e Rio de Janeiro.

Hoje, Fabão mora no Canadá, onde integra a comunidade acadêmica de Toronto. Já Thiago Trad vive entre Salvador, Nova York, e Vale do Capão, na Chapada Diamantina. Com as agendas de cada integrante, é difícil para eles dizer se o futuro guarda possibilidades de novos álbuns e músicas inéditas. O material existe – Fabão nunca para de compor, seja em solo brasileiro ou no Canadá – e o desejo de continuar reunindo a banda também, especialmente com a formação atual, que tem química de sobra. “Agora a gente está indo para mais dois shows. O ‘último último’ show. E podem ser os últimos shows, de fato, mas também podem não ser. A gente nunca sabe. Nossa vontade é que continue”, diz o baterista.

“Eu acho que o Cascadura simboliza hoje esse encontro de várias gerações e gêneros. Todo mundo tem uma relação com Cascadura e a gente também se sente parte das histórias de todo mundo que vem contando alguma história musical na Bahia dos anos 1990 para cá. A gente está aí com casa lotada, podendo fazer um show muito honesto e de qualidade. Podendo dizer, sem falsa modéstia, que esse é o melhor que a Cascadura pode oferecer: os melhores músicos, o melhor som”, finaliza Thiago.

CASCADURA: ‘Juntos Somos Nós 2025’ / amanhã e sábado (24), 20h / Participações: Ronei Jorge e Jajá Cardoso (Vivendo do Ócio, amanhã) e Paulinho Oliveira (dia 24) / Discotecagem: BigBross / Praça das Artes (Beco do Porvir, 4, Pelourinho) / Ingressos entre R$ 65 e R$ 150 / Vendas: Sympla

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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