AGENDA EM SALVADOR
“A gente não pode se cansar”, diz Anielle sobre o combate ao racismo
Ministra da Igualdade Racial participa de encontro que busca discutir o enfrentamento ao racismo religioso
Por João Guerra e Lucas Franco
Durante o início do seu discurso na abertura do primeiro encontro regional “Abre Caminhos”, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, falou da importância de combater as formas de racismo na sociedade brasileira, se pautando em dados no enfrentamento a essa questão.
“As pessoas se espantam quando a gente fala que temos um banco de currículos com quase 10 mil currículos. Mulheres pretas, negras de todos os lugares, homens negros, capacitados, prontos pra entrarem no mercado de trabalho. É por isso que a gente defende cotas raciais. A gente tem dados. Então os dados comprovam que a gente precisa combater o racismo religioso. Os dados comprovam que a gente precisa fortalecer as cotas raciais. Mas os dados também comprovam que infelizmente a violência política desse país tem se alastrado desde 2016”, destaca a ministra.
Segundo ela, uma das formas de combater o racismo, é fortalecer o povo negro de olho no futuro, mas se orientando pela ancestralidade. “A gente precisa que os nossos caminhos sejam abertos, mas que não sejam passageiros, porque a política vai passar mas a gente precisa cada vez mais fortalecer e fincar os nossos passos pro futuro. A gente sabe que a gente é guiado pela ancestralidade e a gente precisa cada vez mais fortalecer os nossos passos pra que as próximas gerações possam viver uma vida mais digna e melhor nesse país”, avalia.
Franco defendeu ainda, que as formas com a qual as minorias étnico-raciais ainda são tratadas no país, é o principal motivo de o Ministério da Igualdade Racial existir. Nesse sentido, argumenta, ela estará onde precisar para desempenhar o seu papel de titular da pasta.
“É por isso que é importante a gente estar em todos os lugares onde tem população negra desse país. É por isso que tem que estar nos quilombos. Tem que estar na Bahia. Quantas vezes for chamada tem que vir. E eu quero dizer pra vocês que a gente tem lutado diariamente pra que a gente possa garantir todas as prioridades que o nosso povo tem e precisa”, pontua.
Além disso, registrou as frentes nas quais o ministério tem como prioridades. “Quando nós entramos naquele gabinete em 1º de janeiro, a gente precisou fazer uma lista de emergências, o que a gente precisava atender. Então que vai desde o combate a fome até o combate ao racismo religioso, a intolerância religiosa, combater esse racismo, mas também que passa por empregabilidade do nosso povo, passa pelo enfrentamento do genocídio, passa por educação e passa por tantas outras coisas por sermos transversais que a gente não pode sucumbir e não pode se cansar de fazer”.
E finalizou: “uma coisa eu garanto a vocês, e eu sempre tenho repetido isso, que enquanto a gente tiver sangue correndo nas nossas veias, enquanto a gente tiver força pra lutar, a gente vai estar, até o último dia, fortalecendo esse legado, não só de Marielle, de Dandara, mas de todas que estão aqui. É preciso honrar as mulheres enquanto elas estão vivas”.
Abre Caminhos
Salvador sedia o primeiro encontro regional Abre Caminhos. A iniciativa do Ministério tem o objetivo de ouvir lideranças e comunidades tradicionais de matriz africana e povo de terreiro para elaborar as políticas de enfrentamento ao racismo religioso que atinge fiéis de religiões afro-brasileiras em todo o país.
“É muito simbólico iniciarmos os encontros regionais Abre Caminhos pela Bahia, porque é um dos estados do Brasil onde temos uma forte presença dos povos de matriz africana e de terreiro, mas também onde o racismo religioso se expressa com toda a sua força”, diz a ministra Anielle Franco.
A primeira etapa do encontro reúne representantes de Alagoas, Bahia e Sergipe. Ao todo, são esperadas cerca de 100 pessoas que se reunirão em dois dias em grupos de trabalho, onde a equipe da Diretoria de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Povos de Terreiro vai ouvir e sistematizar as demandas apresentadas em cumprimento a primeira etapa do Grupo de Trabalho Interministerial de Enfrentamento ao Racismo Religioso.
Alagoas, Bahia e Sergipe somados têm cerca de 2 mil comunidades de matriz africana, somando um total estimado de 160 mil pessoas.
“A liberdade religiosa e o discurso da laicidade ainda estão em disputa para nós, Povos de Terreiros, é importante reescrever a nossa história a partir de nós", defende a diretora de políticas para povos e comunidades tradicionais de matriz africana, Luzi Borges.
Após todas as etapas dos encontros regionais, um encontro nacional será realizado em Brasília, culminando com o lançamento do programa de enfrentamento ao racismo religioso do governo federal.
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