Cartunistas de A TARDE lamentam ataque à revista francesa
Simanca
Cartunista Simanca possui exemplar da Charlie Hebdo (Foto: Mila Cordeiro)
Tenho um exemplar original da Charlie Hebdo de fevereiro de 2006 com uma charge de Cabu sobre Maomé com o título "Maomé ultrapassado pelos fundamentalistas". O profeta está chorando com as mãos cobrindo o rosto e dizendo "É difícil ser amado por idiotas". Depois deste covarde atentado terrorista poderia se acrescentar ao desenho: "É difícil ser amado por idiotas e assassinos".
O fundamentalismo religioso é inimigo de todas as liberdades, historicamente o foi, e sempre o continuará sendo. O presidente francês François Hollande disse em 2007: "insuportável a ideia de que existam tabus dos quais não se pode falar. Estamos em um país laico; a tradição de fazer caricaturas do fato religioso remonta há mais de um século e o delito de blasfêmia não existe".
Hoje é um dia triste para a liberdade de imprensa, para a sátira e o humor. Perdemos vários amigos e colegas. Não nos intimidamos nem nos intimidaremos com os fundamentalistas. A luta (a charge) continua! Je suis Charlie!!!
Cau Gomez
Cau Gomez (D) com o cartunista Wolinski (E) e o cartunista Kemchs em 1999, na cidade de Havana (Foto: Arquivo Pessoal)
Sob os efeitos do vil e covarde atentado que vitimou mais de dez pessoas, dentre eles quatro cartunistas renomados, na sede da revista satírica Charlie Hebdo, escrevo atônito e revoltado.
O mundo carece de respostas imediatas para banir definitivamente atos insanos e obscuros que nos feriram apontando a marca da intolerância e covardia. O bom humor que nos leva ao riso não pode se esconder.
Wolinski foi um representante incansável e irreverente do humor crítico. Tive a honra de conhecê-lo em Havana, no ano de 1999, onde fizemos parte do Júri do Festival de Humorismo de San Antonio de los Baños, em Cuba.
Apesar de sustentar um ar sério, era divertido e admirador do traço e humor despojado do cartunista Jaguar, sobre quem contou diversas aventuras que tiveram juntos. É vital para a prática da liberdade de expressão, da arte do cartum político e satírico, que a democracia volte a sorrir.
Os profissionais do cartum, da imprensa e de todas as sociedades não podem continuar a ser reféns de grupos que matam quem discorda de suas ideologias.