OPINIÃO
Esse é o maior enigma criado por Vale Tudo após Odete ficar viva em 2025
Artigo apresenta crítica ao desfecho do remake da "novela das novelas" da Globo

Por Luiz Almeida

Vale Tudo chegou ao fim como um banquete em que o cheiro é irresistível, mas o prato principal nunca chega. O remake da “novela das novelas” da Globo dominou as redes sociais, gerou conversas acaloradas e bateu recordes de merchandising. No entanto, conseguiu decepcionar quem esperava o renascimento do espírito provocador de Gilberto Braga.
O resultado foi uma obra fraca no visual e narrativamente vazia, sufocada por escolhas equivocadas e, principalmente, pelo apagamento inexplicável de sua protagonista.
Manuela Dias, baiana e altamente reconhecida pela série Justiça, parecia disposta a atualizar Vale Tudo com uma releitura moderna e politizada. Mas entre câmeras tremidas, discursos morais e tramas que se contradiziam a cada semana, a novela virou uma colcha de remendos (e de anúncios).
A Globo, claro, comemorou os mais de R$ 200 milhões em publicidade e as 87 ativações de marcas. Para a emissora, Vale Tudo foi um sucesso comercial. Para o público, um comercial de luxo com 173 capítulos de duração.
Mas o grande "crime" de Manuela Dias foi outro: ela matou Raquel. Taís Araújo começou a novela no centro da história, como símbolo da mulher forte, ética e batalhadora. Aos poucos, porém, foi sendo engolida pelo próprio roteiro. Quando não desaparecia por capítulos inteiros, surgia apenas para comentar a vida dos outros. O símbolo da esperança virou figurante de luxo.
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O apagamento de Raquel ficou ainda mais gritante nas últimas semanas, quando até a morte de Odete Roitman perdeu o impacto. O mistério, reencenado com talento por Débora Bloch, foi desperdiçado por uma explicação frouxa e um final tão confuso que nem a própria Odete entenderia.
O público esperava tensão e genialidade. Recebeu uma ambulância e um roteiro pedindo socorro.
Remake de Vale Tudo deixou a desejar
É inegável que Vale Tudo deu audiência e gerou debate. Mas reverberou mais pela nostalgia do original e pela força do marketing do que por mérito próprio. O remake poderia ter sido um retrato atualizado do Brasil, ainda corrupto, desigual e cínico. Preferiu ser um desfile de marcas, uma sucessão de histórias mal costuradas e um festival de oportunidades perdidas.
No fim, o público não queria só saber quem matou Odete Roitman. Queria entender quem matou a própria essência de Vale Tudo. E por que Raquel, símbolo da ética e da esperança, foi deixada para morrer esquecida no roteiro.
Gilberto Braga escreveu uma novela em 1988 sobre o Brasil que não deu certo. Manuela Dias fez uma versão sobre a Globo que deu lucro. E, em 2025, o verdadeiro assassinato não foi o de Odete, mas o da alma da teledramaturgia brasileira.
*Luiz Almeida é jornalista e analista de televisão
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