POLÍCIA
PCC usava motéis, postos e maquininhas para lavar dinheiro
Sofisticado esquema envolvia retificações de Imposto de Renda e contas de fintechs

Por Redação

Uma investigação da Receita Federal revelou o sofisticado esquema do Primeiro Comando da Capital (PCC) para movimentar recursos ilícitos usando estabelecimentos comerciais comuns em São Paulo.
A Operação Spare, anunciada nesta quinta-feira, 25, detalhou como motéis, postos de combustíveis e lojas de conveniência serviam de fachada para transferir milhões para fintechs controladas pelo grupo criminoso.
Segundo a superintendente da Receita Federal em São Paulo, Márcia Meng, as maquininhas de cartão utilizadas eram compradas no mercado, mas operavam com softwares de fintechs ligadas ao PCC.
"Importante saber que essas maquinhas, da forma como foram usadas até aqui, eram hardwares comprados no mercado e o software dentro era da própria fintech. De forma que você, ao fazer uma compra nas lojas, pagando o motel ou indo ao posto de gasolina, você estava introduzindo direto na conta da fintech o valor devido."
Evolução do modus operandi
O esquema permitia que os valores captados fossem aplicados em bens de alto valor, como carros de luxo, iates, helicópteros e imóveis, configurando uma forma de lavagem sofisticada de patrimônio. Entre 2020 e 2024, motéis ligados ao PCC movimentaram mais de R$ 450 milhões, muito acima da receita oficial declarada.
O modus operandi do grupo evoluiu nos últimos anos. Antigamente, utilizavam empresas de fachada sem operação real. Hoje, segundo a Receita, contam com redes de motéis, franquias e empreendimentos da construção civil que, embora operacionais, apresentavam indícios claros de lavagem de dinheiro.
Entre 2020 e 2024, 21 CNPJs vinculados a 98 estabelecimentos movimentaram cerca de R$ 1 bilhão, emitindo apenas R$ 550 milhões em notas fiscais e recolhendo apenas 2,5% em tributos federais.
Bens de luxo e patrimônio irregular
Entre os bens adquiridos pelo grupo estão:
- Iate de 23 metros transferido entre empresas de fachada;
- Helicóptero modelo Augusta A109E;
- Lamborghini Urus;
- Terrenos onde funcionam diversos motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões.
O empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como Flavinho, é apontado como líder do esquema de adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro. A Receita identificou 267 postos ainda ativos que movimentaram R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, recolhendo apenas 0,1% desse montante em tributos federais.
Além disso, foram detectadas retificações estratégicas em declarações de Imposto de Renda, com inclusão de altos valores em fichas antigas sem pagamento de impostos, permitindo que familiares do principal alvo aumentassem patrimônio irregularmente em R$ 120 milhões.
Operação Spare e mandados cumpridos
A Operação Spare cumpre 25 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Santo André, Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. Participam da ação 64 servidores da Receita Federal, 28 do Ministério Público por meio do Gaeco, representantes da Sefaz-SP e cerca de 100 policiais militares.
As investigações também apontam conexões com outros esquemas do PCC, incluindo a Operação Carbono Oculto e a Operação Rei do Crime, evidenciando a complexidade e abrangência das operações financeiras ilegais da facção.
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